quinta-feira, 30 de junho de 2022

Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca (Espanha) destaca o Ciberpajé como pioneiro do gênero Tupinipunk da Ficção Científica Brasileira



O Ciberpajé (Edgar Franco) aparece como pioneiro de um dos gêneros de ficção-científica genuinamente brasileiro, o Tupinipunk, em matéria no site do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca, na Espanha. O texto trata das múltiplas vertentes da FC brasileira na contemporaneidade e de seus autores de destaque. Leia a matéria na íntegra neste link.

A matéria destaca a criação do universo ficcional da Aurora Biocibertecnológica, ainda na segunda metade dos anos 90, que em 2000 passou a ser chamada de Aurora Pós-Humana, marcada pela inclusão de elementos da cultura brasileira em sua essência, sendo assim uma obra pioneira do Tupinipunk. A Aurora Pós-Humana e a obra transmídia do Ciberpajé já haviam sido motivo de um capítulo do livro  "Posthumanism and the Graphic Novel in Latin America" de autoria de pesquisadores PhDs das Universidades de Bristol & Cambridge, dois dos maiores centros de pesquisa do planeta. Os autores Edward King e Joanna Page dedicaram um dos capítulos do livro às obras do Ciberpajé Edgar Franco, focando na análise de produções artísticas transmídia do universo ficcional da "Aurora Pós-Humana", dando especial destaque para o álbum em quadrinhos BioCyberDrama Saga - parceria de Franco com o renomado quadrinhista Mozart Couto, com duas edições lançadas pela Editora UFG -, e também para as criações em música eletrônica e as performances cíbridas do Posthuman Tantra, mas trataram brevemente de outras obras como as HQtrônicas e a revista Artlectos e Pós-humanos (Editora Marca de Fantasia).

O capítulo que analisa as obras de Edgar Franco, o sétimo, foi intitulado "Intermediality and Graphic Novel as a Performance". Os pesquisadores avaliam com propriedade e densidade a concepção de pós-humanismo na poética e ideário do Ciberpajé, detalhando aspectos das paisagens visuais e sonoras de suas obras, e destacam a FC ciberxamânica proposta por Franco como algo originalmente latino-americano, fazendo um paralelo com o movimento da FC conhecido como Afrofuturismo. Os autores do livro pediram permissão a Franco e Couto para utilizarem na capa da obra uma das artes do álbum em quadrinhos BioCyberDrama Saga. O livro, publicado pela Oxford Press pode ser baixado na íntegra neste link.

Capa do livro com arte de Mozart Couto


Fac-símile de parte da matéria no site do Centro de Estudos da Universidade de Salamanca



sábado, 25 de junho de 2022

[Confira na ìntegra] Ciberpajé ministra conferência no "7º Congresso Internacional de Arte, Ciência e Tecnologia e Seminário de Artes Digitais 2022"

O Ciberpajé (Edgar Franco) foi um dos convidados do "7º Congresso Internacional de Arte, Ciência e Tecnologia e Seminário de Artes Digitais 2022" (CIACT07). A conferência plenária aconteceu online no dia 9 de junho e foi intitulada: "Criações transmídia na Aurora Pós-Humana: arte visionária, magia e buscas transcendentes".

Aconteceu inclusive uma sincronicidade curiosa na conferência destacada nas palavras do Ciberpajé:

Ontem, ao final de minha conferência no "7º Congresso Internacional de Arte, Ciência e Tecnologia", aconteceu uma sincronicidade interessante, alguns dos participantes sugeriram um encontro e diálogo entre o neurocientista Sidarta Ribeiro e eu. Admiro as pesquisas e reflexões de Sidarta há anos, e exatamente ontem no meio da tarde, pouco antes de minha conferência, recebi a entrega de seu novo livro que tinha compro. Uma sincronicidade instigante. Espero ainda ter a chance de conhecer Sidarta pessoalmente e bater um papo com ele.


