Por Daniel Death (a.k.a Roderick
Totentanz).
Leia a versão original em inglês no link
1. Olá Edgar, é uma honra recebê-lo por aqui, gostaria primeiramente que
você me explicasse como entrou no mundo da música experimental para que
pudesse criar a entidade Posthuman Tantra. Quais foram suas primeiras
influências?
A honra é toda minha! Comecei na música ainda
bem cedo, tocando contrabaixo de forma autodidata em bandas de death metal de
minha cidade natal Ituiutaba, MG. Eu tinha 16 anos e além das linhas de
baixo, escrevia as músicas e desenhava logos, capas das demos, uma atividade
que se ampliou pelo país e fora dele, pois com isso fiquei relativamente conhecido
no underground e hoje somo mais de 100 capas de CDs criadas por mim para bandas
do Brasil e do mundo. Com o tempo fui distanciando-me da música e dedicando-me
mais às narrativas gráficas, HQs e ilustrações, mas retomei o interesse por
compor em 1999, quando comecei a criar minhas HQtrônicas – histórias em
quadrinhos eletrônicas - no mestrado em multimeios da Unicamp e queria
desenvolver as trilhas sonoras para elas. Assim aconteceu o meu encontro com a
música eletrônica e digital, comecei a utilizar softwares para produzir as
trilhas sonoras e me encantei com as possibilidades da sonoridade digital.
Obviamente passei a ouvir bandas que utilizavam sonoridades eletrônicas para
criar ambiências obscuras e encontrei entidades como Abruptum, Merzbow, Brighter
Death Now, Mental Destruction, Coph Nia e também comecei a curtir muito trilhas
sonoras de mestres do eletrônico como John Carpenter e Mike Oldfield, além de
minha admiração pelo progressivo de bandas como Tangerine Dream e King Crimson.
O Posthuman Tantra surgiu durante minha pesquisa de doutorado em artes na USP,
como parte da produção transmídia para meu universo ficcional da “Aurora
Pós-humana”, o objetivo é e sempre foi criar ambiências sonoras para minhas
ficções pós-humanistas, e a idéia é ser experimental, não estar preso a nenhum
estilo ou tendência musical. O Posthuman Tantra em suas performances tem o grupo formado por mim, Ciberpajé Edgar Franco (musicista e performer), I Sacerdotisa Rose Franco (musicista e performer), Luiz Fers (Performer e Figurinista) e Lucas Dal Berto (VJ).
Foto José Loures |
2. E como surgiu a idéia de gravação do primeiro álbum da banda, “Pissing
Nanorobots”? Como foi o processo, você entrou em estúdio ou utilizou de
tecnologias computadorizadas fora dele para a concepção do álbum?
Pissing Nanorobots foi um experimento ousado e
visceral, utilizei apenas um computador Pentium 4 e alguns softwares e plug-ins
de gravação para sua total composição e gravação, e o PC nem tinha uma placa de
som especial. Foi algo totalmente caseiro, mas que surtiu um resultado
inesperado e o álbum recebeu grande atenção fora do Brasil, com resenhas
elogiosas em veículos importantes como o site bielorusso “The Machinist” que pontuou-o com a nota máxima. Até hoje é um dos
trabalhos preferidos de muitos fãs da banda pelo mundo, mesmo depois de eu ter
gravado outros álbuns com produção de qualidade e já somado mais de 30 horas de
música lançadas pela banda
em 10 anos de existência. O álbum trata dos paradoxos existenciais das imbricações tecnológicas entre homem, biotecnologia, robótica, prostética e tecnofetichismo e as músicas são orgânicas e causam náuseas e tonteiras em muitos que se dispuseram a ouvi-lo na íntegra com bons fones de ouvido. Cuidado! (Risos).
em 10 anos de existência. O álbum trata dos paradoxos existenciais das imbricações tecnológicas entre homem, biotecnologia, robótica, prostética e tecnofetichismo e as músicas são orgânicas e causam náuseas e tonteiras em muitos que se dispuseram a ouvi-lo na íntegra com bons fones de ouvido. Cuidado! (Risos).
3. Dentre tantos lançamentos, um que se destaca é a sua longa parceria
com a grandiosa banda francesa Melek-Tha: como surgiu essa amizade entre
você o grande Lord Evil?
