terça-feira, 27 de junho de 2023

[Resenha] Álbum em quadrinhos ENTEOGÊNICOS, de Ciberpajé: um olhar transcendente sobre o universo. Uma experiência sensacional! Por Fredé CF

Fredé CF com seu exemplar de Enteogênicos

Acabei agora de ler o ZineBook “Enteogênicos” do Ciberpajé (a.k.a. Edgar Franco), de 2019, e fiquei encantado com as reflexões propostas pelas narrativas. No álbum, o autor acessa por E.N.O.C. - estados não ordinários de consciência - a Realidade Vegetal ascottiana para nos brindar com uma obra autêntica e visceral, a partir da utilização dos enteógenos Psylocibe cubensis e Ayahuasca. Nas páginas, o Ciberpajé traz HQs e HQforismos que surgem dessas experiências vividas por ele. 

As narrativas tecem reflexões críticas acerca da hipercompetitividade e hiperinformação, típicas da sociedade neoliberal, dominada pelo consumo e que nos causa cobranças por desempenho e exposição exorbitantes. Tais características de nossa atual condição sociocultural, institucionalizada pelo binarismo anticósmico, é uma das grandes responsáveis pelo adoecimento psicoemocional de milhares de pessoas em todo o planeta e nos aproxima cada vez mais da nossa autoextinção. Edgar toca na ferida cada vez mais inflamada que faz parte de nossas vidas cotidianas e, assim, provoca reflexões importantes e muito interessantes acerca da existência e da transcendência de nós mesmos enquanto seres, agentes de transformações. 

Edgar nos conduz visualmente e filosoficamente por questões que imbricam o pré e o pós-humanismo, tendo o humano como vetor transformador do cosmos que o cerca e o integra em si mesmo. O artista transcende as realidades articulando-as. Adentrando em questões subjetivas, fenomenológicas e existencialistas fundamentais, acerca de nossa limitada percepção de mundo resumida a cinco sentidos. Destaco um trecho em que diz: “o muro branco é a mentira, e não as figuras vislumbradas pelo psiconauta imberbe!” (P.14). Junto ao trecho do aforismo citado, um desenho de sua visão psicodélica sobre o muro, com seres surgindo do abstrato em formas distorcidas. A obra do Ciberpajé, além de toda visceralidade poética e potência estética, ainda se transborda para outras linguagens dentro de seu universo transmídia intitulado “Aurora Pós-Humana”. 

Transtecnomagias, cosmogonias, hipertecnologias, ancestrofúngicas, digitais, pós humanas e naturais, se fundem e fluem em uma dança cósmica a partir do criador, em refluxos e influxos magickos de transmutação de si mesmo e daquilo que o integra e se (trans)forma pelo agora. A autotransmutação inerente à criação artística genuína e visceral, explode em nossa frente página a página. Implode a mente. Eclode a gente. Desabrochando-nos das cápsulas MekHanTrópicas que insistem em cooptar e prender. Um símbolo bastante presente em todas as obras do Ciberpajé é a borboleta, um totem que indica a metamorfose essencial da vida. Há, além dos desenhos, até uma impressionante e inusitada coautoria artística com um coqueiro, que surge de uma montagem feita com fotografia sobre o desenho em um balão de diálogo de uma das personagens da obra. 

Em outra página, há a carta do Mago do tarô, em alusão ao artista que transmuta o mundo por suas criações. Sempre me impressiono com os desenhos, personagens, cenários e ambientações feitas por Edgar. As formas psicodélicas, ambíguas, fluidas e complexas em suas significações, explicitam o uso de elementos da gestalt e nos fita a alma, como um teste de Rorschach obscuro e alucinado. Somados aos contrastes implícitos nos cenários e personagens futuristas e ancestrais, agregando os aforismos significados nossos em diálogo com o criador da obra. Tudo isso nos invita a dançar com nossas próprias sombras e vivenciar em nós mesmos o autoamor, numa autocura de reconexão ao que nos é essencial enquanto ser: reexistir constantemente para resistir ao fim do mundo. 

Aos fins dos mundos e construção de novas possibilidades de fruir por si próprio. Por fim, a última cena narrativa nos apresenta um contraste visceral, com a página preta e os traços brancos. O autor evidencia sua experiência com a ayahuasca em “Nuasca”, com uma pegada diferente do restante do álbum, mais tracejada e reluzente. Um olhar transcendente sobre o universo. Uma experiência sensacional, como todo o ZineBook! Astral. Espacial. Ancestrodigital. Recomendo, como em todas as obras ciberpajeanas, mais de uma fruição. Não irá se arrepender!

Saiba mais sobre Enteogênicos nesse link.

