sábado, 29 de fevereiro de 2020

[Resenha] EP "Sol Servus": Nova sonoridade em dueto, de Ciberpajé, para os tempos bombásticos atuais! Por Gazy Andraus


“Sol Servus” de Ciberpajé (em parceria com o projeto musical "Death Cult Devotion" do musicista e ativista da cena darkwave, André Gorium, de Cuiabá, Mato Grosso). 

O trabalho traz uma retumbante ode que reflete os tempos atuais! Degradação ética, destruição da natureza com a conivência dos que governam demagogicamente em nome da democracia (que em verdade se traveste de ditadura, na distorcida mente destes falsos governantes) devem ter insuflado o processo criativo de Edgar Franco, em sua correspondência autoral como Ciberpajé! 

Assim exponho agora, conforme fui sentindo as sonoridades, vertendo em significados pessoais, como uma espécie de resenha crítica (mas que não deve ser tida como única, pois pessoal), a fim de incentivar a que ouçam o mini CD “Sol Servus” que tem audição gratuita. Determinado trecho do Aforismo I, devido à letra, lembrei-me do filme Avatar em que uma manada de seres similares a gigantescos rinocerontes marcham contra os atos desestabilizadores dos humanos que invadem aquele outro plano paralelo. Mas a trilha é bem interessante e reflexiva, pois coloca-nos em situação de observador das cenas que a letra da “canção” nos ribomba. 

Aforismo II é mais denso sonoramente, porém, tal qual Nietzsche, nos traz uma visão de que devemos olhar detidamente ao abismo, a que ele nos olhe de volta. Aforismo III, também denso, nos mostra que nós mesmos – cada um de nós – é senhor de si, e não deveria ser comandado por falsos seres que deturpam nossa natureza. Mostra-nos que somos nós que criamos nossas realidades, e mais ninguém o fará...para o bem, ou para o mal, a depender de nosso fluxo energético! A partir dos 2’ desta trilha última, com apenas o instrumental, torna-se mais empolgante e até arrepiante em sua beleza inata! 

Enfim, uma arte em dueto que deve refletir ambos os autores, pois enquanto na sonoridade mesclada de Ciberpajé/Gorium, reverbera-se o tom às letras de Ciberpajé, numa arte sonora visual (vide a capa do EP e as letras que também podem ser lidas/;vistas e baixadas como o disco inteiro, nesse link - e clicando na arte de capa do EP abaixo, antes, podem ler mais sobre a obra e outros trabalhos de Ciberpajé em parceria com outras bandas e músicos nacionais e estrangeiros:

*Gazy Andraus é quadrinhista, doutor pela USP e pós-doutorando no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG.

[Resenha] EP "Ciberpajé - Sol Servus": Horror-Dark-Gótico-Psicodélico em um profundo olhar interior de rompimento, autoconhecimento e transformação. Por Fredé CarFeli



Mágico! Fabuloso! Inquietante! Imoral! Imortal! Curti bastante entrar em contato com esse petardo Nietzschianismo dark-cavernoso. Um olhar profundo interior de rompimento, autoconhecimento e transformação íntima. Superação de si mesmo, após a penetração nas profundezas do ser “em si” e “para si”. 

Senti um desabrochar violento, tenebroso e, ao mesmo tempo, sereno e absoluto do “eu” em comunhão e simbiose com o poder de ser quem se é. Essa conexão e afirmação sobre tudo que parte de si mesmo, de dentro pra fora, se estabelece de maneira decisiva e sorrateira no último aforismo, após quebrar as correntes com as duas primeiras faixas. Climão massa! Horror-Dark-Gótico-Psicodélico! 

Me senti por vezes alocado em uma tumba e outras vezes rompendo os limites frios e acachapantes da caverna e entrando em contato com uma chuva fina noturna à luz da lua cheia, que traz à consciência a percepção sensorial e transcendental de conexão e integração com o cosmo a partir de dentro. O Cosmo sou Eu! Somos “Nós”, a partir de “mim”, do “eu”! Ótima obra. Parabéns ao Ciberpajé e ao André Grorium!

