sexta-feira, 28 de agosto de 2020

[Festival Online] "Death Cult Devotion" participará do Heretics Virtual Music Festival e executará faixa do EP Ciberpajé - Covid666

O Heretics Virtual Music Festival é promovido pela gravadora e netlabel dos EUA Blasphemy Records e acontecerá nesse sábado e domingo, 29 e 30 de agosto de 2020 no Twitch TV da gravadora e pode ser assistido ao vivo no link: https://www.twitch.tv/blvsphemy_records 

Confira o cast completo do festival e os horários de cada apresentação na imagem abaixo.

O projeto musical Death Cult Devotion (†▼†††) - capitaneado por André Gorium - apresentará um set curto com músicas novas e fechará sua apresentação tocando a faixa Aforismo II do EP COVID-666, realizado em parceria com o Ciberpajé.  O horário do Brasil da apresentação será às 17:00 horas do sábado, dia 29 de agosto de 2020,

Ouça COVID-666 clicando na arte de capa abaixo:




quinta-feira, 13 de agosto de 2020

[Resenha] EP Holofraktaforismos: cogumelos, inteligências artificiais, sensações e sentimentos que vão da vertigem ao encantamento! Por IV Sacerdotisa


Acabei de experienciar esse EP! É algo totalmente diferente de tudo que foi feito no projeto musical CIBERPAJÉ! A começar da proposta conceitual da obra que conecta-se com a tecnologia vegetal da experiência de Edgar Franco com o enteógeno cogumelo Psilocybe cubensis,  unindo-se a essa experiência psicodélica e tornando-a parte fundamental dos processos criativos de HQforismos, que conectaram-se posteriormente ao inovador método de euFraktus X, que "lê" a arte do Ciberpajé transcodificando-a e traduzindo-a em música! Ou seja, transmídia de todas as formas, tanto na interconexão de mundos: realidades virtual, digital, vegetal, mental, ordinária; como com os métodos criativos: Inteligência artificial e inteligência humana e vegetal, mixagem e transfomração da arte desenhada para arte cantada, e por fim a conexão subjetiva com o público. Esse ponto eu quero destacar, pois se toda obra de arte é uma obra aberta, nesta, a interação, conexão e adesão do público à obra nos faz mais do que "receptores", mas seus CO-CRIADORES! 

Na medida que mergulhamos e nos deixamos tomar pela experiência sinestésica, mental e psicológica, nós também damos novos sentidos e criamos caminhos para a arte em nosso ser. Foi assim que me senti, fruindo esse EP. E como se não bastasse todas as sensações e sentimentos que vão desde vertigem, encantamento, agonia, plenitude, assombro, mergulho interior, tontura, indo do êxtase à euforia. Ao olhar as artes que o Ciberpajé fez para cada faixa é como se vivenciássemos uma realidade paralela, um "clipe" sinestésico personalizado no qual cada um viverá a experiência à sua própria maneira.

Ao fixar os olhos nas artes enquanto ouvia no fone, era como se eu visse partes do desenho saltarem da tela, se expandindo, retraindo, se movimentando, como uma narrativa visual em que eu fui co-criadora através das sensações propiciadas pela música. As artes visuais estão INCRÍVEIS, e a música é diferente de tudo que já ouvi. Merecem todos os prêmios! TOTALMENTE FORA DO COMUM e nos faz viajar! PARABENIZO OS ARTISTAS! ESTOU ENCANTADA COM TUDO ISSO. 

(Obs: Evitei ler todo o texto de divulgação da obra pois gostaria de fruir sem ter grandes informações sobre os processos, de modo que eu pudesse ouvir com a mínima "sugestão" do que viria).

* A IV Sacerdotisa da Aurora Pós-humana é Danielle Barros, arte-cientista, pesquisadora e professora doutora na UFSB, em Teixeira de Freitas, Bahia.