Fredé CF (a.k.a. Frederico Carvalho Felipe) é artista transmídia, criador do universo ficcional MekHanTropia, pesquisador, professor e doutorando no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG, em Goiânia.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

[Lançamento] CIBERPAJÉ - O SABOR DELICADO DO NADA: novo videoclipe é sigilo mágicko que utilizou mais de 300 artes do Ciberpajé na geração das animações


O Sabor Delicado do Nada (O XXVIII Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé) é o novo videoclipe em animação e single - assista-o neste link - do projeto musical Ciberpajé. Trata-se da nova animação da série baseada em rituais mágickos de transmutação da Aurora Pós-Humana.

Este é o quinto videoclipe da série com animação, o primeiro e pioneiro no Brasil foi O Luto da Vitória.

O Sabor Delicado do Nada parte de uma captação de imagens do Ciberpajé (aka Edgar Franco) realizando um ritual mágicko de posismo no contexto do universo transmídia da Aurora Pós-Humana, encenando uma batalha consigo mesmo, contra os seus dilemas e demônios interiores. A partir dessa filmagem, em um processo de animação digital em rotoscopia os trechos animados foram produzidoss a partir de referências simbólicas a totens xamânicos e ao conceito de tecnoxamanismo e tecnognose que serviram de influência direta para a criação da sonoridade da música produzida pelo musicista amapaense Alan Flexa. Dessa vez as animações foram criadas alimentando o sistema de inteligência artificial com mais de 300 artes originais do Ciberpajé - desenhos, ilustrações, pinturas em aquarela e lápis de cor, e muitas páginas de seus quadrinhos - os criadores C.N.S. (aka Diogo Soares) e Ciberpajé demoraram 6 meses no processo de aprendizagem de máquina para chegarem a um resultado que os agradasse, após inúmeras tentativas que foram afinando o sistema, o resultado ainda é experimental, mas traduz muito bem as intenções simbólicas e iconográficas buscadas para a obra. A  discreta faixa musical investe em uma atmosfera mântrica que cria a ambiência perfeita para o longo aforismo recitado pela voz do Ciberpajé. Confira um trailer da animação abaixo:

A animação experimental - assista aqui - trata de forma onírica, simbólica e metafórica os conceitos transcendentes propostos no aforismo que gerou a música. O aforismo recitado pela voz do Ciberpajé faz conexões metafóricas com o tratado militar A Arte da Guerra, de Sun Tzu, mixando os seus conceitos à busca do equilíbrio interior presente no Tao-Te King, de Lao Tzi, e conceitos retirados do Livro dos Cinco Anéis, atribuído ao lendário samurai Miyamoto Musashi. Ele trata da necessidade premente de jamais nos vitimizarmos diante das circunstâncias da vida, de nos responsabilizarmos por nossos atos, de respondermos pelas consequências de nossas ações, de encarar as dores e perdas como parte do processo natural da existência, do autoperdão e do aprendizado para não cometermos os mesmos erros jamais, o texto é uma visão metafórica desse posicionamento estoico do magista Ciberpajé.  Segue o aforismo recitado por ele na faixa:

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O Sabor Delicado do Nada

(O XXVIII Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé) 

Só existem reais inimigos no espelho do guerreiro.
Todos os demais são sombras ignóbeis e fugidias a serem exterminadas com um único e piedoso golpe certeiro.

Nenhuma lágrima vã será derramada por qualquer dor, nem mesmo pelo furor da cauterização da ferida. A única lágrima permitida é pela perda inesperada e cruel de um irmão em armas.

O guerreiro jamais deve clamar por um deus quando estiver no calor da batalha, nem na vitória, nem na derrota. Durante o combate visceral ele será seu próprio deus e ao final receberá as oferendas que lhe são devidas, os espólios dos inimigos esmagados sem crueldade, mas com cósmica intensidade.

Ao dominar um novo território, o guerreiro deve ser inteiro, agindo com justiça e compaixão para com os que estão sob seu poder. Mas diante de qualquer traição, dissimulação, ou plano de usurpação, não pode existir nenhum perdão, restando-lhe agir imediatamente com total visceralidade, exterminando os traidores e trazendo para os seus lugares seres de sua total confiança.

O amor real do guerreiro é expresso única e exclusivamente por sua proteção e confiança, nada mais, nada menos. Ferir a confiança é desrespeitar a essência do guerreiro, isso implicará no extermínio ou exílio eterno dos seres desonrosos que o fizerem, deixando-os à própria sorte diante de seus inimigos e das intempéries.

O guerreiro não sente prazer com o sangue de seus inimigos. Aparece banhado nele simplesmente como resultado do fluxo selvagem da batalha, e dos esguichos inevitáveis de seus golpes certeiros.

O prazer do Lobo guerreiro é o sentido cósmico para a ovelha que a ele se entrega.

Não existem dúvidas, incertezas, ou culpas na alma do guerreiro cósmico. Ele traça o seu caminho, e elege os seus companheiros de jornada com o instinto selvagem do Lobo ancestral.

O guerreiro vive para a batalha, ela é seu único e verdadeiro propósito astral, todo o resto são adendos que ele pode abdicar a qualquer momento.

A adaga é a amante gloriosa da espada, e o guerreiro conhece a bela tessitura do tudo, e o sabor delicado do nada.


A música é o quinto single do EP “Códigos Cósmicos de Batalha do Ciberpajé”, parceria com o notório musicista amapaense Alan Flexa, que em breve será lançado pela Lunare Music. Ela foi criada por Alan Flexa, e gravada no Estúdio Zarolho Records em Macapá. 

A animação/videoclipe/videoarte foi realizada e dirigida pelo arquiteto e musicista C.N.S. (Caos Necrophagos Soturnums) em parceria com o Ciberpajé (aka Edgar Franco), seguindo os estudos pioneiros e experimentações que ambos têm realizado com a utilização de redes neurais e IAs para a criação de animações e videoclipes. Confira essas outras produções: A Vida é o AgoraO Luto da VitóriaI Código Cósmico de BatalhaVII Código Cósmico de BatalhaPsicopata X Empata, e O Enterro dos Deuses

O Sabor Delicado do Nada é uma produção do Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Assista neste link ou abaixo:



quinta-feira, 15 de junho de 2023

[Biotech Cuca: Uma Recriação] Artista Nique recria em performance um card da box set "Posthuman Tantra - Pissing Nanorobots 18th Anniversary Special Edition" (Kaos Records)

Biotech Cuca Recriada, fotoperformance de Nique

Card original Biotech Cuca, de Ciberpajé (Edgar Franco)

Nique, ou Martinique, é uma artista multimídia brasiliense com uma sólida produção no campo da ilustração e escultura, também na criação de quadrinhos e com incursões pela fotoperformance e fotopoesia. A artista, de traço sinuoso e fluido, investe em obras com a temática fantástica e com especial atenção para o folclore e as lendas brasileiras. Nique foi convidada pelo Ciberpajé a participar do Festival de Artes Ciberpajelanças III, em Goiânia, no qual apresentou duas de suas obras emblemáticas, a "encarnação" de corpos de manequins.

A partir daí estabeleceu-se uma amizade e admiração mútua entre os artistas e recentemente Nique adquiriu, do selo Kaos Records, a box set Posthuman Tantra - Pissing Nanorobots 18th Anniversary Special Edition, lançamento comemorativo da banda do Ciberpajé que incluiu 2 CDs 2 K7, um tributo com 14 bandas recriando as músicas do notório álbum "Pissing Nanorobots" (2004) e também 14 cards sigilos mágickos desenhados pelo Ciberpajé, cada um deles inspirado por uma das músicas presentes no álbum musical de 2004.

Nique encantou-se justamente com a música "Biotech Cuca" e também com o card que a representa, ela comentou sobre isso em resenha que fez da box e conversando com o Ciberpajé disse que estava imaginando uma forma de recriar o card.

Eis que, no dia 15 de junho de 2023, Nique surpreendeu o Ciberpajé lhe enviando uma série de imagens com o processo de reinvenção/recriação do card "Biotech Cuca" em uma fotoperformance impactante em que ela atuou como modelo, maquiadora, figurinista e ainda pintora/desenhista do painel ao fundo da imagem. Nas palavras da própria Nique:


Pissing Nanorobots é uma experiência sonora e visual imersiva e explosiva! Biotech Cuca é minha favorita tanto sonoramente quanto visualmente. O ritmo presente na música remete-me a um ritual mágico, mas as minhas poções são giz, carvão e tintas. O desenho de Ciberpajé foi vagamente repetido na parede, de forma livre, sem compromisso com uma exatidão e a pintura facial adaptada, uma releitura, mas também por improviso. As fotos, encaixe da figura com o fundo (onde, se cabe dizer, acontece um caminhar e um dialogar. Me parece que ela fala com sua sombra, introspectivamente e, quando nos fita, sinto que somos intrusos) e, a edição final, para que fique mais próxima do original inspirador, com o espelhamento, dessaturação e acentuação do contraste.

Na abertura desse post está a versão final da fotoperformance e logo abaixo a versão do card original. Na sequência outras imagens da fotoperformance criada por Nique.

O Ciberpajé emocionou-se com a força expressiva da recriação de Nique e alegrou-se por ter inspirado uma obra tão impactante dessa admirável artista.










Ciberpajé e Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER (FAV/UFG) participarão do Festival II ANÁPOLIS HQFEST com palestra, mesa de debates e lançamentos no Artist Alley

O Ciberpajé e o Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER, coordenado por ele na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG), foram convidados pela organização do Festival II ANÁPOLIS HQFEST que acontecerá nos dias 17 e 18 de junho na UEG em Anápolis, GO.

O Ciberpajé ministrará uma palestra com o tema Quadrinhos, Magia e Transmídia no dia 17 de junho às 16 horas e depois coordenará uma mesa de debates com 4 integrantes do grupo CRIA_CIBER falando de seus processos criativos de quadrinhos e fanzines: Gazy Andraus (Pós-Doutorando/PPGACV-UFG), Léo Pimentel (Pós-Doutorando - PPGACV-UFG), Ícaro Malveira (Doutorando - PPGACV -UFG) e Rachel Cosme (Mestranda - PPGACV-UFG).

Os 15 integrantes do Grupo de Pesquisa também estarão presentes em mesa no Artist Alley do evento lançando seus quadrinhos e zines. O Ciberpajé lança oficialmente em Anápolis o seu premiado álbum em quadrinhos LICANARQUIA, parceria com Toninho Lima.

O evento tem uma ampla e instigante programação que pode ser conferida no Instagram AnaHQfest.

Confira as artes preparadas pelo II Anápolis HQFEST para todos os integrantes do CRIA_CIBER que estarão no Artist Alley.


















quarta-feira, 14 de junho de 2023

[Resenha] Ciberpajé - Monstro da Vontade: O álbum todo é deleite, das vozes da multidão aos arranjos e acordes poderosos, por Adaor Oliveira

Selfie de Adaor Oliveira com a capa do EP "Ciberpajé - Monstro da Vontade" ao fundo.

Dogmas, ideologias, o desejo de ser aceito. O aforismo e a toada da primeira faixa, Quebrando Muros, mostram bem o que as redes sociais vêm produzindo nas pessoas. Muita gente achando que a vida no Instagram, no Tik Tok, no Facebook, correspondem à realidade. Gente querendo emagrecer a qualquer custo, parecer jovem eternamente, ter o dinheiro que as "celebridades influenciadoras digitais" têm. É a verdadeira ruína social. Podemos ver aqui a questão marxista da ideologia impregnada nos dias atuais

"Irrelevância", a segunda faixa, mostra como as pessoas se dão muita importância. Muitas se acham o centro do universo, perderam a inocência da criança que brinca. A canção é minimalista nos instrumentos, mas poderosa em pensamento.

A faixa final, "Monstro da Vontade", já traz logo de cara o poder da guitarra, que contrasta com o aforismo das massas idiotizadas. Traz realmente a estupidez de uma existência superficial e banal, sendo que as pessoas que assim vivem nem se dão conta do quanto são manipuladas, e vivem a vontade dos outros, não delas próprias. É o puro suco da sociedade de consumo, tão bem estudada pelos pensadores da Escola de Frankfurt.

O álbum todo é deleite, das vozes da multidão aos arranjos e acordes poderosos. Viva a arte e o pensamento crítico! Ouça nesse link o EP Monstro da Vontade, parceria entre o Ciberpajé e a banda Shocking Bell.

*Adaor Oliveira é Filósofo e educador. 

[Veja como foi] Palestra do Ciberpajé durante a "Semana do Orgulho Nerd", no SESC, em Goiânia


No dia 25 de maio,  quinta-feira, o Ciberpajé ministrou uma palestra sobre Quadrinhos e Criações Transmídia na Aurora Pós-Humana durante a "Semana do Orgulho Nerd", organizada pelo SESC - Unidade Campinas, em Goiânia. A mesa acontecerá na quinta-feira, dia 25 de maio de 2023, a partir das 19 horas. 

A atividade teve entrada franca e contou com um excelente público que lotou a biblioteca do SESC, e ouviu atentamente durante uma hora o Ciberpajé explanando com imagens sobre seus processos criativos transmidiáticos, inspirações e motivações para a arte e para a vida. 

Vários integrantes do Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER, coordenado pelo Ciberpajé na FAV/UFG, também estiveram presentes e após a palastra seguiram para uma reunião festiva em comemoração ao êxito na defesa de mestrado no PPGACV/UFG de Rennan Queiroz, orientando do Ciberpajé. Confira fotos de Marcos Costa e Gazy Andraus que registraram a palestra.