Foi algo curioso e natural, eu era fã do
Melek-tha e tinha dois CDs da banda, encontrei o endereço postal de Lord Evil
em seu site e enviei a ele - sem nenhuma pretensão - o primeiro álbum do
Posthuman Tantra, “Pissing Nanorobots” e uns fanzines meus. Lord Evil me
escreveu dizendo que ficou entusiasmado com a sonoridade da banda e com minha
arte e convidou-me imediatamente a realizarmos um álbum junto. Então fizemos a
parte I da “Quadrilogia Kelemath”, que narra a invasão de uma espécie
pós-humana vinda da galáxia de Sirius e que envolveu música e cards criados por
mim. O sucesso dessa primeira parte nos levou a desenvolvermos as outras 3
partes subsequentes, sempre lançadas em boxes especiais na França e com
tiragens limitadas e numeradas. Depois disso fizemos outras parcerias incríveis
como nos álbuns triplos “Asylum of Slaves” e “Necronomicon Gnosis”, lançados também
na França e com músicas das duas bandas e outras criadas em parceria por nós
dois. Lord Evil tornou-se um amigo e espero criar outras obras em parceria com
ele no futuro. O status global do Posthuman Tantra como banda subiu muito
devido à essas parcerias, pois o Melek-tha é um culto global! Depois das
parcerias com Lord Evil recebemos a proposta de assinar com a gravadora Suíça
Legatus Records, em 2007, e iniciamos uma parceria que tem rendido bons frutos.
Foto Ciberpajé Edgar Franco |
4. E conte-nos mais sobre a concepção da Quadrilogia Kelemath.
Foi um trabalho muito prazeroso de se fazer,
Lord Evil me deu total liberdade criativa e traçamos um plano geral para a saga
de invasão à Terra, baseei-me em meu universo ficcional da “Aurora Pós-humana”.
As quatro boxes, que levaram 4 anos para serem gravadas e lançadas, uma por
ano, narram estágios dessa invasão, até
a total dizimação da espécie humana na parte final com o sugestivo e simples
título de “The End”. As boxes somam mais de 12 horas de música e mais de 20
cards criados por mim, com meus desenhos retratando criaturas e outros
elementos da invasão. Elas tiveram tiragem limitada e numerada, por isso
tornaram-se itens de colecionador. Foi até feita uma tiragem limitadíssima de
25 cópias de uma box reunindo as quatro partes! Apesar da dificuldade pra
conseguir esses itens originais hoje em dia, já vi a quadrilogia completa
disponibilizada em muitos blogs e sites para download, principalmente em
servidores russos.
5. Sabemos que você é um artista multimídia, e que um dos seus maiores
destaques fora do projeto musical, é o seu trabalho com artes, sendo que
você pessoalmente fez a arte da capa de várias coletâneas e inclusive a
capa de renomadas bandas de metal brasileiro. Qual a sua maior influência?
Nota-se a olhos vistos que HR Giger é uma delas, mas gostaria de citar
outras?
Sim, tenho trabalhos em múltiplas mídias, desde
instalações interativas, passando por sites de web arte e chegando às
ilustrações e quadrinhos, inclusive mantenho a revista em quadrinhos anual
“Artlectos e Pós-humanos”, publicada pela editora Marca de Fantasia, que já
está no número 8, e traz HQs curtas que se passam no meu universo ficcional da
“Aurora Pós-humana”. Essa revista foi premiada com o Troféu Nacional Bigorna
para os melhores do quadrinho brasileiro em 2009. Ano passado lancei o álbum “BioCyberDrama
Saga”, pela Editora da UFG, uma parceria com o lendário quadrinhista Mozart
Couto, a obra foi indicada ao Troféu HQmix 2014 de melhor Edição Especial
Nacional. Minhas influências são múltiplas e não ficam restritas ao escopo das
artes plásticas, considero-me influenciado por cinema, literatura, quadrinhos,
música, poesia, escultura e todas as formas possíveis e impossíveis de
expressão. Mas vou falar apenas de Giger aqui, pois é um momento triste,
perdemos um dos maiores gênios da arte. A primeira vez que vi a arte de
H.R.Giger fiquei fascinado e deslumbrado, suas imagens eram ao mesmo tempo
repulsivas e sagradas, eróticas e grotescas, sensuais e macabras. Os mundos que
ele criava eram únicos, cosmogonias arquetípicas que vislumbravam aspectos
transcendentes de nossa espécie. Sua obra visionária motivou até artigos de
Stanislav Grof, um dos criadores da psicologia transpessoal que via na arte de
Giger aspectos pregnantes do chamado "trauma perinatal". Em 2009 estive
na cidade do mestre, Gruyère, na Suíça, e passei 4 horas visitando seu
deslumbrante museu, uma das experiências de mergulho artístico mais fascinantes
da minha vida, pois era o museu que eu mais sonhava em conhecer em toda a
Europa e o amigo Mike Vonlanthen, proprietário da gravadora “Legatus Records”,
me deu esse inestimável presente na época que fui à Suíça para acompanhar a
masterização do segundo álbum do Posthuman Tantra lançado pela Legatus.