O evento foi aberto ao público e contou com boa presença de público. A conferência do Ciberpajé pode ser assistida na íntegra neste link, ou abaixo:


A conferência pode também ser conferida na íntegra no link do canal oficial do CIACT07 no youtube, para isso arraste o vídeo até o tempo de 8 horas e 27 minutos neste link.

O grupo de pesquisa CRIA_CIBER, coordenado pelo Ciberpajé na FAV/UFG, teve 11 artigos inéditos selecionados para o evento e que integram sua programação, além das obras de dois integrantes estarem na exposição. Siga o instagram do @cria_ciber e confiram abaixo todos os artigos selecionados para o CIACT07.
















[Festival] Ciberpajé abre a edição 2022 do REDE VAMP DARK ONLINE FESTIVAL com a animação ENAMORADOS


A animação experimental Enamorados, obra do Ciberpajé que já integrou a Exposição Internacional Zonas de Compensação 2021 (UNESP), e foi selecionada pela curadoria do Festival Internacional de Cinema de Horror Morce-Go (2022), agora irá abrir a edição 2022 do lendário Rede Vamp Dark Online Festival - que tem como subtítulo o tema Enamorados.

O Festival Internacional Rede Vamp Enamorados nesta edição, que acontecerá nos dias 25 e 26 de junho de 2022, contará com atrações da Argentina, Turquia, Itália, Israel, México e Brasil.

As apresentações começam no sábado com DJs convidados na Fangxtasy! E no domingo teremos as bandas Les Longs Adieux, Ductape, M e l m o t h, Glasnost, Lital Hagayan, Brunella Bolocco Boye, Projeto Ciberpajé, New LINE CODE e Carfax Clan já confirmadas - e algumas atrações especiais surpresa, além da participação da Taroonline conversando sobre o arcano dos Enamorados - tema que embala esta faceta da Rede Vampyrica Dark Online Festival! Assistam na twitch.tv/redevamp

*Sábado 19h30/Saturday 7h30 Brazil - Eastern Time
*Domingo 18h/ Sunday 6h Brazil - Eastern Time
*Mais novidades na http://t.me/redevamp


Enamorados é uma animação pós-humanista e mágicka criada com rotoscopia digital em rede neural. Inspirada no Arcano XXII do Tarô, regente do ano de 2022. A narrativa apresenta o encontro de dois seres pós-humanistas em um contexto hiperpandêmico. A obra é uma produção do Grupo de Pesquisa Cria_Ciber (FAV/UFG).

sexta-feira, 24 de junho de 2022

[Lançamento] "I Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé": novo videoclipe e animação mágicka trata das batalhas transcendentes interiores

O "I Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé" é o novo videoclipe/animação e single - assista neste link - do projeto musical Ciberpajé. Trata-se da segunda animação da série baseada em rituais mágickos de transmutação da Aurora Pós-Humana, a primeira animação ultrapassou as mil visualizações e pode ser conferida neste link. A música é o segundo single do EP “Códigos Cósmicos de Batalha”, parceria com o notório musicista amapaense Alan Flexa, que em breve será lançado pela Lunare Music.

A nova animação - assista aqui - segue contextualizando um ritual mágicko baseado no posismo e passes mágickos do sistema da Aurora Pós-Humana, utilizando objetos ritualísticos simbólicos para a condução do sigilo audiovisual, sendo eles as adagas virgens e a máscara de espinhos da peste pós-humana (obra de Luiz Fers). Durante a ação ritualística, o Ciberpajé encena o embate com seres espectrais, representando as sombras malévolas de seu inconsciente, com as quais precisa reconciliar-se para seguir em sua saga na busca da integralidade de ser. O ritual, - dessa vez apresentando a face do mago guerreiro cósmico em primeiro plano - representa um jogo de integração e desintegração com as criaturas obscuras que habitam seus abismos interiores e que são representadas nas sombras, com destaque para a face do Lobo Ancestral no braço do mago.


