A MekHanTropia é um universo ficcional transmídia de ficção científica criado por Fredé CF para refletir sobre o avanço hiperinformacional e suas consequências na cultura, sociedade e biosfera. O pôster utilizado na intervenção urbana traz uma arte síntese criada pelo Ciberpajé representando a alienação e opressão dos seres pelo domínio do binarismo anticósmico. Confira abaixo registros da intervenção urbana em fotos e um vídeo de Brunna Nastassia.
Entenda o conceito de MekHanTropia, em texto de Fedé CF:
"Vemos agora quiçá o declínio de um sonho de liberdade e um blefe de que vivemos em tempos de maior livre-arbítrio. Há uma alteração induzida de modos como lidamos com o mundo. Uma inversão de valores acerca de quem somos/éramos em essência e de como vivíamos em sociedade, frente uma (sub)existência servil e controlada decorrente de nossa atual relação com o sistema institucionalizado e suas ferramentas tecnológicas de controle cada vez mais eficazes.
Tal pensamento induz à uma condição de renúncia a nós mesmos enquanto animais orgânicos, direcionando-nos a uma MekHanTropia adoecida, em uma cultura que centra sua intenção narrativa sobre o imaginário coletivo na ideia de superação de metas, produtividade e desenvolvimento econômico, esquecendo os limites naturais e as consequências que tudo isso causa. A atual pandemia evidencia tais aspectos e acentua as dispersões de humanismo que ainda nos restam. Devido às possibilidades de contágio, são aniquilados encontros e afetos presenciais; estipulados limites rígidos de contato; e determinadas relações mais intensas de dependência entre as pessoas e as máquinas. Tudo ainda incentivado visando a ideia quantitativa de produtividade.
O termo MekHanTropia ainda vem sendo desenvolvido e aprofundado enquanto conceito no intuito de transcender a representação do ciborgue, (tido pela simples mistura homem-máquina), para o processo de transformação do Homem (antropo) em Máquina (Mekhos). Esse conceito visa nossas relações sociais e também com o meio natural, aproximando-o ao conceito de “misantropia” – aversão ao ser humano e à natureza humana de forma geral ou a falta de sociabilidade – bem como as dispersões causadas pela tecnologia. Assim, um MekHanTropo seria um tipo de ciborgue destruidor da vida natural (orgânica) e a MekHanTropia uma indução (ou intenção) causada pelo status quo para o indivíduo se tornar, ludibriadamente ou não, um MekHanTropo. Esta situação traria recompensas ilusórias sobre um futuro de falsa utopia, pois, ao invés de harmonizar-nos com o meio e com o domínio das técnicas, se basearia no luxo, lucro e bens materiais, o que o torna, de fato, uma distopia causada pela própria vaidade do MekHanTropo, que abdica de sua vida e se metamorfoseia em engrenagem de aniquilação a serviço de um sistema seco, sem vida. A palavra "Han" surge no interior da expressão, como uma homenagem ao pensador “HAN, Byung-Chul”, crucial para essas reflexões.
Cada vez mais nos distanciamos uns dos outros e de nossa essência enquanto bicho. Mesmo conectados globalmente pela rede telemática, nos desconectamos qualitativamente de nós mesmos e do nosso habitat. Somos aprisionados ao sistema institucional por meio de falsas “bolhas” de aceitação e aprovação, que induzem ao consumo e à alienação, fazendo olvidar que vivemos em sociedade. Ignorantes frente as nossas sombras e com conexões vazias, nos perdemos em nossa vaidade e menosprezamos a importância de cizânias enquanto válvulas de reflexão em nossas vidas. Pior que nos desconectarmos é a consequência que isso gera. Nos aniquilamos diante de falsas promessas de felicidade fundamentadas no “ter” acima do “ser” pelo universo fantástico e padronizante da publicidade e das redes sociais. Somos cada vez mais aniquilados em nossa unicidade enquanto ser.
O cenário atual, com a emergência de totalitarismos, neofascismos e fundamentalismos, mostra-se crucial para o autoconhecimento. Não no sentido restrito do conhecimento da personalidade consciente do "eu", mas de forma a lançar - como aponta C. G. Jung - luz em nossos lados obscuros (conscientes, inconscientes, individuais, singulares) e entender que eles também fazem parte de quem somos, estamos e nos tornamos enquanto seres humanos, animais.
A arte, nesse sentido, manifesta muitos desses processos do inconsciente, tornando-se, a partir de seus processos criativos e rituais de (re)presentação, uma excelente via de resistência anti-MekHanTrópica pela vida orgânica que ainda nos resta mas nos escapa cada vez mais."
Ouça agora - neste link - o álbum musical MekHanTropia, de Fredé CF com participação do Ciberpajé. O pôster utilizado na performance/intervenção urbana é parte integrante da versão física em CD lançada pelo selo Two Beers or Not Two Beers. Conheça alguns detalhes sobre a gravação do álbum e seu processo criativo, em palavras de Fredé CF:
"MekHanTropia foi todo composto, gravado, mixado, finalizado e produzido pelo smartphone (inclusive os videoclipes) no bunker de Fredé CF, em Goiânia – Goiás - Brasil, durante a pandemia de COVID-19 (2020). Captado com o microfone do fone de ouvido tem as letras, música, voz, violões, baixo, percussão, samplers e vocais (tudo D.I.Y.) por Fredé CF.
A obra conta com a impactante arte da capa e do encarte feita pelo artista transmídia Edgar “Ciberpajé” Franco, que também teve participação mais que especial em quatro faixas com seus aforismos, vocais e tocando instrumentos musicais transcendentais mágicos.
O álbum integra conceitos que vem sendo trabalhados pelo autor no curso de Doutorado em Arte e Cultura Visual da UFG, sob a orientação da profa. Dra. Rosa Berardo, na busca por reflexões sobre o momento atual que vivemos."
O álbum MekHanTropia foi lançado também em formato físico pelo selo TBonTB, adquira sua cópia: www.twobeers.com.br/pd-7b9df7-frede-cf-mekhantropia-2020.html?ct=&p=1&s=7
----------------
Intervenção Urbana - MekHanTropia em Madri (26/04/2023)
Performer/interventora - Brunna Nastassia
MekHanTropia - Universo Ficcional Transmídia de Fredé CF (aka Frederico Carvalho Felipe)
Arte do Pôster Síntese de MekHanTropia: Ciberpajé (aka Edgar Franco)
Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER (FAV/UFG).