Desenhei no livro de visitas do "Museu H.R.Giger" uma arte em
homenagem a ele e minha gratidão por existir e nos brindar com sua obra
magnífica. Tenho certeza que ele leu, pois ia sempre ao museu. Depois da
emocionante visita ao museu, fomos ao Bar H.R.Giger, e lá tirei muitas fotos,
algumas utilizadas em matérias sobre o Posthuman Tantra, como na entrevista
para a revista Comando Rock # 86. O grande mestre iconoclasta Giger tornou-se
encantado, receba minha reverência e minha gratidão por transformar-me através
de sua obra.
Foto I Sacerdotisa Rose Franco |
6. Voltando ao campo musical, qual é o seu trabalho ou participação
favorito?
É quase um clichê dizer isso, mas as obras são
como filhos, é difícil eleger um trabalho do Posthuman Tantra que eu considere
o melhor, todos têm para mim sua importância e retratam fielmente o momento da
banda e de minha experiência de vida. Portanto elejo como o melhor trabalho
aquele em que estou envolvido no momento, pois ele reflete o que sou agora.
Estou gravando meu terceiro álbum pela Legatus Records, “The Cybershaman’s
Rising”, envolvido com o processo criativo já há mais de dois anos, não tenho
pressa, mas trabalho com muito entusiasmo nele. O mesmo vale para as
participações especiais, já participei de mais de uma dezena de álbuns, e os
convites partem inclusive da cena metal brasileira, só pra citar algumas bandas
em que realizei participações especiais em CDs: Lycanthropy, Scibex, Psychotic
Eyes, Alpha III, Maldoror, Each Second, Melek-tha (França), Xa-mul
(Inglaterra), Kenji Siratori (Japão), entre muitas outras.
7. Como não poderia deixar de ser, sabemos que você tem influências
dentro do heavy metal e suas variadas vertentes: gostaria de citar algumas
bandas que te influenciaram?
Sim, gosto muito de heavy metal, nas mais
diversas vertentes, indo do melódico ao black metal, assim como de rock em
geral e música erudita. Algumas bandas de metal que considero influências para
o Posthuman Tantra e que obviamente gosto imensamente são – vou citar apenas 11,
pois a lista é imensa: Celtic Frost (e agora o Tryptycon do grande Tom
Warrior), Katatonia, Anathema, Marduk, Type O Negative, Omen, Manilla Road,
Sarcófago, Medicine Death, Taurus, Mutilator, e por aí segue!
Foto José Loures |
8. E o que você tem a dizer sobre a banda Alpha III? Acredito que Amyr
Cantúsio Jr seja um dos artistas mais injustiçados da música Brasileira,
não? Como surgiu essa amizade?
