Destaco a riqueza de detalhes desenvolvida no espaço e no tempo através dos relatos ficcionais, permeados por uma deslumbrante fusão artística entre o humano e suas ações e sensações mais viscerais. O animal como extensão de nós mesmos por meio de personificações e representações energéticas humanísticas, onde a natureza age como protagonista em tudo que compõe a essência cósmica universal. São narrativas ambientadas em cenários oníricos que harmonicamente emergem de toda a obra. Aproveitando-se então dessa disposição poética, enfatizado pela narrativa desse panorama imagético e criativo provocado por essa realidade fantástica, vou desbravar capítulo por capítulo desse projeto incrível a partir de minhas percepções.
Capítulo 1 - COISAS DA CARNE: O capítulo que inaugura o álbum. Ele ressalta o furor das paixões que sempre são consideradas prazeres efêmeros e quando trazem à tona a essência do ser humano podem deflagar a insegurança que esse sentimento provoca, acarretando assim uma distorção da realidade. A tristeza aqui é ocasionada pela decepção da perda do viço desse sentimento.
Capítulo 2 - AMÁLGAMA: Ciberpajé, neste capítulo, de forma profunda e instigante, refere-se à vulnerabilidade dos prazeres humanos. Muitos entregam seus corpos ao deleite da carne condicionados pelo ódio e pela carência a todo custo, desprovidos de reais afetos, assim como os animais copulam na natureza. Tudo em busca de uma satisfação carnal intrínseca e momentânea.
Capítulo 3 - ENCONTROS: Neste capítulo, a amorosidade é um sonho a ser conquistado, onde todos nós somos seres únicos e finitos e almejamos espalhar o amor entre os povos, conscientes de que podemos sim, desfrutar de um mesmo espaço cósmico e que precisamos evoluir em prol de não destruirmos a humanidade. A paz universal. O afeto, a amorosidade e a empatia como virtudes que imperam na transcendência humana. O capítulo é brilhantemente finalizado com a citação de nomes importantes nos âmbitos culturais, religiosos e filosóficos como John Lennon, Gandhi, e Sócrates que foram personalidades de extrema relevância em nossa sociedade e que não estão mais entre nós, mas que deixaram seus legados eternamente na história da humanidade.
Capítulo 4 - DUO DE UM: Tabus são aqui quebrados. Um olhar analítico para os relacionamentos humanos, neste caso entre mãe e filho. O amor materno que ultrapassa o dom de gerar, livre de dogmas e valores cristãos, modifica o amor filial. Pecado carnal. Não podendo alterar essa condição tampouco a sua realidade, a mãe se vê enclausurada e condenada pela própria consciência perturbadora. Uma dor permanente causada pelo remorso perpétuo.
Capítulo 5 - O INÍCIO: Neste capítulo, Edgar Franco descreve a busca incessante pela sobrevivência. A composição visual impulsionada pelos desenhos dá o tom dessa caçada visceral pelo alimento. E assim, como numa miragem de deserto, o melhor sempre está por vir e o indivíduo se depara com um oásis provocado por uma abundância da natureza, onde tudo é possível, onde tudo é farto, onde a escassez não predomina.
Capítulo 6 - ÉDEN: A sensibilidade poética desse capítulo encanta. A procura incessante pelo paraíso, transmutado pelas barreiras do tempo, chegando à uma definição de que o paraíso não se trata de um lugar e sim, de um encontro de almas no qual se revela a imensidão do ser. Lindo demais!
Capítulo 7 - SOBRE AS MÃES: Este capítulo me trouxe um olhar mais empático quanto às nossas ações egocêntricas e desrespeitosas para com a mãe natureza. A forma como destruímos essa maravilha cósmica. A mãe Terra que tudo nos dá e não temos compaixão nenhuma para retribuí-la. O egoísmo. Este com certeza é um dos lados mais sombrios da natureza humana.
Capítulo 8 - A ESTAGNAÇÃO: O marasmo e a acomodação humana como agentes para a criação do caos. A representatividade de Gaya, como a mola propulsora para o florescer da humanidade partindo do princípio de que onde há a morte da estagnação há o renascimento da vida.
Capítulo 9 - LIMITES: Este é o meu capítulo favorito. Eu que tanto externo sobre essência, afeto e gratidão, me vi de alguma forma representada neste capítulo, no qual me identifiquei bastante com o contexto exposto. Senti-me pertencente à essa realeza literária, algo tão latente e que aborda o universo de cada indivíduo. Um reduto contido dentro da incompreensão do eu interior. O isolamento particular de cada ser, onde ninguém conseguirá ao certo compreendê-lo ou desvendá-lo. Nem mesmo seus ancestrais, pois o sentimento de pequenez e inferioridade, afugenta e transcende seus sonhos mais profundos.
Capítulo 10 - DENTRO: A comunicação aqui se entrelaça em toda força imagética proporcionada por esse capítulo. É um despertar e um revelar dos desejos mais ocultos, agora libertos, proporcionados pelo desfrute das particularidades humanas. Sensacional!
Capítulo 11 – ANOMALIA: O último capítulo desse álbum revela o desequilíbrio das polaridades humanas. O Yin e o Yang, a luz e a escuridão como energia dual incompleta, resultante da não completude desses seres, aqui incompreendida, com a esperança de que um dia essa anomalia será corrigida e se tornarão uma só alma.
Finalizando essa resenha, destaco que o Ciberpajé conseguiu por meio de Transessência apresentar a essência da vida em todo seu processo infinito de mutação, evolução e conexão com o universo e a sua complexidade. Convido todos a desfrutarem da leitura dessa obra fantástica.
*Raquel Alves de Freitas Nunes - É apaixonada por arte e cultura e ativista cultural em Goiânia
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