Saiba mais e ouça agora o EP Ciberpajé - Holofraktaforismos clicando na arte de capa abaixo:


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

[Resenha] Impressões sobre o livro "Conversas com o Ciberpajé", por Larissa Dias



Para ser sincera, eu não sou nada fã de e-books, pois prefiro o livro físico. Mas ainda bem que comecei a ler essa obra em um dia de folga, porque simplesmente não consegui parar de lê-la! Fiquei literalmente assustada: quando leio algo biográfico fico procurando onde as ideias da pessoa batem com aquilo que acredito. 

Ao ir conhecendo todas as ramificações do trabalho do Ciberpajé (a.k.a. Edgar Franco), comecei anotando algumas coisas que batiam para poder comentar (porque minha memória é péssima) mas logo parei. Era mais fácil anotar as ideias que não batiam com as minhas. E não anotei nada, daí o espanto! Claro que não é possível conhecer todas as dimensões de uma pessoa por meio de um livro, mas foi no mínimo interessante ver a sintonia dos pensamentos. 

Também me espantei com o tamanho da rede de projetos artísticos do Ciberpajé que surgem espontaneamente, parece que ele tem uma ligação direta com a fonte universal de inspiração! Que trabalho rico e diversificado! Levarei anos para conhecê-lo todo, como se deve. Será preciso intercalá-lo com outros trabalhos artísticos, senão vira uma overdose! (risos).

Como amo mitologia, aqui vai uma impressão: senti que o conceito de “Selvagem” do Ciberpajé lembra muito Enkidu, da Suméria. A ligação dele com o que é natural, instintivo é de onde vem toda a sua força. Ainda nesse contexto mitológico, adorei a referência a Fenrir, afinal amo lobos e este pra mim é tudo de bom. A parte que trata dos conceitos envolvidos nos ensaios fotográficos da "Sereia e do Lobo" trouxe-me a exata imagem de como personifiquei a Sereia em um dos contos que escrevi, muito interessante perceber o mesmo significado, uma vez que este ser mitológico traz múltiplas facetas do feminino! 

O sentido da única transformação possível do humano ser a individual é exatamente no que acredito! E meu trabalho é sobre isso, sempre. Transforma-se primeiro individualmente para depois isso refletir-se no coletivo. Outro ponto que achei interessante foi abordar a dificuldade de vivermos o "agora" e a importância que o instante presente tem para que estejamos despertos, conscientes das nossas ações e do nosso papel no mundo, este é outro dos meus temas preferidos! 

Na parte em que o Ciberpajé trata sobre tatuar os seus desenhos foi muito sagaz sua resposta sobre a mutabilidade humana. Eu também jamais fiz uma tatuagem porque acredito que ou tenho espaço no corpo para todos os símbolos do universo ou para nenhum, já que em mim, a mutação é constante! 

A parte biográfica que trata sobre a origem do Ciberpajé também é muito interessante. Gurdjieff escreveu sua biografia por meio do “Encontros com homens notáveis” e falar dos nossos pais, avós e antepassados revela muito do que nós somos. Além disso, deu para sentir o amor por eles emanando das palavras! 

Para finalizar, falando em amor, que dedicação e amor tem a IV Sacerdotisa Danielle Barros pelo trabalho do Ciberpajé, ela é a coautora do livro e realizadora de todas as entrevistas! E que integração! Impressionante mesmo! Realmente existem pessoas capazes de trazer o melhor de nós, de sintetizar aquilo tudo que produzimos de uma forma coesa e organizada e nesta obra os dois conseguiram isso.

*Larissa Dias é Mitóloga e Psicoterapeuta em São Paulo.

