sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Ciberpajé participa do Peibê #4 do projeto IFFanzine, premiado como melhor zine de HQ no 32º troféu Ângelo Agostini, saiba mais!

Crédito da Imagem: Projeto IFFanzine
O Ciberpajé Edgar Franco, Gazy Andraus, IV Sacerdotisa Danielle Barros, Eberton Ferreira, Thina Curtis entre outros artistas e alunos/as bolsistas do projeto participaram da quarta edição do fanzine de quadrinhos Peibê 4. 
Peibê é uma das publicações criadas pelo IFFanzine projeto de extensão que envolve fanzines, quadrinhos e educação conduzido pelo educador e artista Alberto Souza - Beralto no IFF Macaé, RJ. O zine foi vencedor na categoria "fanzine de quadrinhos" na importante premiação de HQ nacional, o 32º troféu Ângelo Agostini. A premiação, promovida pela AQC - Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo – destaca as melhores produções e iniciativas voltadas para a área das histórias em quadrinhos. 
Confira aqui um trecho do momento da premiação:

32º Troféu Angelo Agostini, Memorial da América Latina, 30 de Janeiro de 2016. Projeto de extensão IFanzine, contemplado com prêmio na categoria Fanzine de HQ, pelo zine PEIBÊ.

Fanzines publicados pelo projeto IFFanzine
Crédito da Imagem: Projeto IFFanzine
O zine Peibê #4 teve lançamento de sua versão on line no dia 18 de fevereiro, onde foi disponibilizado para leitura na plataforma ISSUU. Segundo Alberto Souza, idealizador do projeto:

"O PEIBÊ, contemplado este ano com o Troféu Ângelo Agostini na categoria zine de quadrinhos, é editado pelos estudantes do Instituto Federal Fluminense campus Macaé sob a coordenação do cartunista Beralto. Esta nova edição, com 32 páginas, traz um time de grandes nomes do fanzinato nacional e novos talentos revelados pelo projeto, a maioria estudantes da instituição de ensino onde o projeto de extensão IFanzine se desenvolve. A proposta do projeto, em seus quatro anos de existência é divulgar a cultura do fanzine para as novas gerações e promover a aplicabilidade do mecanismo criativo/autoral dos zines na educação."

Oficina de zine autobiográfico com estudante de EJA do IFF Macaé, nas aulas da professora e Português e Literatura, o relato da oficina em questão está na PEIBE 3.Foto Alberto Souza
Oficina de zine do projeto IFFANZINE
Foto Alberto Souza
Oficina de zine do projeto IFFANZINE
Foto Alberto Souza
Para o Ciberpajé é uma honra participar de uma iniciativa que instiga os alunos a se descobrirem enquanto artistas e criadores, em um projeto que além de estimular a arte, está vinculado a educação, nessa iniciativa pertinente do Beralto que contagia a todos! Agradeço a oportunidade e espero estar sempre contribuindo para as próximas edições!

Uma amostra de parte de HQforismo que o Ciberpajé enviou ao Peibê 4, confira o HQforismo completo no link abaixo
Confira a PEIBÊ 4, disponível na versão on line AQUI.

Saiba mais sobre o projeto IFFanzine:
Facebook: IFFanzine

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Ciberpajé participa de campanha pioneira para a realização do primeiro tratamento clínico no Brasil com psicodélicos para tratamento de estresse pós-traumático

Foto com artes visionárias em prol do projeto no Catarse

"Alguns artistas que participam da Bienal Internacional de Cultura Psicodélica fizeram doações de suas obras de arte para a campanha #MDMA no Consultorio e com a soma das intenções de todos o Plantando Consciência arrecadou R$ 50 mil junto aos US$15 mil da Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) realizar o primeiro tratamento clínico no Brasil com Psicodélicos para pacientes com estresse pós traumático. Confira o projeto: https://www.catarse.me/pt/mdma
Este momento de conexão entre as artes visionarias e as ciências psicodélicas na esfera da cura é um ato gratificante pra nós da bienal.
Parabéns os que apoiaram a inciativa em breve enviaremos as obras de artes para os que doaram nesta opção."
(Texto Rodrigo Ninni, postado na página Bienal Internacional de Cultura Psicodélica)

Atuação do Ciberpajé na área dos Quadrinhos é notícia no site institucional da UFG, confira!

