Captura de tela do site Caneta e Café |
Entrevista com Ciberpajé
Edgar Franco realizada por Francisco Costa para o site Caneta Café - Coluna de
Quadrinhos
1) Por que utilizar os
quadrinhos como ferramenta de educação?
EF- Os quadrinhos emergiram como uma linguagem expressiva e artística única e de possibilidades comunicacionais ilimitadas. Eles fundem de maneira singular a linguagem escrita às imagens e essa soma amplifica seu potencial ao articular a escrita, que é naturalmente uma atividade de cérebro esquerdo - lógico, ao desenho/imagens que trabalham cognitivamente o cérebro direito - intuitivo. Pode ser utilizada em todas as idades da pré-escola ao pós-doutorado, existem muitas pesquisas desenvolvidas nessa linguagem, até teses de doutorado. Um bom exemplo do potencial educacional dos quadrinhos é o trabalho que a editora da UFG lançou em 2013, o álbum "BioCyberDrama Saga", parceria entre mim e o lendário quadrinhista Mozart Couto. Esse trabalho, que envolveu uma pesquisa de 15 anos, inclui uma longa introdução tratando do processo criativo do universo ficcional em que foi desenvolvido e pretende refletir sobre a emergência do pós-humano diante dos processos hipertecnológicos recentes. Ele pode ser utilizado transdisciplinarmente por muitos cursos de graduação como material paradidático.
Slide de comunicação oral no Cielli, Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários na Universidade Estadual de Maringá, sobre o potencial de Biocyberdrama Saga para o ensino relacionado à Ciência, Tecnologia e Sociedade, em 2014 |
Ciberpajé e IV Sacerdotisa apresentando comunicação oral no Cielli, Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários na Universidade Estadual de Maringá, sobre o potencial de Biocyberdrama Saga para o ensino relacionado à Ciência, Tecnologia e Sociedade, em 2014 |
2) Qual o diferencial de
um trabalho acadêmico feito dessa forma?
EF- A tradição acadêmica é a da linguagem escrita, certos setores tradicionalistas da universidade por anos tinham até ojeriza das imagens, então chegamos ao século da hiperinformação em que as pessoas são expostas a milhares de imagens técnicas diariamente e a universidade teve que se dobrar à imagem, finalmente. Essa postura arcaica de minorar a importância da imagem na formação cognitiva, intelectual e cultural era um erro grave. Os quadrinhos possuem um status especial nesse contexto já que como linguagem, naturalmente fundem escrita e desenho. Gostaria de ver as teses de todas as áreas feitas em quadrinhos, seria um ganho imensurável, a imagem tem um poder de síntese grande, mas em certos momentos o texto ainda é muito necessário, as HQs fundem os dois.
3) Você já orientou TCCs
e Mestrados em quadrinhos. Qualquer trabalho pode ser feito dessa forma?
EF- Tenho orientado dezenas de TCCs, projetos de iniciação científica, mestrados e, mais recentemente, doutorados no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG, esses trabalhos trazem pesquisas múltiplas no espectro dos processos de criação e quadrinhos. Todas elas envolveram aspectos teóricos e também a prática artística, ou seja, o produto final foi uma monografia/dissertação ou tese em linguagem escrita que versa sobre a produção prática, sendo essa uma ou várias histórias em quadrinhos criadas como parte da pesquisa. Quanto à utilização da linguagem dos quadrinhos com finalidades didáticas e de aprendizado, penso que qualquer trabalho/pesquisa pode ser apresentado e ou desenvolvido nessa linguagem, isso dependerá exclusivamente das intenções dos desenvolvedores.
4) As universidades e
faculdades estão mais abertas a isso, ou é algo que sempre foi possível, mas
não havia interesse?
EF- A universidade finalmente reconheceu a importância e unicidade da linguagem dos quadrinhos, hoje temos centenas de pesquisadores de todas as áreas do conhecimento pesquisando HQ na academia. O resultado disso é o surgimento de eventos de grande envergadura como as "Jornadas Internacionais de Quadrinhos da USP", evento que em sua terceira edição, em 2015, reuniu quase 300 artigos inéditos de pesquisadores de todo o país e da América Latina. Recentemente também foi criada no Brasil a ASPAS - Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial, primeira associação nacional dedicada à pesquisa interdisciplinar de quadrinhos, confiram o site da ASPAS . Eu tenho participado de bancas de mestrado e doutorado em vários estados envolvendo a pesquisa sobre quadrinhos em áreas tão diversas quanto filosofia, história e matemática!
5) O
que tem orientado e já orientou nesse segmento?
EF- Foram
dezenas de trabalhos envolvendo processos criativos e linguagens intermídia
emergentes. Já orientei TCCs investigando a criação de HQtrônicas, a relação
entre HQs e games, e muitos envolvendo o processo criativo de quadrinhos
autorais como base; dentre as dissertações de mestrado defendidas no Programa
de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da UFG destaco: "Web Arte,
Experiências Colaborativas e o Desenvolvimento da HQtrônica Interminatum",
de Fernanda Machado de Souza, "Processos Criativos de Histórias em Quadrinhos
Poético Filosóficas: Investigação teórica e produção poética", de Matheus
Moura; "HQtrônicas e Realidade Aumentada (RA): Novas Potencialidades
Narrativas", de Jordana Inácio de Almeida Prado; "Narragonia 3.0:
Ficção Científica e Tecnognose em Experimentações Narrativas Gráficas", de
Gabriel Lyra Chaves; "[ENTRE]
MUNDOS: Uma Narrativa Ficcional Transmídia", de Veramar Martins. No
momento estou orientando 4 teses de doutorado que pesquisam quadrinhos:
quadrinhos visionários, de Matheus Moura; realidade e ficção nos quadrinhos, de
Ivan Carlo Andrade Oliveira; o Pateta faz história, de Ligia Maria de Carvalho
e quadrinhos e animação, de Márcio Jr. Também estou orientando um trabalho de
iniciação científica que versa sobre HQforismos, novo subgênero dos quadrinhos poético-filosóficos
que funde HQ e aforismo e foi nomeado por mim e pela pesquisadora doutoranda
Danielle Barros (FIOCRUZ/RJ), a aluna que desenvolve a pesquisa é Natasha
Hoshino do Amaral.
Matéria no Caneta e Café
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