Baixe agora o Livro "Conversas com o Ciberpajé: Vida, arte, Magia & Transcendência" clicando na arte de capa abaixo:


Conversas com o Ciberpajé: vida, arte, magia e transcendência
Edgar Franco & Danielle Barros
Paraíba: Marca de Fantasia, 2019. 275p.
ISBN 978-65-5053-014-3

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

[Lançamento] Ciberpajé - Holofraktaforismos: EP em parceria com euFraktus X traz músicas e artes criadas com auxílio de inteligências artificiais e redes neurais

A semente criativa do EP Holofraktaforismos (OUÇA-O AQUI) foi uma experiência de ENOC (estado não ordinário de consciência) do Ciberpajé com o uso do enteógeno Psilocybe cubensis. Essa experiência visionária gerou uma série de desenhos inspirados nas visões obtidas durante o tempo em que ela durou, o Ciberpajé considera essas artes fruto de uma hipertecnologia ancestral, sendo o cogumelo cubensis um plug-in de neocortex. Tempos depois da experiência o Ciberpajé usou algumas dessas artes para criar uma série de HQforismos (gênero de quadrinhos poético-filosóficos que une um texto aforístico a uma imagem que dialogue com ele) que trouxessem em seu escopo as sensações de profunda conexão com o cosmos e de indignação com a desconexão com a natureza que reina no mundo contemporâneo. 

Os 6 aforismos em preto e branco realizados foram inicialmente publicados no fanzine Uivo#5 e depois integraram o álbum em quadrinhos Enteogênicos (Editora Criativo). Quando surgiu a oportunidade de realizar a parceria com o musicista visionário e maestro euFraktus X (Eufrasio Prates), o Ciberpajé pensou na possibilidade de criar um desdobramento sonoro para os 6 HQforismos enteogénicos frutos daquela experiência atávica. Eufrasio aceitou o convite e o desafio para a criação de músicas holofractais baseadas na gravação das vozes do Ciberpajé recitando os aforismos. 


EuFraktus X é doutor em artes, diretor de orquestra de laptops de Brasília, e criador de um “instrumento virtual” que transforma movimentos em sons - com reconhecimento internacional de sua obra. É mentor do conceito de música holofractal, e desenvolveu as músicas do EP a partir desse conceito. O musicista utilizou nessa criação sonora softwares abertos de Inteligência Artificial (Google Tensor.Flow) e sua invenção, uma suite de software livre chamada HITS Holofractal Interactive Transducer System, que está inclusive disponivel gratuitamente nesse link. Nas palavras do próprio euFraktus X: "Meu código interpreta as sutis curvas da fala do Ciberpajé e as passa numa equação fractal que gera os números que se tornam notas midi, ou seja, matematicamente normalizados numa escala de 0 a 127. Isso torna-se a base dos synths."

Nas 6 faixas experimentais a linguagem falada desintegra-se para tornar-se ambientações sonoras e a experiência semântica da leitura dos aforismos torna-se uma experiência cognitiva de outra ordem, gerando atmosferas que transcendem o verbal e integram-se à essência ciberxamânica da proposta do EP. Para dialogar com essas músicas holofractais o Ciberpajé resgatou as artes dos HQforismos com o objetivo de criar um diálogo sonoro visual com as faixas e decidiu transformá-las buscando um pouco da visualidade da experiência enteogênica com cores e padrões fractais que a engendraram. Para gerar as novas holoartes para cada um dos holoaforismos do EP ele utilizou como base a rede neural e inteligência artificial Deep Dream (Google). A capa do EP foi criada utilizando partes das artes de cada holoarte e as demais artes do projeto gráfico também utilizaram a rede neural para produzir os padrões visuais fractais. 

Ouça em streaming ou baixe o EP Holofraktaforismos AQUI, sugiro que se fixe em cada uma das holoartes enquanto ouve o holoaforismo contectado a ela. Seguem as 6 holorartes:

Holoarte  para Holoaforismo 1

Holoarte para Holoaforismo 2

Holoarte para Holoaforismo 3

Holoarte para Holoaforismo 4

Holoarte para Holoaforismo 5

Holoarte para Holoaforismo 6

Na sequência incluímos um detalhado relato do processo criativo musical de  Holofraktaforismos escrito por euFraktus X. Indicamos a leitura a todos que quiserem entender mais profundamente os meandros da criação musical holofractal e seus imbricamentos poéticos e estéticos com a inteligência artificial.
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Processo criativo musical do EP Holofraktaforismos

por euFraktus X (aka Eufrasio Prates) 


Eis o texto dos aforismos escritos e recitados pelo Ciberpajé, base para a criação:

Aforismo I
Nas profundezas da floresta interior, resgatei a bela dor de ser animal.
Esse ancestral sabor usurpado pela cultura.