Captura de tela da tela inicial do site UFG
Pesquisa pioneira do Ciberpajé Edgar Franco com quadrinhos é destaque no site institucional da Universidade Federal de Goiás (UFG). Segundo a matéria:

 "O professor e pesquisador professor do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais (FAV), Edgar Franco, é o responsável por colocar a Universidade Federal de Goiás (UFG) como referência nacional no estudo dos quadrinhos como arte, recebendo alunos de mestrado e doutorado de todo o país interessados em se aprofundar na temática."

O texto citou ainda as pesquisas de Franco com HQtrônicas e os HQforismos - este em parceria com a pesquisadora IV Sacerdotisa Danielle Barros, - e deu destaque à obra Biocyberdrama Saga (com roteiro de Franco e arte de Mozart Couto) publicada pela editora UFG, na coleção Artexpressão, indicado ao prêmio HQMix em 2014.
A matéria foi veiculada na oportunidade da comemoração do Dia do Quadrinho Nacional. O Ciberpajé, além de participar ao vivo na rádio CBN de Goiânia falando sobre suas pesquisas e criações em HQs, também foi notícia no Jornal Diário da Manhã e no site da UFG. Confira a matéria completa no SITE UFG.

Captura de tela do site UFG

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Ciberpajé Edgar Franco concede entrevista sobre HQs e educação à coluna de quadrinhos do site Caneta e Café, confira!

Captura de tela do site Caneta e Café
O Ciberpajé Edgar Franco concedeu entrevista ao Francisco Costa do site Caneta e Café, para a seção "Coluna de Quadrinhos". A entrevista enfocou como as histórias em quadrinhos têm sido exploradas como expressão artística e as pesquisas que envolvem HQs no âmbito acadêmico, onde atua como prof. Dr. na Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás. O Ciberpajé destaca a importância e o potencial dos quadrinhos como recurso didático em diversos níveis de ensino e como fonte de estudo em dissertações de mestrado e teses de doutorado.


Entrevista com Ciberpajé Edgar Franco realizada por Francisco Costa para o site Caneta Café - Coluna de Quadrinhos

1) Por que utilizar os quadrinhos como ferramenta de educação?
EF- Os quadrinhos emergiram como uma linguagem expressiva e artística única e de possibilidades comunicacionais ilimitadas. Eles fundem de maneira singular a linguagem escrita às imagens e essa soma amplifica seu potencial ao articular a escrita, que é naturalmente uma atividade de cérebro esquerdo - lógico, ao desenho/imagens que trabalham cognitivamente o cérebro direito - intuitivo. Pode ser utilizada em todas as idades da pré-escola ao pós-doutorado, existem muitas pesquisas desenvolvidas nessa linguagem, até teses de doutorado. Um bom exemplo do potencial educacional dos quadrinhos é o trabalho que a editora da UFG lançou em 2013, o álbum "BioCyberDrama Saga", parceria entre mim e o lendário quadrinhista Mozart Couto. Esse trabalho, que envolveu uma pesquisa de 15 anos, inclui uma longa introdução tratando do processo criativo do universo ficcional em que foi desenvolvido e pretende refletir sobre a emergência do pós-humano diante dos processos hipertecnológicos recentes. Ele pode ser utilizado transdisciplinarmente por muitos cursos de graduação como material paradidático.

Slide de comunicação oral no Cielli, Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários na Universidade Estadual de Maringá, sobre o potencial de Biocyberdrama Saga para o ensino relacionado à Ciência, Tecnologia e Sociedade, em 2014
Slide de comunicação oral no Cielli, Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários na Universidade Estadual de Maringá, sobre o potencial de Biocyberdrama Saga para o ensino relacionado à Ciência, Tecnologia e Sociedade, em 2014
Ciberpajé e IV Sacerdotisa apresentando comunicação oral no Cielli, Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários na Universidade Estadual de Maringá, sobre o potencial de Biocyberdrama Saga para o ensino relacionado à Ciência, Tecnologia e Sociedade, em 2014