O aforismo recitado pela voz do Ciberpajé faz conexões metafóricas com o tratado militar A Arte da Guerra, de Sun Tzu mixando os seus conceitos à busca do equilíbrio interior presente no Tao-Te King, de Lao Tzi. Ele trata do encontro com as sombras interiores, da importância de encará-las frente a frente e jamais subestimá-las, assim como também não tratá-las com desdém ou escárnio. Segue o aforismo recitado na faixa:

O I Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé (Tomo I)

Na guerra você deve ser impiedoso, brutal, certeiro, fatal. Não faça prisioneiros, não detenha escravos, pois eles fatalmente vão se insurgir contra você. Não torture o adversário, mate-o em um só golpe, aprenda os pontos letais e acerte sempre neles. Não use armas de longa distância, são para os covardes. Olhe o inimigo nos olhos antes de estocá-lo. Não estupre as mulheres ou filhas de seus adversários, se necessário, mate-as também em um único golpe, mas não cometa nenhum abuso, nenhuma crueldade.

A música foi criada pelo lendário musicista e produtor Alan Flexa, e gravada no Estúdio Zarolho Records em Macapá. Contou com a participação especial dos musicistas Forlan Gomes (Bateria), Matheus Soares (Bateria) e Rafael Senra (Baixo). A faixa apresenta uma essência rocker com influências psicodélicas, progressivas e jazísticas.
 

A animação em rotoscopia digital e rede neural foi realizada pelo talentoso arquiteto e musicista C.N.S. (Caos Necrophagos Soturnums) em parceria com o Ciberpajé. Na trabalhosa pós-produção visual eles buscaram criar uma visualidade onírica e psicodélica, promovendo a conexão quase camaleônica do Ciberpajé ao ambiente formado pelos seres espectrais e sombras que o envolvem. 

"I Código Cósmico de Batalha do Ciberpajé" é uma produção do Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Assista-o neste link, ou abaixo:




quinta-feira, 23 de junho de 2022

[Resenha] Álbum em quadrinhos Licanarquia, de Ciberpajé e Toninho Lima: a coragem do humano quando atende ao chamado do ser. Por Carla Fernandes

Carla Fernandes com seu exemplar de Licanarquia em mãos

Não consigo pensar em Licanarquia sem me lembrar um pouco da Metamorfose do Kafka, e o horror que assombra os humanos ao serem vistos como animais. Lembrar de sua natureza animal, é perder a condição de sua finalidade social, cujo objetivo é elevar-se ao topo de uma base estruturada em racionalização. O estado puro e natural do ser é visto como uma inadequação a ser superada para se atingir um fim.

É prazeroso ver na história para além desse conflito, a coragem do humano em seguir sendo incompreendido o seu caminho incomum, quando atende ao chamado do ser. O percurso por atender ao chamado e resgatar suas partes para se tornar íntegro, só se torna possível através do pulso selvagem que o torna parte do todo.

Licanarquia me faz lembrar o quão poderoso é nosso estado puro, esse estado que nada pretende superar porque em sua totalidade apenas resta a generosidade em cumprir o papel de ser humano.




* Carla Fernandes é arquite e artista

terça-feira, 21 de junho de 2022

[Resenha] Álbum em quadrinhos Licanarquia: um bravo brado retumbante e insurgente sobre o que nos separa cada vez mais da vida. Por Fredé CF

Fredé CF com seu exemplar de Licanarquia em mãos

Após um tempo de espera, que foi prolongado por intempéries e imprevistos ligados à dificuldade de produzir arte independente em um país que boicota estruturalmente (direta ou indiretamente) qualquer tentava de criação e difusão de obras autênticas, me chegou um pacote da Atomic Editora, confira o meu unboxing do pacote neste link.