Aforismo II
Só a flor conhece o sonho mais selvagem da borboleta.

Aforismo III
A máscara só perpetua-se na ausência do amor e da intimidade.

Aforismo IV
Parecia um grito, mas era só o uivo selvagem do infinito.

Aforismo V
O ancestral peregrino em mim, redescobriu o sabor de ser um cósmico menino.

Aforismo VI
O cervo servia o servil de sonhos de silício e só.


A criação do EP Holofraktaforismos resultou de um convite do Ciberpajé (aka Edgar Franco) para musicar, com a técnica holofractal, seis de seus aforismos em meados de 2019 -- momento social crítico no Brasil e no mundo inteiro.

Minha resposta foi buscar nos 6 aforismos, gravados na voz do próprio Ciberpajé, um caminho estético capaz de exprimir uma contestação sonora, paradoxalmente organizada e caótica, engendrada crítica direta ao inequânime e injusto status quo contemporâneo. 

Esses aforismos de cunho filosófico, estético e político (no sentido mais estrito dessas amplas e esvaziadas noções) -- falando por metáforas simbólicas cuja concisão e simplicidade ocultam uma profunda sabedoria xamânica da vida num multiverso transhumano -- oferecem grandes potencialidades de confronto ao estado mencionado. Esse foi o caminho escolhido no processo criativo musical, que reuniu técnicas de composição baseadas na imprevisibilidade da matemática fractal e dos algoritmos de Inteligência Artificial. 

Processo criativo: ordem + caos

Métodos tradicionais aliados a softwares abertos de Inteligência Artificial (Google Tensor.Flow) e módulos da Suíte Holofractal Interativa de Transdução Sonora - HITS (holofractalmusic.wordpress.com) desenvolvidos na linguagem Max/MSP foram utilizados na parte composicional, para transformar, variar, inverter, estender e comprimir temporalmente os samples dos aforismos vocalizados pelo Ciberpajé, permitindo que todos os sons do políptico de 6 peças, sem exceção, tivessem a mesma origem, numa busca do mais alto grau de consistência, coerência e integração.

Pelo lado caótico-interativo do processo participaram os diálogos imprevisíveis com o algoritmo de A.I. e com os transdutores fractais do sistema H.I.T.S., que ampliaram sensivelmente o repertório estésico e o conectaram pós-humanamente a diversos outros projetos de experimentação sonora contemporânea, particularmente as abordagens não-acadêmicas baseadas na ampliação enteogênica da consciência e da intuição no momento criativo. 

Se parece que a interferência do “compositor” foi bastante limitada, a considerar-se a opção por metodologias auto-restritivas (o que é veraz), também não faltaram desafios na tentativa de integração de uma narrativa (não-linear, evidentemente) que explorasse as referências filosófico-simbólicas e icônicas contidas em cada aforismo, humanas e pós-humanas. Não fora assim, o conjunto soaria demasiado estéril, mecânico, artificial, maquínico, redundante e auto-referenciado. 

Ao contrário, para os ouvintes mais atentos não faltarão, paradoxalmente, diversidade na semelhança e similaridade na diferença, surpresa na previsibilidade e padrões nos fractais, estrias nos contínuos e continuidade na fragmentação. Que não se confunda essa responsabilização do ouvinte com qualquer tipo de exigência, pré-requisito ou demanda por alguma “erudição musical”: NÃO há pré-requisito para fruir essas pequenas peças, além de uma alma sensível e aberta ao esforço interpretativo. Pena que tais almas venham se tornando mais e mais escassas com a escalada fascista-patriarcal. 