Amyr é um grande amigo com o qual já realizei
importantes parcerias, uma honra inominável para mim, pois o considero um dos
maiores tecladistas da história do rock, um gênio sem precedentes, mágico criador
de melodias. Já conhecia a obra magistral de Amyr através de alguns vinis que
tinha adquirido do Alpha III, sua banda, e em 2007, quando do lançamento do meu
primeiro álbum pela “Legatus Records”, o “Neocortex Plug-in”, enviei um pacote
promocional com o CD para a extinta revista “Rock Hard Valhalla”. Cantúsio era
redator da revista e foi incumbido de fazer a resenha de meu CD, e escreveu uma
resenha sensacional, compreendeu perfeitamente a proposta e deu nota 9 para o
álbum, ele entrou em contato comigo e ainda realizou um entrevista que foi publicada
juntamente com a resenha. Houve uma identificação imediata entre nossas
propostas e surgiu a possibilidade de criarmos juntos devido à nossas
afinidades estéticas, filosóficas e mágicas. A primeira parceria foi o álbum
“Gothik Kama Sutra” do Alpha III & Posthuman Tantra, no qual tive a chance
de criar faixas em parceria com esse gênio da música, de lá pra cá realizamos
outras parcerias e Amyr acaba de gravar uma faixa para o tributo ao Posthuman
Tantra que será lançado pela gravadora “412 Recordings”, da Inglaterra. Um
artista genuíno e do calibre de Amyr não está preocupado com reconhecimento e
sim em criar sempre, ele segue lançando álbuns e compondo e tem um público fiel
que acompanho sua obra que está além de seu tempo e só será devidamente
desfrutada por gerações futuras. Amyr Cantúsio Jr é um exemplo dos grandes
artistas geniais que seguem à margem no underground, que dão ao mundo o que ele
precisa e não o que ele deseja.
N.D.E. O Tributo "Posthuman Tantra: Ten Years of Posthumanity"foi lançado em novembro de 2014 pela gravadora inglesa 412 Recordings e incluiu a participação de 14 bandas prestando sua homenagem ao Posthuman Tantra.
Flyer divulgação do Tributo de 10 anos do Posthuman Tantra |
9. Como são as performances do Posthuman Tantra? Em que lugares em com
quais equipamentos você costuma se apresentar?
O Posthuman Tantra pretende ser um casamento constante entre as minhas
criações visuais, o universo da música eletrônica e as performances transmídia.
Desde sua criação, em 2004,
a banda já participou de dezenas de compilações em
quatro continentes e lançou álbuns no exterior, em países como França, Suíça e
Japão; além de ter se apresentado em quatro regiões brasileiras durante eventos
acadêmicos nacionais e internacionais. As performances ao vivo do Posthuman
Tantra configuram-se como apresentações multimídia.
Elas contam com vídeos exclusivos feitos com minhas artes, aplicações
computacionais e eletrônicas e ações artísticas exclusivas criadas por mim em
parceria com os integrantes do grupo de pesquisa CRIA_CIBER, que eu coordeno e
está ligado ao “Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da FAV/UFG”.
O uso de efeitos computacionais em realidade
aumentada confere um caráter “cíbrido” às performances, criando os chamados ambientes cíbridos - que integram simultaneamente o
real e o virtual. O Posthuman Tantra foi uma das primeiras bandas do mundo a usar
esse recurso no palco. As performances do grupo envolvem fortes aspectos
tecnognósticos e propõe aproximações entre transcendência e hipertecnologia
através de uma contextualização baseada na ficção científica e contextualizada
no universo ficcional transmídia da “Aurora Pós-humana”. Ao mesmo tempo,
repudia a assepsia das imagens publicitárias que induzem ao consumo e à
destruição da biosfera perpetrada pelas multinacionais auxiliadas pelas grandes
agências publicitárias globais. Os atos das performances são encarados como
“ciberpajelanças”, pois unem de maneira singular aspectos da cultura ancestral
nativa das tribos brasileiras, sobretudo suas percepções transcendentes através
da incorporação de totens míticos animais e vegetais nos rituais de cura e
energização, às novas perspectivas pós-humanas abertas pela criação e
incorporação de mundos digitais, cosmogonias computacionais possibilitadas pelo
amplo universo das imagens numéricas e da hipermídia. O ciberpajé da
performance hibridiza o mundo das realidades vegetais - acesso às cosmogonias míticas através do
uso de enteôgenos - com o das realidades
cíbridas - criação de cosmogonias digitais -, gerando um novo corpus
transcendente. Aliamos ao contexto da ciberpajelança aspectos
tecnofetichistas amplificados com base na interconexão acelerada entre o ser
humano e novas tecnologias como robótica, telemática, realidade virtual e transgenia.
