Mais um excelente petardo do projeto de parcerias do Ciberpajé! Estranho, sombrio, caótico, dark e horrorizante. Um tapa na cara da sociedade. Uma densidade sonora pesada e hipnotizante que se contrasta com vocalizações suaves e tambores ritualísticos. Uma hibridização sonora e conceitual que me remeteu ora a algumas ambientações de bandas como Sisters of Mercy e Nick Cave & the Bad Seeds, ora a vinhetas de alguns álbuns do Sepultura ou da Nação Zumbi.
A arte de capa sensacional traduz bem o clima fúnebre que expressa o som sobre o cotidiano e o momento histórico pandêmico pelo recorte brasileiro. Uma indústria da morte financiada pela bandeira da necropolítica nefasta, liderada por um messias infame, psicótico, genocida, pró-apocalipse, perverso, negacionista e idiota.
Os aforismos anunciam o precipício que estamos sendo jogados. A cova cavada por seres perversos e ressentidos com as mãos cheias de sangue, lama e fogo que devasta o habitat vegetal e animal que ainda nos resta em troca de lucros nefastos. Uma força sombria de ataque à Gaia. Um câncer que se espalha e começa a tomar todo o organismo e esgotar as esperanças.
Achei o EP uma sensacional mescla de sons eletrônicos, eletroacústicos e primitivos, desembocando em um ritual transcendental pós-humano de almas, impulsos e fluxos que tentam não serem sugados pela força horrífica em espiral imposta sobre a Terra. Porém, há uma sensação de que essas almas até tentam se desvencilhar de toda essa lama tóxica e do esgoto fétido que suga toda esperança, porém cada vez mais se afundam e perdem o ímpeto da resistência.
Como muito bem colocado, “ainda piores que os parasitas no poder são os idiotas que os cultuam”, esses ignorantes kamikazes que além de destilar seu ódio putrefato e atrapalhar o escape do espiral de loucura, aniquilam o bom senso e se afundam levando todos juntos ao chorume que veneram. O sangue encarnado e jorrado para todos os lados toma conta do vislumbre projetado ao porvir. Um futuro aniquilado no presente com ecos podres do passado. Um lamento que nos alerta sobre o buraco que entramos e que estamos longe de sair.
Parabéns aos artistas pela obra incrível! E, mesmo envoltos por lama, sigamos resistindo, tentando desviar desses vermes para não cairmos junto com eles nessa espiral da morte que cresce a cada dia irresponsavelmente pela negação da ciência e da realidade.
Reitero que é sempre um prazer desfrutar e mergulhar nessas criações fantásticas. Gosto muito e me ajuda a refletir também sobre questões minhas comigo mesmo, ressignificando e transmutando pontos adoecidos pela realidade ordinária em uma cura mágica e transcendental pela arte. Ajuda-me a ver e sentir de outras formas o mundo. Grande abraço e sigamos pela vida que renasce e flui pela arte!
*Fredé CF é artista multimídia, educador e doutorando no PPG Arte e Cultura Visual da UFG
Ouça o EP Ciberpajé - Reino Devastado, parceria com o projeto Horror (PR), clicando na arte de capa abaixo:
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