É assim, transcendendo o paradigma da tradição, que os holofraktaforismos se expressam politicamente: perante catástrofes recentes (de Brumadinho ao Brexit, de Bolsonazi a Thramp, do HIV ao Covid-19), Mãe Gaia parece estar a se vingar, reduzindo a pressão das mais de 7 bilhões de “bactérias consumidoras” de suas virtudes. Entretanto, uma análise espaçotemporalmente mais afastada e menos antropocêntrica, há de evidenciar tratar-se apenas de um processo de auto-regulação ou cura “autoimune”, a despeito dos seres mais ricos diuturnamente ocuparem primeiro os limitados botes salva-vidas. Se vamos ajudá-la sustentando-a ou em seu detrimento perpetuar a exploração destrutiva, é uma opção pessoal nem sempre consciente, ainda que sempre de impacto social e político.

Não surpreende, portanto, que essas obras possam soar como trilha sonora para um filme de horror e suspense, ainda que ofereçam por contraste momentos oníricos e reflexivos, perenemente acompanhados de percussões xamânicas. Por derivar de um movimento inspirado nessa mundividência complexa e multivérsica, o conjunto dialógico-fractal oferecido no EP sustenta-se na disponibilidade do ouvinte em investir suas habilidades semióticas para dar sentidos próprios à obra-processo, amplamente aberta à sua imaginação idiossincrática.


Técnicas 

As seis peças sonoras foram produzidas a partir de derivações e transformações interativas digitais aplicadas ao som da voz do Ciberpajé declamando os aforismos. 

A primeira delas é a distensão temporal do sample originário em dezenas de vezes, alargando-o de forma a explicitar suas entranhas orgânicas e naturalmente fractais. Sua reversão temporal apresenta às vezes surpreendentes contrastes de envelopes, aclarados pelo alongamento. 

Essa mesma voz foi enviada ao módulo Audio to Midi do sistema HITS, que a converteu em “melodia” midi. A sequência numérica transduzida foi usada em sintetizadores digitais, acrescida de desdobramentos fractais baseados nas equações de Gaston Julia e Benoit Mandelbrot. 

A mesma melodia, em forma “original”, alimentou um código aberto de Inteligência Artificial escrito em tensorFlow (A.I.Duet, Google Labs), resultando em “respostas” geradas por comparação a uma base de dados de mais de 300 mil canções. Assim é que, por exemplo, servidores na Sibéria sibilaram meta-sons sobre “O cervo servia o servil de sonhos de silício e só” (Aforismo VI). 

A estes resultados semiótico-maquínicos foram reaplicadas as mesmas técnicas de distensão e reversão temporais mencionadas. 

O recorte, seleção e montagem desse riquíssimo repertório sonoro formaram a base estésica para a articulação narrativo-imagética de símbolos e ícones, interpretados como gritos, murmúrios, lamentos, uivos, florestas, animais de poder, peregrinos, crianças e borboletas usurpadoras de flores, inspirados no amor e na selvageria da liberdade!

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

[Resenha] Livro História em Quadrinhos e Arquitetura: a arte quadrinhística a serviço da construção informacional, por Gazy Andraus

Baixe o livro AQUI

Informações são as chaves para um entendimento cada vez mais aprofundado em todos os temas do conhecimento humano. Os livros são fontes que facilitam a transmissão de idéias, e colaboram nesta incessante troca de dados, além de manterem aceso o espírito instigador no leitor. Mas existem outras linguagens que desbravam conceitos, sugerem trilhas novas e facilitam o acesso de informes não visualizados prontamente, estabelecendo conexões que somente seriam percebidas após muito estudo. O livro “História em Quadrinhos e Arquitetura” (1), agora em sua terceira edição, do autor, pesquisador e pós-doutor, Edgar Franco (2) sintetiza e aborda uma destas linguagens: Edgar é arquiteto por formação, mas sempre enveredou pela autoria de histórias em quadrinhos de temática adulta, do gênero que se pode chamar de fantástico-filosófico, e é justamente esta sua experiência na área arquitetônica e quadrinhística que faz de seu livro um escopo de demonstração das conexões entre as construções urbanísticas e a própria linguagem e conteúdos dos quadrinhos, cujas especificidades de linguagem ilustram perfeitamente o potencial que têm como mediadores de informação. 