Meus olhos brilharam, meu coração disparou e corri pra abrir a encomenda. Me deparei com um material incrível! Uma produção gráfica belíssima, caprichada e bem recheada de obras sensacionais, entre elas: a) uma edição impressa de “Licanarquia”; b) um livretoZine de HQforismos Mágickos do Ciberpajé intitulado “Uivos do Lobo Selvagem”; c) um outro livretoZine chamado “Criando Licanarquia”, que traz entrevistas com Toninho Lima e com o Ciberpajé sobre seus processos criativos da obra em questão, além de um texto que tece um panorama sobre a Aurora Pós-Humana e a deslumbrante FotoHQ “Naturae (capítulo 1 - O sonho dos deuses)”, feita com esculturas pelo Ciberpajé; d) um zine dobrável de HQforismos chamado de “Uivo” nº4; e) um marcador de página; f) um postal; g) um adesivo e; h) dois posters alucinantes.

Extasiado com tantos materiais incríveis de qualidade impecável, comecei a mergulhar na obra que une terror e ficção científica de maneira visceral.
 
Após ler e me admirar com os encartes que vieram anexos, adentrei a fruição da edição impressa de “Licanarquia”, que já na capa estampa uma bela arte de Toninho Lima colorizado em tons de azul, dourado e lilás por Edgar Franco com a utilização de experimentações psicodélicas com redes neurais, transcendendo, expandindo, transmutando e transportando a representação clássica do Lobisomem ao universo ficcional da Aurora Pós-Humana do Ciberpajé.

Antes do início do primeiro ato/capítulo intitulado “Fome”, há desenhos e rascunhos sombrios em preto e branco, negativos e positivos, expondo uma dualidade perspectívica angustiante intrínseca ao processo criativo exposto, o que me gerou certo suspense sobre o que iria enfrentar. As artes dos inícios dos capítulos são espelhamentos inquietantes, como um teste de Rorschach que você deve se submeter antes de adentrar aos meandros do que virá transformar sua mente. O olhar para si no espelho sombrio da humanidade. 

O tratamento das artes do Ciberpajé com redes neurais imputa uma psicodelia em preto e branco nessas aberturas de capítulos, o que, como um arauto do caos, nos convida a adentrar pelas texturas e camadas de seu universo ficcional.

O trabalho de contrastes, de luz e sombra, a mise-en-page, os enquadramentos, diagramação, o ritmo narrativo, expressões e onomatopeias nos fisga, pela imaginação articulada entre as sarjetas, para dentro do terreno inóspito e sombrio da narrativa. As entranhas da obra se expõem de maneira chocante já nas sequências iniciais, na ação das caças frenéticas narradas imageticamente pelo primeiro capítulo. A lua está cheia. Escancarada. Escarrada. O tom está dado. O ambiente adentrado. Não há mais volta. Fugir é pior. É impossível fugir de si mesmo. Só nos resta apreciar o inebriante instante fragmentado no breu iluminado pelo reflexo da luz que flui em refluxo pela lua e ascende o sangue jorrado de carniceiros cadáveres. Os limites entre a vida e a morte são glorificados e exaltados pelo expurgante uivo licanárquico.
 
“Quando o lobo uiva, não existe mais lobo, só o uivo”. Perseguição ou proteção? Deslocamento de expectativas, problemas de si mesmo lançados ao outro. Abdicação do poder de ser pleno, transferindo-o sob forma de aceitação ao outro. O outro não é o si. O que o outro vê não condiz com você. A culpa, o medo, a fúria, a hipocrisia e o ressentimento recalcado de uma sociedade fundada por padrões estéticos e morais que ignora suas sombras.
 
