sexta-feira, 8 de novembro de 2019

[Resenha] Álbum em Quadrinhos "Enteogênicos": Quimeras em hipercomunicação com o multiverso. Por Douglas Guerrero

Capa de Enteogênicos após efeito da IA Deep Dream

Enteogênicos, novo álbum em quadrinhos do Ciberpajé, tem como tema central a evolução espiritual, seja pessoal ou racial (no sentido da espécie humana como um todo). No âmbito pessoal mostra partes do processo da transmutação do artista Edgar Franco para a figura do Ciberpajé. E no âmbito racial, nos traz as questões muito em voga atualmente.

Uma coisa que aprendi logo de cara quando tomei contato com a obra do artista Edgar Franco (ele não era o Ciberpajé ainda), lá no início dos anos 2000, foi que suas imagens sempre são mais importantes que o texto, não importando o grau de elaboração dos mesmos, isso devido à complexidade de suas formas onde vários arquétipos são fundidos numa quimera que toma vida em seus personagens pós-humanos.

E as quimeras, orgânicas e mecânicas representadas no álbum são a verdadeira essência de Enteogênicos, os textos funcionam como legendas, que tentam transmitir a essência básica da obra, que deverá ser revista várias e várias vezes e em estados emocionais e psíquicos diversos para um entendimento mais profundo. Aqueles que não possuem intimidade com gênero de HQs poético-filosóficas e por consequência não estão cientes disso, tendem a cair na armadilha de crer que algumas delas sejam meros chavões comparáveis às mensagens que que pululam os status das redes sociais.

Na terceira “leitura” ignorei todas as frases e me concentrei nas figuras que para mim não eram mais as mesmas nem da primeira e nem da segunda leitura. A exemplo das tatuagens do “Homem Ilustrado” de Bradbury, não são totalmente estáticas e tiveram pequenas alterações que trouxeram novos sentidos para as histórias.

Poeticamente quimeras são interpretadas como sonhos fantásticos, desejos quase inalcançáveis. Desejos esses que, no caso do Ciberpajé, parecem ser o ingresso humano na consciência cósmica onde finalmente desfrutará de uma existência verdadeiramente harmônica com toda a Criação.
Exemplo das quimeras: HQforismo publicado no álbum em quadrinhos "Enteogênicos"

Mas cuidado! Em cada uma dessas quimeras também há os olhares de esfinges, nos quais parece estar subentendida a conhecida frase de sua ancestral mais notória. Pois se não decifrarmos os enigmas que nos farão evoluir, as quimeras nos devorarão sem a menor piedade. Transformando a humanidade em um sombrio mito de um passado a ser temido...

Como podemos ler nas palavras do próprio Ciberpajé, o álbum Enteogênicos foi resultado de experiências xamânicas tidas através de ingestão de Ayahuasca e cogumelos. Ambas possuem a capacidade de induzirem a "Estados Não Ordinários de Consciência". Se os efeitos são os mesmos ou apenas similares, não sei dizer, nunca travei contato direto com nenhumas delas. O contato “acadêmico” também é quase nulo. Porém, ao ler a obra, vi que o cogumelo além de ter sido ingerido para a composição de muitas das histórias, também é presença gráfica marcante nas páginas e já dá as caras logo na capa. E que ele é tido como uma tecnologia pré-humana. Isso tudo me fez lembrar de uma de minhas leituras no início dos anos 90 e que acabou me dando uma perspectiva no mínimo inusitada de quase toda a obra.

O psiconauta Terence McKenna escreveu em seu livro, “Alucinações Reais”, sobre o cogumelo ser uma entidade alienígena e inteligente que havia chegado à Terra em tempos imemoriais. Ainda segundo McKenna, ele é dotado da capacidade de hiper-comunicação, o que lhe permite se comunicar com todos os cogumelos existentes, não só em nosso mundo, como também em todo universo e realidades onde seus esporos tocaram o solo. É como uma rede de computadores orgânicos que interage com o Multiverso. Dessa feita, consumir cogumelos Psilocybe cubensis seria como implantar chips orgânicos em nossos corpos para acessar informações dessa rede, onde cada site seria um mundo, uma realidade com possibilidades infinitas e todas as quimeras presentes em Enteogênicos seriam realmente a Tábua Esmeraldina para entendermos a linguagem desses mundos. 

*Douglas Guerrero é entusiasta, colecionador e estudioso das HQs poético-filosóficas e do quadrinho alternativo.
Douglas Guerrero e o Ciberpajé com o exemplar autografado para ele durante a SketchCon III, em São Paulo

Saiba mais e adquira Enteogênicos clicando na imagem da capa do álbum abaixo:



Enteogênicos - Álbum em quadrinhos
Autor: Edgar Franco (Ciberpajé)
52 páginas - Formato 21x26 cm - Capa colorida e miolo em preto e branco 
Editora: Criativo, São Paulo, outubro de 2019
ISBN: 978-85-8258-118-6

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