Duas páginas do livro de Edgar Franco que exploram a questão da arquitetura e dos quadrinhos na obra “A Febre de Urbicanda”, de autoria de Benoît Peeters e François Schuiten.


Traçando um panorama sucinto das histórias em quadrinhos (incluindo a utilização das filacteras e balões), chegando aos quadrinhos autorais, e adentrando nas abordagens arquitetônicas e seus movimentos até o modernismo, o livro busca elucidar pontos entre as artes-seqüenciais, a arquitetura e o cinema exemplificando-as com algumas obras, como Asterix, Príncipe Valente, Triton e Blade Runner, mencionando a dubiedade e semelhança profissional entre os “arquitetos quadrinhistas e quadrinhistas arquitetos”, como os espanhóis Daniel Torres e Miguelanxo Prado, ou o italiano Lorenzo Mattoti. Outros autores, mesmo sem serem arquitetos, têm também estudo à parte em seu livro, como o brasileiro Olendino Mendes, o norte-americano Will Eisner, com a poética obra “O Edifício” e o francês Caza com sua série “Os tempos Ominosos” na qual o autor critica a sociedade, através de metáforas visuais inserindo em seus quadrinhos desenhos de edifícios tais quais blocos de concretos sem janelas. 

Como o cinema é arte irmã das histórias em quadrinhos, Edgar reconceitua o filme “Blade Runner”, fazendo uma aproximação lógica e necessária entre os quadrinhos, a sétima arte e a arquitetura através da arte de Moebius, cujos desenhos na HQ “The Long Tomorrow” (roteirizada por Dan O´Bannon), serviram claramente de fonte plagiada pelo cultuado filme com o caçador de andróides. 

O livro esclarece bem as noções de arquitetura e de urbanismo, facilitando a compreensão ao leigo no assunto, e pontua com precisão exemplos roteirizados de quadrinhos que metaforizam modelos consagrados do urbanismo, como a obra “A Febre de Urbicanda”, de autoria de Benoît Peeters e François Schuiten, cujo álbum integra a série “As Cidades Obscuras”, idealizada em 1980 para a editora francesa Casterman, tendo seus autores bebido em fontes culturais diversas. Com conceitos da arquitetura, Franco identifica em “A Febre de Urbicanda” uma teoria de análise dos modelos urbanos, desenvolvida na Bartlett School of Atchitecture and Planning, da Universidade de Londres, e estudada no Brasil por professores e alunos da Universidade de Brasília (UNB). No livro, Edgar junta informes pertinentes ao esclarecer que os projetos arquitetônicos não são apenas úteis ou simbólicos, mas contribuem para a transformação do espaço e acarretam influências nas relações interpessoais.


A fim de explicitar melhor a relação de “A Febre de Urbicanda” com tais teorias urbanísticas, o pesquisador desfila dois modelos teóricos estudados na arquitetura: o “Paradigma da Formalidade” o qual, embora contenha caráter universal e advenha desde tribos primitivas até planejamentos atuais (como é o caso da cidade de Brasília), esbarra na assepsia total, isolando os indivíduos; e o “Paradigma da Urbanidade”, cuja presença também é intemporal, mas prima pela continuidade e não ruptura dos espaços, contribuindo para a intercomunicação humana. Nesta história em quadrinhos, Urbicanda é uma grande cidade fictícia planejada, que tem como expoente maior o urbitecto (neologismo inventado pelos autores franceses) Eugen Robick, com forte inclinação pelo “Paradigma da Formalidade” e que vê seu ideário transformado ao não conseguir solucionar a intromissão de um cubo cujas arestas começam a crescer e a se replicar, desestruturando toda a aparente “ordem” da megalópole. Se inicialmente o governo principia a se desesperar, a população começa a tecer novas formas de relacionamentos entre si, diferentemente de quando o cubo não existia, pois agora as pessoas usam suas gigantescas arestas como pontes, inclusive retrabalhando nelas grafismos e outras utilidades criativamente despertadas. Robick então percebe gradualmente que este outro paradigma, embora demonstre certa caoticidade, possui uma organização inerente única e necessária, que influencia diferentemente os relacionamentos dos cidadãos, fazendo-o repensar a questão humana e urbanística.