Dilaceramentos ciborgues surgem em uma tentativa de combater o domínio seco do binarismo tecnocrata. Binarismo esse provocado por si mesmo. Auto-sabotagem! Necessidade de adequação a ideais de luxo e felicidade fomentados pelo que há de mais bizarro e destrutivo. A repugnância servil de integrar uma sociedade hipercapitalista que se funda pela extração de recursos e geração de lixo e dejetos. Cada vez mais se tornam diluídas as fronteiras entre o carbono e o silício, o instintivo animal, visceral, natural, ancestral e os distúrbios de recalques e ressentimentos coletivos fomentados pelo medo de dar vazão aos sentimentos e emoções que nos caracterizam enquanto bicho. Vergonha. A vergonha deslocada pela moral. Cadáveres urbanos. Humanos. Vampiros socioambientais. Múmias e zumbis que decretam guerras com discursos sobre a paz. A única saída talvez seja o retorno ao ancestral. Animal.
 
Aos mistérios indecifráveis do Lobo, que indicam um mergulho no abismo desconfortante da alma, na loucura de querer viver o agora, dissociado de significações vazias impostas por vermes e fatos desfactualizados que não condizem com a essência do existir, do fruir, do integrar-se enquanto cosmos em uma completude que reside nas nuances de sua liberdade consigo mesmo.
 


O lobo torna-se enfim, contra tudo e contra todos, ele mesmo o que sempre foi, é e será. O Lobo! Desinstitucionalizado. Imprevisto. Impregnado de vida e cosmos. Em silêncio, suas garras e presas canídeas penetram a jugular da humanidade e incorporam a alma de Gaia, se hibridizando com aquilo que destoa dos padrões normativos e alienantes do mundo distópico social. Muito além do humano. Muito além da utopia. Muito além da vida. Muito além até da loucura. Nos cantos encantados, nas intersecções entre o tudo e o nada, reside a essência e o brilho do fogo reluzente do olhar ao luar, que guia o sonho do Lobo que um dia, fora de si mesmo, tentou ser homem. Pelo fogo se assistirá a derrocada da covardia humana em insistir em extinguir a vida cósmica em favor da morte técnica, pregada como “desenvolvimento” associado ao capital. O desamor da desconexão consigo mesmo. A eterna luta humana contra aquilo que se é.
 
“Licanarquia” surge como um bálsamo, um oásis, um alento, um lamento ou melhor dizendo, como um bravo brado retumbante e insurgente sobre o que nos separa cada vez mais da vida. Um rosnar sobre aquilo que nos aparta da essência animal, desconectando-nos de Gaia e tornando-nos carcinomas psicóticos que se espalham pelo planeta por projéteis mercadológicos seduzidos pela ganância de destruição em função de uma ideia torpe de progresso.
 
“Licanarquia” alerta à destruição de nós mesmos em função de um sistema sem vida. Uma autoaniquilação. Um suicidio coletivo que configura-se como cerne horrorífico da narrativa da obra. A saída é o mergulho solitário nas próprias sombras, assumindo-se como animal que, mesmo negando, ainda somos.
 
A obra me fez pensar bastante sobre transformações, movimentos, metamorfoses…mas não pra fora, pra dentro! A maior forma de fruir a vida pelo amor próprio de se tornar o que se é/está no agora, a única coisa que existe. O metAMORfosear por dentro. Os universos interiores que transbordam no que nos cerca. O sair da ilha pra poder ver a ilha, mas sair pra dentro, já que a ilha é de dentro pra fora. A exaltação da subjetividade, do amor próprio e da ciência de nada ser para então ser tudo. Deslocar-se daquilo que nos desloca de nós mesmos.
 
O monstro Lobisomem chama a atenção para olhar as sombras e a importância de compreender-nos como seres indecifráveis, indefiníveis, incontroláveis, permeados por nuances infindáveis de emoções e sensações que escapam de padrões impostos pela razão. Não seria essa a beleza da vida? As incoerências, as discordâncias, as “imperfeições” diante daquilo que tenta nos estabelecer e determinar como “perfeitos”. O que é ser perfeito? Perfeito pra quem? Perfeitos pra quê? Não somos produtos, absolutos, determinados. O que torna a existência mais deslumbrante é a diferença, a alquimia, a subjetividade, a unicidade, a magia de ser raro diante do tudo e, enfim, do nada ser. O mo(n)strar-se sincero, essencial. Essa raridade cósmica é deslumbrante e, ao mesmo tempo, reveladora sobre nossa insignificância frente a imensidão da existência infinita dos universos (internos e externos a cada um de nós). Somos instantes. Nós. A serem desatados. Passamos. Constantemente. Inexoravelmente. Por isso a importância de curtir essas passagens. A arte possibilita que essas passagens sejam mais sublimes e permeadas por transcendências dimensionais, como em “Licanarquia”.
 
A obra urge pela importante ideia de integrar-se ao planeta por inteiro (corpo, mente e espírito) como forma crucial, iconoclasta e visceral de combater e se desprender, no presente, das expectativas criadas, das (des)esperanças e, sobretudo, do doloroso horror do que se tornou ser humano.


*Fredé CF (a.k.a. Frederico Carvalho Felipe) é artista transmídia, criador do universo ficcional MekHanTropia, pesquisador, professor e doutorando no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG, em Goiânia.

[Resenha] Licanarquia: um convite ao encontro da própria essência, um verdadeiro reencontro com seu eu selvagem em meio ao caos! Por Kesia Ramos

 


Licanarquia: da inadequação na ordem ao reencontro com seu eu selvagem em meio ao caos


Licanarquia é o álbum colaborativo entre Ciberpajé (Edgar Franco - roteiro) e Toninho Lima (desenhos), que foi financiado pela plataforma Catarse durante o ano de 2021 e recebebe o selo da Editora Atomic. A narrativa foi inspirada por uma viagem de Ciberpajé em direção à Ituiutaba, sua terra natal. Na estrada ele avistou um lobo-guará morto e isso o impactou. Impactou de tal forma que o resultado disso vai além de Licanarquia, é um aglomerado de narrativas de seu processo criativo (fanzines, entrevistas, anexos etc.) que proporcionou a imersão do leitor sobre a expectativa do recebimento do álbum e que culminou na experiência imagética da leitura deste.

Apesar da história ter sido elaborada tempos antes, eu considero que o processo de recepção da obra perpassa por uma estética relacional, onde leitores interagem de forma a criar narrativas outras, nas quais o Lobo retratado de forma autobiográfica pelos artistas não é mais o Ciberpajé. É aí que o artista entrega seu Eu para o mundo e o expectador sai do lugar de passividade a fim de transmutar o tema apresentado, passando a compor a obra. O lobo trata-se na verdade de uma persona presente no mais íntimo de cada um daqueles que se atrevem a adentrar no mundo da Aurora Pós-Humana.

Cabe dizer, que os anexos são parte importante por rememorarem aspectos formativos e evolutivos de Ciberpajé como artista, e isso ajuda a compreensão por parte do leitor iniciante de suas obras até o mais assíduo. O álbum possui mais imagens do que textos, talvez numa tentativa de expressão máxima de conexão entre visualidades e código (e porque não desenhista e roteirista).

Ao ler essa história fui invadida pelos sentimentos de melancolia e angústia mixados com real necessidade de renovação pessoal. Para além da transmutação eu percebi que é necessário um ato mágico, criativo para que a esperança e a vida tenham um propósito singular que subverta a ordem vigente que dita a cada indivíduo como ele deve se sentir, se apresentar ao mundo, se vestir, falar, pensar, agir, trabalhar, ser etc. e tantas outras categorias cujo único propósito é promover a inadequação, a segregação e a exclusão social. Essas categorias ditam espaços, determinam quem os ocupa e banalizam o diferente.