2) Qual o diferencial de um trabalho acadêmico feito dessa forma?
EF- A tradição acadêmica é a da linguagem escrita, certos setores tradicionalistas da universidade por anos tinham até ojeriza das imagens, então chegamos ao século da hiperinformação em que as pessoas são expostas a milhares de imagens técnicas diariamente e a universidade teve que se dobrar à imagem, finalmente. Essa postura arcaica de minorar a importância da imagem na formação cognitiva, intelectual e cultural era um erro grave. Os quadrinhos possuem um status especial nesse contexto já que como linguagem, naturalmente fundem escrita e desenho. Gostaria de ver as teses de todas as áreas feitas em quadrinhos, seria um ganho imensurável, a imagem tem um poder de síntese grande, mas em certos momentos o texto ainda é muito necessário, as HQs fundem os dois.

3) Você já orientou TCCs e Mestrados em quadrinhos. Qualquer trabalho pode ser feito dessa forma?
EF- Tenho orientado dezenas de TCCs, projetos de iniciação científica, mestrados e, mais recentemente, doutorados no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da UFG, esses trabalhos trazem pesquisas múltiplas no espectro dos processos de criação e quadrinhos. Todas elas envolveram aspectos teóricos e também a prática artística, ou seja, o produto final foi uma monografia/dissertação ou tese em linguagem escrita que versa sobre a produção prática, sendo essa uma ou várias histórias em quadrinhos criadas como parte da pesquisa. Quanto à utilização da linguagem dos quadrinhos com finalidades didáticas e de aprendizado, penso que qualquer trabalho/pesquisa pode ser apresentado e ou desenvolvido nessa linguagem, isso dependerá exclusivamente das intenções dos desenvolvedores.

4) As universidades e faculdades estão mais abertas a isso, ou é algo que sempre foi possível, mas não havia interesse?
EF- A universidade finalmente reconheceu a importância e unicidade da linguagem dos quadrinhos, hoje temos centenas de pesquisadores de todas as áreas do conhecimento pesquisando HQ na academia. O resultado disso é o surgimento de eventos de grande envergadura como as "Jornadas Internacionais de Quadrinhos da USP", evento que em sua terceira edição, em 2015, reuniu quase 300 artigos inéditos de pesquisadores de todo o país e da América Latina. Recentemente também foi criada no Brasil a ASPAS - Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial, primeira associação nacional dedicada à pesquisa interdisciplinar de quadrinhos, confiram o site da ASPAS . Eu tenho participado de bancas de mestrado e doutorado em vários estados envolvendo a pesquisa sobre quadrinhos em áreas tão diversas quanto filosofia, história e matemática!

5) O que tem orientado e já orientou nesse segmento?

EF- Foram dezenas de trabalhos envolvendo processos criativos e linguagens intermídia emergentes. Já orientei TCCs investigando a criação de HQtrônicas, a relação entre HQs e games, e muitos envolvendo o processo criativo de quadrinhos autorais como base; dentre as dissertações de mestrado defendidas no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da UFG destaco: "Web Arte, Experiências Colaborativas e o Desenvolvimento da HQtrônica Interminatum", de Fernanda Machado de Souza, "Processos Criativos de Histórias em Quadrinhos Poético Filosóficas: Investigação teórica e produção poética", de Matheus Moura; "HQtrônicas e Realidade Aumentada (RA): Novas Potencialidades Narrativas", de Jordana Inácio de Almeida Prado; "Narragonia 3.0: Ficção Científica e Tecnognose em Experimentações Narrativas Gráficas", de Gabriel Lyra Chaves;  "[ENTRE] MUNDOS: Uma Narrativa Ficcional Transmídia", de Veramar Martins. No momento estou orientando 4 teses de doutorado que pesquisam quadrinhos: quadrinhos visionários, de Matheus Moura; realidade e ficção nos quadrinhos, de Ivan Carlo Andrade Oliveira; o Pateta faz história, de Ligia Maria de Carvalho e quadrinhos e animação, de Márcio Jr. Também estou orientando um trabalho de iniciação científica que versa sobre HQforismos, novo subgênero dos quadrinhos poético-filosóficos que funde HQ e aforismo e foi nomeado por mim e pela pesquisadora doutoranda Danielle Barros (FIOCRUZ/RJ), a aluna que desenvolve a pesquisa é Natasha Hoshino do Amaral.

