Este é o quinto videoclipe da série com animação, o primeiro e pioneiro no Brasil foi O Luto da Vitória.
O Sabor Delicado do Nada parte de uma captação de imagens do Ciberpajé (aka Edgar Franco) realizando um ritual mágicko de posismo no contexto do universo transmídia da Aurora Pós-Humana, encenando uma batalha consigo mesmo, contra os seus dilemas e demônios interiores. A partir dessa filmagem, em um processo de animação digital em rotoscopia os trechos animados foram produzidoss a partir de referências simbólicas a totens xamânicos e ao conceito de tecnoxamanismo e tecnognose que serviram de influência direta para a criação da sonoridade da música produzida pelo musicista amapaense Alan Flexa. Dessa vez as animações foram criadas alimentando o sistema de inteligência artificial com mais de 300 artes originais do Ciberpajé - desenhos, ilustrações, pinturas em aquarela e lápis de cor, e muitas páginas de seus quadrinhos - os criadores C.N.S. (aka Diogo Soares) e Ciberpajé demoraram 6 meses no processo de aprendizagem de máquina para chegarem a um resultado que os agradasse, após inúmeras tentativas que foram afinando o sistema, o resultado ainda é experimental, mas traduz muito bem as intenções simbólicas e iconográficas buscadas para a obra. A discreta faixa musical investe em uma atmosfera mântrica que cria a ambiência perfeita para o longo aforismo recitado pela voz do Ciberpajé. Confira um trailer da animação abaixo:
A animação experimental - assista aqui - trata de forma onírica, simbólica e metafórica os conceitos transcendentes propostos no aforismo que gerou a música. O aforismo recitado pela voz do Ciberpajé faz conexões metafóricas com o tratado militar A Arte da Guerra, de Sun Tzu, mixando os seus conceitos à busca do equilíbrio interior presente no Tao-Te King, de Lao Tzi, e conceitos retirados do Livro dos Cinco Anéis, atribuído ao lendário samurai Miyamoto Musashi. Ele trata da necessidade premente de jamais nos vitimizarmos diante das circunstâncias da vida, de nos responsabilizarmos por nossos atos, de respondermos pelas consequências de nossas ações, de encarar as dores e perdas como parte do processo natural da existência, do autoperdão e do aprendizado para não cometermos os mesmos erros jamais, o texto é uma visão metafórica desse posicionamento estoico do magista Ciberpajé. Segue o aforismo recitado por ele na faixa:
O Sabor Delicado do Nada
(O XXVIII Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé)
Só existem
reais inimigos no espelho do guerreiro.
Todos os demais são
sombras ignóbeis e fugidias a serem exterminadas com um único e
piedoso golpe certeiro.
Nenhuma lágrima vã será derramada
por qualquer dor, nem mesmo pelo furor da cauterização da ferida. A
única lágrima permitida é pela perda inesperada e cruel de um
irmão em armas.
O guerreiro jamais deve clamar por um deus
quando estiver no calor da batalha, nem na vitória, nem na derrota.
Durante o combate visceral ele será seu próprio deus e ao final
receberá as oferendas que lhe são devidas, os espólios dos
inimigos esmagados sem crueldade, mas com cósmica intensidade.
Ao
dominar um novo território, o guerreiro deve ser inteiro, agindo com
justiça e compaixão para com os que estão sob seu poder. Mas
diante de qualquer traição, dissimulação, ou plano de usurpação,
não pode existir nenhum perdão, restando-lhe agir imediatamente com
total visceralidade, exterminando os traidores e trazendo para os
seus lugares seres de sua total confiança.
O amor real do
guerreiro é expresso única e exclusivamente por sua proteção e
confiança, nada mais, nada menos. Ferir a confiança é desrespeitar
a essência do guerreiro, isso implicará no extermínio ou exílio
eterno dos seres desonrosos que o fizerem, deixando-os à própria
sorte diante de seus inimigos e das intempéries.
O guerreiro
não sente prazer com o sangue de seus inimigos. Aparece banhado nele
simplesmente como resultado do fluxo selvagem da batalha, e dos
esguichos inevitáveis de seus golpes certeiros.
O prazer do
Lobo guerreiro é o sentido cósmico para a ovelha que a ele se
entrega.
Não existem dúvidas, incertezas, ou culpas na alma
do guerreiro cósmico. Ele traça o seu caminho, e elege os seus
companheiros de jornada com o instinto selvagem do Lobo ancestral.
O
guerreiro vive para a batalha, ela é seu único e verdadeiro
propósito astral, todo o resto são adendos que ele pode abdicar a
qualquer momento.
A
adaga é a amante gloriosa da espada, e o guerreiro conhece a bela
tessitura do tudo, e o sabor delicado do nada.
O Sabor Delicado do Nada é uma produção do Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Assista neste link ou abaixo:
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