* Fredé CarFeli (a.k.a;.Frederico Carvalho Felipe) é artista multimídia e doutorando do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da FAV/UFG, em Goiânia

Saiba mais sobre o "EP Ciberpajé - Sol Servus" e ouça-o na íntegra clicando na arte de capa abaixo:


[Veja como foi] Performance do Posthuman Tantra no VII Festival Ensaio Blasfêmia, em Goiânia


O "Ensaio Blasfêmia VII Ato" é um evento nacional dedicado às artes obscuras e em sua sétima edição reuniu exposição de arte, performances e shows de bandas black metal. O evento tem curadoria dos artistas e mestres pelo Programa de Pós-graduação em arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás, Alysson Drakkar e Luiz Fers. O festival contou com as performances dos grupos "As Filhas de Satã" (GO) e "Posthuman Tantra" (GO) e com as bandas "Lhe Frustro" (MG), Lua Negra (GO), Homicídio (GO) e Mørk Visdom (SP).  O evento aconteceu no espaço cultural Cabaret Voltaire, em Goiânia.

O Posthuman Tantra foi convidado pela curadoria do "Ensaio Blasfêmia" e fez uma performance especial em 5 atos chamada "Extinção & Pós-humanidade", incluindo o novo ato "Lupus Noctis" que é parte das investigações de pós-doutorado do Ciberpajé (Edgar Franco) no Instituto de Artes da Unesp, em São Paulo, onde pesquisa as conexões entre os processos criativos de quadrinhos e performance.

Na performance o grupo Posthuman Tantra foi composto pelo Ciberpajé (diretor, performer e musicista), pela I Sacerdotisa Rose Franco (musicista e performer), por Luiz Fers (figurinista e performer), por Amante da Heresia (performer e musicista), por Lucas Matheus Dal Berto (VJ) e pela convidada Flávia Provesi, que também é integrante do grupo performático "As Filhas de Satã" . Confira abaixo fotos e vídeos dos 5 atos da performance, com destaque para o novo ato "Lupus Noctis" apresentado pela primeira vez em sua segunda versão. Fotos e vídeos de José Loures.





- Novo Ato "Lupus Noctis" (Segunda versão do ato com novos elementos):


Esse ato performático trata da degradação do bioma Cerrado e da sexta extinção massiva de espécies. O Ciberpajé encarna um totem animal fantasmagórico que dialoga poeticamente com outros performers, imagens - vídeo animado com artes suas - e sons criados para a apresentação, incluindo um teremim acionado por luz em sua indumentária. 


O ato performático "Lupus Noctis" nasceu como um desdobramento transmidiático do álbum em quadrinhos Ecos Humanos. A ideia inicial era criar um ato que tratrasse essencialmente da poética dos quadrinhos, mas com alguns novos elementos conceituais e estéticos. A poética da degradação do bioma Cerrado e da busca de uma reconexão com a natureza através dos enteógenos permaneceu como base, assim como a hibridação tecnogenética humanimal, mas aspectos novos foram imaginados para a performance. A inclusão do som ambiente como signo de desespero/angústia, a incorporação da interação do performer com as artes que representam de forma alegorica o Cerrado e a trasmutação do totem humanimal. Também, em certa medida, a eliminação dos aspectos crueis do humano, transformando assim o ato performártico em um sigilo mágico ritual que promova a reconexão essencial do performer aos seus aspectos animais gerando algum eco na platéia.

"Lupus Noctis" foi nomeada assim devido à presença subliminar do totem Lobo, que é incorporado nas performances pelo Ciberpajé e nesse caso temos a imagem da cabeça do lobo-guará – ícone do Cerrado – sendo uma das artes animadas que abrem a performance, passando por transmutações que lembram efeitos óticos da experiência visual de ENOC com o Psilocybe cubensis. Outro detalhe fundamental da conexão direta entre o álbum Ecos Humanos e Lupus Noctis é o fato das 4 artes animadas iniciais apresentadas na tela – com a qual o Ciberpajé transmutado interaje – serem os desenhos criados pelo Ciberpajé para a abertura dos capítulos da HQ.