Propondo um deslocamento conceitual para um futuro vislumbrado onde a
sexualidade envolve novos servomecanismos sexuais, híbridos humanimais
transgênicos, inteligências artificiais sensuais e taras ancestrais. Desde 2010
quando iniciamos as performances ao vivo, já somamos mais de 20 apresentações
em eventos de caráter acadêmico como o “ART# Encontro Internacional de Arte e
Tecnologia” (Museu da República, Brasília), e importantes festivais de música
alternativa como o “Woodgothic Festival” e o “Goiânia Noise Festival”, já
passamos por 4 regiões brasileiras, só não nos apresentamos ainda na região
norte. O set de palco do Posthuman Tantra conta com 3 computadores, controlador
midi Ozone, sintetizadores Korg, mesa de 4 canais, datashow e alguns instrumentos
acústicos, além de todos os figurinos exclusivos e dispositivos para efeitos de
mágica eletrônica.
10. Seu trabalho inclui além de música, um híbrido de audiovisual quase
que inédito e além dos padrões brasileiros: existem outras pessoas por trás
da sua música pós-humanista?
É importante ressaltar que em estúdio o
Posthuman Tantra é uma one-man-band, eu componho e gravo todos os instrumentos
e vozes, eventualmente contando com a participação de alguns convidados
especiais. Mas nos palcos o Posthuman Tantra é um trabalho em conjunto, a
concepção, criação e direção continua sendo minha, mas conto com a participação
efetiva de muitas pessoas para a produção geral e nas performances. A única
pessoa fixa na equipe de palco é a I Sacerdotisa da Aurora Pós-humana, Rose
Franco, musicista e performer que esteve em todas as performances realizadas até
o momento. Os demais integrantes são pesquisadores do grupo de pesquisa
CRIA_CIBER, a maior parte deles orientandos meus de iniciação científica,
mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da
UFG – Universidade Federal de Goiás, em Goiânia – universidade em que eu
leciono. Muitos fazem apenas uma participação esporádica fotografando uma das
apresentações ou auxiliando-me na edição de um dos vídeos do show, outros estão
conosco há muito tempo, como o genial figurinista e performer Luiz Fers, que
cria em parceria comigo todas as indumentárias, máscaras e demais acessórios
utilizados nas performances. Fers já está trabalhando conosco há quase quatro
anos, sempre presente nas performances atuando também como auxiliar de palco, a
sua pesquisa de iniciação científica em artes visuais, orientada por mim, foi a
criação de parte dos figurinos do Posthuman Tantra. Além de Luiz, dezenas de
outras pessoas colaboraram e colaboram com o Posthuman Tantra e recebem os
devidos créditos à época de suas participações, meu agradecimento sincero a
todos eles. Eventualmente pessoas que não integram o grupo de pesquisa também
colaboram com a banda, como o animador George Chiavegato, que desenvolveu em
parceria comigo a animação que está presente no ato final do show.
Foto José Loures |
11. Conte-nos como aconteceu a censura na dita faculdade Unievangélica?
O que realmente ocorreu e o que você pensa de instituições de ensino em
que a diretiva é censurar a arte ao invés de fortificá-la? O que você
acredita que possa ter ocorrido de tão ofensivo?
No dia 22 de outubro de 2013 tivemos nossa
performance interrompida na quarta música (de 8 programadas) durante o “Congresso
Internacional de Pesquisa, Ensino e Extensão da UniEvangélica de Anápolis/GO”.
