Fazer resenhas quadrinhísticas é pra mim ainda um grande desafio. Inicio essa experiência com o intuito de romper essa barreira. Confesso que foi algo surpreendente, proporcionado pela análise do álbum em quadrinhos Licanarquia, com roteiro de Ciberpajé e arte de Toninho Lima, uma edição da Atomic Editora que teve financiamento coletivo pelo Catarse. Busquei entender um pouco do universo ficcional da "Aurora Pós-Humana" que engendra a obra e do mito do lobisomem.
No livro percebe-se que o lobo e suas expressões se confundem com instintos humanísticos. Um contexto fantasioso e futurístico onde a hegemonia é desfeita e abre-se espaço para a heterogênese através da evolução tecnológica das espécies. Aqui , natureza, humanos e outros seres cósmicos se unem em resposta à necessidade de transformação constante.
Todo em preto e branco, as imagens que poderiam ser abstratas, se concretizam a partir da interpretação de onde a narrativa pode de fato nos conduzir. Enxergar as sombras e as mazelas. Revelar as futuras possibilidades. Os 04 capítulos intitulados com os seguintes temas: a fome, a sede, o medo e o tudo, formam uma sequência instigante de necessidades e sensações. Luzes e sombras se apresentam aqui em perfeita simetria. Preferi aqui separar a descrição desses capítulos para melhor entendimento:
A FOME: Neste capítulo percebe-se a procura pelo que alimenta a sua alma. Os olhos perseguem um cenário fantástico compostos por troncos secos, retorcidos, cactos e muita aridez. Tudo em preto em branco reforçando ainda mais o nosso poder de concentração nos detalhes dessa disputa pela sobrevivência das espécies. O lobo e o lobisomen aqui buscam sua presa de forma voraz. Começa aqui um desafio entre essas espécies.
A SEDE: É a realização dos seus instintos humanísticos. É a disputa pelo poder mediante a conquista do objeto de desejo e ao encontrá-la, protegê-la dos perigos mundanos. Desperta-se aqui o aspecto mais humano através da bravura e da generosidade impulsionada pela amorosidade contemplativa.
O MEDO : O medo pode paralisar? Pode! Mas também pode revelar a nobreza de espírito. A vontade de se transformar. Transfigurar. A tecnogenética como peça fundamental nesse processo. A ficção como aliada exponencial da transmutação do ser humano. Ser homem?Ser bicho?Tornar-se fera! O imaginário sai do ficcional e acaba sendo real. Rompe barreiras. Conceitos. Preceitos. Respeita a liberdade por parte de quem teme sua presença.
TUDO: O uivo da fera se apresenta aqui em sua máxima expressividade. O alcance do topo. Dono de mundo. Do universo. Do cosmos. O renascimento acontece a partir da libertação dessas espécies. A metamorfose da expansão da consciência é consolidada através de uma sequência de olhares latentes que adentram a alma e as entranhas com força descomunal composta por uma belíssima e fascinante narrativa visual.
Raquel Alves de Freitas Nunes - É apaixonada por arte e cultura e ativista cultural em Goiânia