Durante a leitura de Licanarquia você irá encontrar as seguintes partições: fome, sede e medo. Cada um desses elementos compõe a vida tanto daqueles que estão aprisionados ao sistema quanto aos que já assumiram seu rompimento com ele. O que difere então a fome, a sede e o medo de uma pessoa que se acomodou com a ordem para aquela que reencontrou seu eu selvagem? Acredito que a resposta para esta pergunta está contida nas páginas 44 e 48 (ver imagens abaixo). Nela vejo que a resposta perpassa o abandono dos velhos hábitos, a dor da perda na reconciliação com o passado e o presente, e o rompimento com a angústia sobre o futuro, bem como a necessidade animalesca e primitiva da fome de si e do mundo. Por fim, uma renúncia à normatividade de uma prisão mental já cômoda de apenas habitar o mundo e não o perceber em suas potencialidades.

Licanarquia é um convite a encarar esse processo num rasgar-se em si mesmo ao encontro da própria natureza, da própria essência, um verdadeiro reencontro com seu eu selvagem em meio ao caos.

Quadrinho da página 44 de Licanarquia

Quadrinho da página 48 de Licanarquia

KESIA RAMOS é  artista, zineira, professora de Artes Visuais e Mestranda em Artes. 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Ciberpajé cria arte de capa da revista em quadrinhos Atomic Magazine # 3 que está na campanha Catarse do Clube Atomic

O Ciberpajé é o criador da arte de capa da revista ATOMIC MAGAZINE #3 que terá capas variantes - a outra com arte de Laudo. A Atomic Magazine é um título quadrimestral que traz séries em quadrinhos de 5 quadrinhistas: Ciberpajé, Gazy Andraus, Emir Ribeiro, Laudo e Law Tissot.

Nesse terceiro número o Ciberpajé apresenta o capítulo 3 de sua saga "Conversas de Belzebu com seu pai morto", e a arte da capa criada por ele é baseada nesse capítulo que tem algumas imagens inspiradas em ensaio fotográfico do Ciberpajé e Anésio Neto.


Os interessados podem adquirir promocionalmente os 3 números da ATOMIC MAGAZINE e outras incríveis publicações - incluindo álbum em capa dura de Mozart Couto - na primeira campanha Catarse do Clube Atomic, confiram a campanha neste link.




Confira a segunda parte da HQ "Conversas de Belzebu com seu pai morto" na revista Atomic Magazine #2!

Ciberpajé fotografado pela I Sacerdotisa, arte de capa da Atomic Mag #2 por Gazy Andraus

Foi lançado pela editora Atomic o número 2 da revista ATOMIC MAGAZINE. A publicação apresenta 5 séries dos quadrinhistas Ciberpajé, Gazy Andraus, Emir Ribeiro, Law Tissot e Laudo. O Ciberpajé fala sobre sua série "Conversas de Belzebu com seu pai morto":

A série em quadrinhos “Conversas de Belzebu com seu pai morto” surgiu inicialmente do desejo de inserir de forma simbólica e iconográfica o arcano XV do Tarô, o diabo, no contexto do universo ficcional transmídia da “Aurora Pós-Humana”. Na narrativa, após o fim da espécie humana, essa criatura nasce de forma metafórica e onírica no crepúsculo pós-humano, em um planeta Terra desolado. A história coloca-o em diálogo – na verdade um monólogo – com seu pai morto, metáfora da humanidade. Mas a motivação mais profunda para a criação da série foi a perda trágica sofrida por mim, de meu maior interlocutor filosófico e amigo, meu amado pai Dimas Franco, uma das vítimas da COVID-19. Durante décadas discutimos assuntos metafísicos e reflexões sobre a espécie humana, Gaia e seus destinos. Com seu desaparecimento, ao desejar conversar sobre esses temas, experiencio profunda vacuidade, e rememoro que a percepção que meu pai tinha sobre nossa espécie ia de uma admiração quase incondicional por nossa capacidade de amarmos e sentirmos compaixão, a um temor de aonde nosso egoísmo poderia levar-nos. A série será composta por 6 HQs de 11 páginas cada uma, somando 66 páginas, e sua criação utiliza princípios mágicos de transmutação e inspiração enteogênica.