Ao final do quarto ato, intitulado "Iniciação sexual com um robô
multifuncional", a organização do evento acendeu as luzes do auditório e
numa atitude de explícita censura bradou do fundo do auditório que a
apresentação estava encerrada, causando enorme constrangimento em toda a equipe
do Posthuman Tantra. O tempo da apresentação tinha sido combinado previamente
com a organização e teríamos ainda mais de 25 minutos, o que daria para completar
o set. Após a atitude inquisitória de censura explícita, tentei ponderar mas
não fui ouvido e declarei então para todos os presentes que estávamos sendo
censurados, tudo está registrado em vídeo que pode ser visto no canal do
Posthuman Tantra no Youtube. O Posthuman Tantra foi convidado pela organização
do evento, que ao realizar o convite deveria saber do que se trata nossa
performance artística - existem vídeos, fotos e detalhes sobre ela em nosso
canal do Youtube, Myspace e Facebook. A apresentação foi programada com os
mesmos atos que têm sido apresentados em 4 regiões brasileiras, em eventos
nacionais e internacionais de pesquisa. Inclusive , no dia 20 de setembro de
2013, realizamos uma apresentação na UEG (Universidade Estadual de Goiás) em Anápolis
com excelente recepção e resposta do público presente. Não bastasse o ato de
censura e todo o constrangimento que passamos ainda ocorreu uma pressão para
que deixássemos o palco o mais rápido possível. O Posthuman Tantra é uma ação
artística que integra as investigações do grupo de pesquisa CRIA_CIBER,
cadastrado no CNPq e ligado ao Programa de Pós-graduação (mestrado e doutorado)
da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, do qual sou
professor permanente. Todos os integrantes presentes no palco eram
pesquisadores do grupo de pesquisa. Um episódio triste, que denota uma atitude
discriminatória e arcaica de uma instituição universitária diante de uma
apresentação de caráter artístico que se propõe a gerar reflexões e promover
diálogos. Uma universidade deve estar aberta à "diversidade", ao
"universo de saberes possíveis". Esclareço que o Posthuman Tantra não
se liga a nenhum dogma e continuaremos nossa saga ainda com mais entusiasmo e
energia! Destaco ainda que no dia 5 de
novembro de 2013 foi enviada - pela coordenação do Programa de
Pós-graduação em Arte e Cultura Visual, da FAV/UFG, uma moção de repúdio à
censura ao Posthuman Tantra que aconteceu durante o Congresso Internacional de
Pesquisa, Ensino e Extensão da UniEvangélica de Anápolis/GO. A Moção foi
encaminhada aos coordenadores do evento que assinaram o convite impresso feito
à Edgar Franco e equipe, sendo eles: o Reitor da UniEvangélica, o Prof. Msc.
Carlos Hassel Mendes da Silva; o Prof. Dr. Francisco Itami Campos, Pró-reitor
de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária; o Chanceler da
UniEvangélica, o Sr. Geraldo Henrique Espíndola; e o Pró-reitor Acadêmico Prof.
Ms. Marcelo Mello Barbosa. Nunca obtivemos nenhuma resposta à essa moção de
repúdio e nenhum esclarecimento daquela instituição. Quanto a ser ofensivo,
acredito que o que assustou os organizadores foi sua mentalidade medieval e
despreparada que não teve o mínimo cuidado de tentar compreender o contexto de
nossa performance e as reflexões críticas sobre as relações entre homem e
tecnologia. Para mentes tacanhas representamos uma iconoclastia profunda, somos
os arautos da dúvida que abalam as estruturas dos dogmas, que ameaçam tirar os
incautos de seus úteros acolhedores, das mentiras seguras em que estão mergulhados.
Muitas pessoas saem impactadas de nossas performances e a recepção é sempre
extremista, ou gostam muito ou odeiam, e as duas reações nos interessam. Esse
ato de censura foi uma prova para nós de que o que fazemos tem relevância, não
criamos arte para entreter idiotas, criamos arte para nos expressarmos diante
das mazelas desse mundo, assim é, assim será.
Foto José Loures |
12. E para terminar, gostaria que você nos dissesse se tem algum plano
ou convites para apresentações fora do Brasil, pois acredito que os fãs Norte
Americanos, Europeus e Australianos estejam interessados em suas
performances! Muito obrigado pelo tempo concedido, abraço pós humanista!
Já recebemos sim alguns convites, de promotores
da Inglaterra e da Suíça, nesse caso para realizarmos turnês com algumas datas,
incluindo shows na Alemanha e França. Os convites não se efetivaram
simplesmente por questões de agenda, pois sou professor universitário e para
uma turnê nesses moldes propostos preciso estar em período de férias, assim
como tenho que acertar as agendas dos outros integrantes, todos com seus
trabalhos fixos. Estamos em negociação ainda com alguns promotores europeus,
mas por hora prefiro não dar detalhes enquanto não estiver com tudo acertado.
No entanto, tenho como certo nos apresentarmos na Europa, onde está a maior
base de fãs do Posthuman Tantra e um sonho pro futuro é o Japão, onde acredito
que nossas performances ao vivo serão muito bem recebidas. Agradeço a
oportunidade de ser entrevistado por você e convido os interessados em saber mais
sobre o Posthuman Tantra a buscarem nossa comunidade no facebook, nosso canal
no youtube e a visitarem meu blog “A Arte do Ciberpajé Edgar Franco” em http://ciberpaje.blogspot.com.br/
Grande abraço pós-humanista do
Ciberpajé (Edgar Franco).
Confira também este post sobre esta entrevista!
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