Nessa segunda versão do ato - anteriormente apresentado em sua primeira versão na abertura da Exposição "Zonas de Compensação 6.0", no Instituto de Artes da Unesp/SP - a performance envolve a participação de mais dois performers que abrem a encenação, sendo eles Amante da Heresia, que incorpora uma versão cyberpunk da morte e representa a sexta extinção massiva de espécies causada pelo ser humano e seu hiperconsumo, e Flávia Provesi, que juntamente da I Sacerdotisa promovem um culto à Morte Cyberpunk. 

No início do ato a Morte Cyberpunk entra no espaço com o som ambiente de uma mata do Cerrado ao fundo e logo as performers I Sacerdotisa e Flávia Provesi, carregando um crânio animal com placas de circuito de computador mixadas a ele, se prostram diante da Morte elevando o crânio e as mãos, em um ato de culto à devastação. Então o Ciberpajé surge em cena. Sua figura é sinistra, ele usa um colete que parece animalesco e em sua cabeça está uma máscara do crânio de um pássaro – representando o totem híbrido fantasmagórico, unindo homem e animal, mas questionando o papel devastador do nosso lado humano para com o lado animal, por isso o animal é representado por um crânio morto. 

Ao entrar em cena ele toca um trilha percussiva em um sintetizador, logo vai lentamente em direção à Morte que usa sua foice com uma luz no topo (lanterna) para interagir à distância com o Ciberpajé produzindo sons agudos no mini teremin acoplado em seu peito.  Com a entrada do Ciberpajé em cena, inicia-se ao fundo a projeção da animação da face de múltiplos seres do cerrado e segue com a face animada do lobo-guará projetada. Na sequencia o Ciberpajé transmutado em Totem Pós-humano avança sobre a Morte Cyberpunk e ataca sua foice tomando-lhe o feixe de luz.

A Morte prostra-se diante do Ciberpajé e passa a reverenciá-lo e ele inicia o processo de utilizar a luz para interagir com o mini-teremin em seu peito produzindo gestos rápidos e sons agudos e penetrantes. Logo depois ele aponta a lanterna para todo o público presente gerando incômodo ao focá-la por instantes em cada um dos rostos dos presentes - simboilizando a culpa de todos no caos socioambiental em que estamos.  As únicas luzes ambiente são a da lanterna e a da projeção, então ele segue para diante da projeção e inicia a interação com ela. 


Enquanto as primeiras artes animadas representando a natureza do Cerrado vão se sucedendo, o Ciberpajé usa o feixe luminoso para tocar o teremim, inicialmente de forma mais sutil e leve, como se fizesse carícias. Na sequência as imagens da animação vão mudando e apresentam artes grotescas, representando o aspecto sombrio da devastação perpetrada pela espécie humana. A partir daí o performer segue realizando movimentos que rememoram um ato de autoflagelação, como punhaladas, ou espadadas em seu coração. Ao final, diante de uma arte que rememora criaturas de pesadelos lovecraftinianos, o Ciberpajé termina o autoflagelo, sendo ainda mais agressivo com o feixe de luz como um punhal visceral, gerando ruídos agudos que incomodam pela intensidade, até cair morto no chão. A morte final simboliza o suicídio que nós, espécie humana, estamos cometendo ao destruirmos a biosfera.

Confira alguns vídeos e fotos do Ato "Lupus Noctis", por José Loures:

Vídeo de trecho do início de "Lupus Noctis", as Sacerdotizas cultuam a Morte Cyberpunk


Mais um vídeo de trecho do início de "Lupus Noctis", as Sacerdotizas cultuam a Morte Cyberpunk


Vídeo de trecho de "Lupus Noctis", o Ciberpajé interaje com a  Morte Cyberpunk







  
























Ato "Iniciação sexual com um Robô Multifuncional":












Ato "Tênue Esfera Azul":










Ato "Tema o Homem, Ame o Lobo":






Ato "Penetrando a Bioporta Virgem":



Vídeo de trecho do ato "Penetrando a Bioporta Virgem"


Fotos do grupo após a performance no VII Ensaio Blasfêmia: