terça-feira, 20 de agosto de 2019

[Resenha] CD Cão Breu Pós-humano: "Original é eufemismo!", por Fausto Ramos (Canal Caosofia)



Original é eufemismo quando se trata de escrever sobre a produção de Ciberpajé (Edgar Franco). O artista transmídia jorra novas produções em um ritmo estonteante, tornando sua obra não apenas extensa, mas rica e sincera. As mensagens de Ciberpajé ecoam em tons coloridos e diversificados. Não poderia ser diferente com Cão Breu Pós-Humano: um álbum de composições folk-psicodélicas de Frederico Felipe, com a participação de Edgar Franco.

O riff de violão é simples e convidativo. A sobreposição de vozes e trilhas de áudio contribuem para a ambientação hipnótica no álbum. A maior parte das faixas remetem a uma produção lo-fi (no sentido mais original do termo), com exceção da última, que desemboca em um transe eletrônico. 

Toda a estrutura do álbum remete a alguma mensagem oculta por trás das palavras mais explícitas e as mensagens mais viscerais. Tal como a maior parte do trabalho de Ciberpajé, o álbum parece ansiar por uma interpretação mais profunda. É para este ponto longínquo das fronteiras semióticas que pretendo investir minha resenha. 

Cão Breu Pós-Humano discursa sobre o estado de nossa cultura contemporânea. O aparente declínio da civilização global ao qual todos assistimos em tempo real pelas redes sociais. A deterioração da espécie humana, com alimentos envenenados por agrotóxicos e a crescente dependência de farmacológicos. Uma civilização conduzida por algoritmos, cujas métricas nos conduzem a uma idiotização coletiva e compulsória. 

“A obsolescência programada dos produtos industriais está programando a obsolescência da espécie humana para o hiperorganismo Gaia, que a expurgará sem remorsos!” - Assim Chorou Zaratustra (Ciberpajé). 

Se o fim está próximo e nós estamos programados, feito bombas-relógios, para a autodestruição, o que resta fazer? Como superar a degradação humana? Ciberpajé parece ter encontrado a própria solução em uma alquimia transumana, transmutando sua consciência para uma diferente estância de existência: o Cão Breu Pós-Humano. 

O artista opera essa transmutação licantrópica resgatando sua conexão com os instintos e a sua essência lican. É nesse ponto em que a mensagem do álbum encontra ressonância no método criativo do artista transmídia. 

“A inutilidade é uma dádiva, tudo o que é valioso para o nosso espírito e equilíbrio interior não tem nenhuma utilidade objetiva. Brincar, ficar a toa, desenhar sem nenhum objetivo e não ser divertir-me, criar pelo prazer de criar, caminhar nas matas com meus cães, a cada dia aumento o número de minhas atividades inúteis, a cada dia torno-me mais sereno e selvagem.” - Sereno e Selvagem (Ciberpajé). 

Tal é a natureza da pungente produção de Edgar Franco. Um artista que cria no deleite da liberdade de criar pelo prazer de criar. Uma arte que não segue ordens de métricas ou parâmetros de engajamento ditados por algoritmos autoritários e emburrecedores. Assim trabalha o Cão Breu Pós-Humano, desfazendo-se dos gestos robóticos do dia-a-dia contemporâneo. Resgatando sua Voz Interior e manifestando-a em sua produção.

Fausto Ramos 

Fausto Ramos é licenciado em Matemática e criador do portal Caosofia, onde compartilha conteúdos em vídeo e textos sobre Magia, Psicologia, Filosofia e Cultura. No momento, suas pesquisas se concentram no campo da Psicologia Junguiana e suas relações com a Magia do Caos.
Contatos: https://www.youtube.com/CaosofiaCanal  - http://www.facebook.com/CaosofiaCanal  -  http://www.instagram.com/CaosofiaCanal 

Saiba mais e ouça o CD Cão Breu Pós-humano nesse link, ou clicando na arte da capa abaiixo:


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