No capítulo 1 da HQ, um Belzebu recém-nascido conversa com seu pai morto, a humanidade, representada por um cadáver em decomposição enforcado em uma árvore morta. Ele inicia seu diálogo-monólogo sobre as razões do fim da espécie humana e retira da forca o crânio de seu pai para seguir o diálogo com ele enquanto caminha por uma Terra devastada. Neste segundo capítulo Belzebu segue a caminhada, rememorando a trajetória da espécie humana. O Ciberpajé destaca que para o primeiro capítulo foi criada uma experiência sonora:

Criamos uma experiência sonora para o capítulo 1 da HQ, trata-se do EP do Projeto Ciberpajé, “Conversas de Belzebu com seu pai morto”, uma parceria minha com o musicista Alax Flexa. Ele apresenta-nos, em quatro atos sonoros, o monólogo de Belzebu. Tanto a HQ quanto as músicas são ambientadas no universo ficcional transmídia da “Aurora Pós-humana”, em um período final do “Crepúsculo Pós-humano” chamado de “Ocaso Pós-humanista”. Eu utilize-me da arquetipia do Arcano XV do Tarô, como um de meus alter egos. O amante da vida experienciando uma provação, caracterizada pelo niilismo que, por vezes, tem dominado minhas reflexões sobre a nossa espécie em meio ao caos absoluto sociocultural, ambiental e político de nossa era pandêmica. Alan Flexa criou faixas densas e atmosféricas, inspiradas em trilhas sonoras de horror e ficção científicas de mestres como John Carpenter, e também nas obras de Mike Odfield, sobretudo Tubular Bells - que foi trilha sonora do filme O Exorcista. Essas trilhas climáticas embalam a minha voz interpretando Belzebu em seu monólogo nas faixas da obra. 



Aduira os 2 primeiros números da revista ATOMIC MAGAZINE neste link, ou diretamente na campanha do Clube Atomic no Catarse - adquirindo também o número 3 da revista que em breve será lançado - neste link.


Ouça as músicas do EP "Conversas de Belzebu com seu pai morto", neste link.



terça-feira, 7 de junho de 2022

Banda THRASHERA revela a arte de seu novo single criada pelo Ciberpajé


Os cariocas da Thrashera revelaram em suas redes sociais a capa de seu segundo single intitulado "Desgraça e Terror". Mais um som que integra o álbum "Bastardos da Noite" que será lançando em cassete no Brasil pela gravadora Rocketz Records ( Poços de Caldas / MG) em 20/06/2022 e no formato CD, na Europa pela gravadora portuguesa HelldProd Records em 20/07/2022.

A data de lançamento do single Desgraça e Terror será na proxima sexta-feira, 10/06/2022 no Bandcamp e principais plataformas de streaming. A música é uma homenagem para a banda Disgrace and Terror ( @disgraceandterror ) de Belém do Pará e sua trilogia totalmente dedicada ao Papa Satânico colombiano Hector Escobar.

A arte e design da capa é de autoria do artista Edgar Franco (@ciberpaje) de Goiânia (GO), que em 2018 ilustrou a capa da versão cassete do segundo álbum da banda, "Morte Webbanger". O Ciberpajé ouviu a música e conferiu a letra em primeira mão como costuma fazer para criar as artes, mas dessa vez também acatou algumas sugestões de Alexandre Chakal (vocal da Thrashera). 

A  arte  tem chamado a atenção de vários veículos de comunicação do underground, tendo sido inclusive destaque na capa do noório portal LUCIFER RISING, e também no seu Instragram. Outros sites importantes como War Metal,  Metal Reunion, Sepulchral Voice, Metal BR Heavy, Recife Metal Law e Editora Merda na Mão  também deram destaque para a revelação da capa do single.



Links relacionados:


Ouça agora o single "Desgraça e Terror", neste link.