Capa da primeira edição impressa do livro de Edgar Franco

É claro que esta história em quadrinhos é muito mais complexa, e Edgar, como conhecedor igualmente da área dos quadrinhos e arquitetura, consegue passar diversas outras informações pertinentes às duas artes, enriquecendo ainda mais a simbologia contida no álbum, demonstrando a importância essencial que pode ter uma expressão artística como a das histórias em quadrinhos, permitindo uma codificação e uma interpretação renovadas. Franco ainda tece mais alguns dados relacionando a função “arquitetônica” dos artistas das HQ ao comporem suas páginas, tanto no papel como no computador. Ao final do livro, o autor e pesquisador conclui o trabalho com sua história em quadrinhos “Dogmas como Pirâmides”, elaborada especialmente para uma melhor compreensão de toda a pesquisa, explicitando e ratificando os conceitos anteriores por ele abordados, especialmente aqueles contidos no capítulo que relaciona “A Febre de Urbicanda” aos dois paradigmas arquitetônicos, apresentando na sua HQ fantástico-filosófica uma espécie de embate entre arquitetos das duas teorias (vale lembrar que Alan Moore também discorre acerca do poder imagístico e sua influência na mente humana, através dos simbolismos contidos nos estilos arquitetônicos, principalmente em catedrais religiosas, no primeiro volume da obra “Do Inferno”). Enfim, o livro “História em Quadrinhos e Arquitetura”, fartamente ilustrado, expõe quão necessários são os quadrinhos como meio de expressão, pois lidam com imagens que podem funcionar de forma distinta das de um livro teórico, trazendo instigantes informações que podem (e devem) ser posteriormente analisadas, ampliando e melhorando o embasamento teórico de quaisquer áreas. Se a função de um livro é esclarecer vários conceitos de forma concisa e até ilustrada, uma história em quadrinhos pode auxiliar nesta tarefa, tendo sua importância como distinta mediadora na formação educacional, como se verifica através dos inúmeros exemplos contidos no livro ora resenhado. Como se percebe pelo valor intrínseco da potencialidade imagística das histórias em quadrinhos, é nítido que elas também servem de fonte pertinente (e necessária) em cursos universitários, como por exemplo os de artes e arquitetura, em muito auxiliando os futuros profissionais em apontamentos e elucidações teóricas e reflexivas. 

Notas:

(1) Essa resenha foi atualizada a partir de minha escrita original, publicada no site Bigorna, em 18/11/2005, quando da primeira edição do livro.  

(2) Atualmente conhecido também como Ciberpajé, Edgar também é meu supervisor em meu pós-doc sobre fanzines de arte, que ora realizo na FAV da UFG. 

*Gazy Andraus é Pós-doutorando pelo PPGACV da UFG, Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP, Criação e Ciberarte (UFG) e Poéticas Artísticas e Processos de Criação (UFG). Também publica artigos e textos no meio acadêmico e em livros acerca das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem como também é autor de HQs e Fanzines na temática fantástico-filosófica. E-mail: yzagandraus@gmail.com; gazyandraus@ufg.br; http://tesegazy.blogspot.com/ 


Serviço:


FRANCO, Edgar. História em Quadrinhos e Arquitetura. Série Quiosque, n.4, 3ª edição. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2020. 89 p. Versão gratuita digital: http://www.marcadefantasia.com/livros/quiosque/hqarquitetura/hqarquitetura.htm (download direto em: http://bit.ly/hqarquitetura).