segunda-feira, 22 de abril de 2019

[Resenha] Ecos Humanos: uma obra imbricada de discursos pós-humanísticos, poético-filosóficos e apelo ecológico-ambiental, por Carlos De Brito Lacerda




Parceiras não são facilmente arranjadas e consolidadas, quanto/quando mais as que conseguem ser exitosas. Ecos Humanos - álbum em quadrinhos da Editora Reverso (FRANCO; SANTOS, 2018) é um exemplo de publicação quadrinística exitosa. Não apenas em aspectos editoriais, como também argumento, roteiro e arte, mas em destaque a proficiência dos dois autores dessa obra, Ciberpajé (Edgar Franco) e Eder Santos, roteiro e arte respectivamente, pois é claro e evidente a integração desses dois em uma obra imbricada de discursos pós-humanísticos, poético-filosóficos e apelo ecológico-ambiental. Fluência de ideias articuladas indissoluvelmente em Arte (res)significada. Ponto. 

Temos nesse álbum um bioma cerrado apresentado/representado num misto de distopia futurística e fábula com seres antropomórficos ou temos um "causo" ou conto com fundo moral? Uma possível resposta poderia vir da opinião de leitura de cada pessoa, melhor ainda se feita uma discussão pós-leitura em um grupo de viventes, independentes de serem cerradeiros ou de outro bioma, visto que há universalidade geo-ambiental em Ecos Humanos. Os personagens e a trama. A escolha do casal "anfitrião", lobos-guará e outros seres estaria carregada de simbolismos de um cotidiano de vida, numa repetitiva dependência por recursos naturais, em especial alimentos sólidos e água, assim como há presença de símbolos quase fetichistas envolvendo religiões e valores materiais financeiros, quando é o onde e o hoje que urge, sendo desprovido de cuidado com seu meio imediato e natural e com o outros seres desse meio natural ou naturalizado. 

O mais significativo dessa obra possivelmente seria o "convite ao espelho" que os autores nos fazem, por via de reflexão lúcida ou em estado alterado de consciência, visto que a noção de reflexão sobre atitudes e consequências seria provocada pela ingestão de cogumelos "alucinógenos" executada por um personagem, potencializando a empatia com a essência da obra em seus questionamentos existenciais e atitudinais frente à vida no planeta. No que tange às páginas finais dessa primorosa HQ, deixo o convite à interpretação das últimas mensagens pictóricas: estaríamos aptos a compreender-nos como corresponsáveis pela vida no planeta ou haveria um vislumbre de um futuro desolador edificado por nossas ações mecanizadas do cotidiano? Faço o convite para essa leitura, claramente provocativa e poeticamente dramática. 

(CARLOS DE BRITO LACERDA)

*Carlos de Brito Lacerda é educador e geógrafo (UFG), emprega com excelentes resultados a linguagem dos quadrinhos e dos fanzines para o ensino e o autoconhecimento dos discentes. Também é ativista cultural em prol dos quadrinhos no estado de Goiás tendo organizado múltiplos eventos e atividades em prol das HQs.

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