Matéria no Caneta e Café

Aqui no blog postamos a entrevista na íntegra, e recomendamos que leiam a matéria publicada no Caneta e Café no LINK. Ao final do texto há uma amostra do trabalho de conclusão de curso em andamento do estudante de design Jonathas Ramos, orientado por Franco, uma HQ intitulada "O Intangível" com viés futurista. Confira!


Captura de tela do site Caneta e Café
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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Ciberpajé ministrará minicurso no CEFS - Centro de Estudos Filosóficos de Santos

CONVITE divulgado no site do CEFS

No dia 12 de março, sábado, no CEFS, em Santos/SP, o Ciberpajé Edgar Franco ministrará o minicurso "Reflexões filosóficas sobre o pós-humano e seus desdobramentos artísticos", no qual conceituará e problematizará o pós-humano, apresentando exemplos contemporâneos das implicações sociais e culturais dos avanços tecnológicos nas áreas de robótica, realidades virtuais, engenharia genética e hibridação homem-máquina. Também sobre o impacto dessas tecnologias, e finalmente tratará da criação do seu apresentará algumas obras controversas de ciberartistas que refletem universo ficcional transmídia, a " Aurora Pós-humana". As vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas diretamente no site:diretamente no site. Saiba mais sobre o evento no LINK.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Ciberpajé e o Possível Hackeamento do Corpo Humano - Entrevista para Revista ComCiência (UNICAMP)

Entrevista ao Ciberpajé Edgar Franco, por Tiago Alcântara -  Jornalista do LABJOR (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo)  e da Revista ComCiência (UNICAMP).


Ciberpajé em performance do Posthuman Tantra.
Foto José Loures
01) - É possível hackear o corpo humano? Como estamos fazendo isso e quais benefícios e riscos você vislumbra em suas linhas de pesquisa?


Sou um artista interessado na emergência do pós-humano, alguém que observa o cenário de aceleração hipertecnológica e seus desdobramentos sócio-culturais e ambientais para traduzir minhas inquietações, temores e maravilhamentos em obras artísticas em múltiplas mídias e suportes. O hackeamento da memória, dos dados existentes em nossa consciência é algo vislumbrado pela ficção científica de P.K.Dick e atualmente investigado nas fronteiras da conexão entre neurofisiologia e ciência da computação, mas ainda é uma possibilidade, não uma realidade. Já o hackeamento do corpo humano, bio e fisiologicamente falando, é algo possível e já em curso. Pois a clonagem é exatamente isso, você pega a informação genética única de um ser e a replica infinitamente. Hoje é possível criar um banco de dados de todos os bilhões de seres humanos do planeta, basta uma única célula de cada um deles. Sabemos que o que nos define enquanto entidades biológicas é informação, e a informação pode ser armazenada e traduzida para outras linguagens. O DNA é um código que constrói toda a complexa diversidade da vida a partir de 4 signos, 4 bases de nucleotídeos, assim como toda a informação digital contemporânea é composta de apenas dois dígitos, é binária. A informação binária serve como tradutor de múltiplas outras linguagens, canal para sua difusão. Hoje o DNA está sendo traduzido e armazenado através do digital. Existe um interesse crescente no armazenamento e até possível patenteamento de sequências genéticas de etnias diversas que demostram resistência a certas doenças. Essas informações genéticas valiosas têm sido capturadas, muitas vezes, ilegalmente, o que claramente pode ser chamado de hackeamento. Infelizmente o poder para realizar esses hackeamentos está nas mãos de grandes corporações globais, e o que move esses conglomerados é o lucro. A indústria farmacêutica global é um império malévolo, e ela não está interessada na cura das doenças, e sim em atenuar os sintomas e manter os doentes dependentes de seus produtos, por isso, os experimentos com terapias genéticas avançam lentamente, pois eles são voltados para a CURA!  Na nanoengenharia celular, por exemplo, existem projetos belos de criação de nanobots celulares para exterminar células cancerosas do corpo sem causar danos ao paciente, mas a indústria do câncer quer continuar faturando seus trilhões de dólares ao ano vendendo quimioterápicos e outras drogas. Ou seja, o investimento que poderia acelerar essas pesquisas viria da iniciativa privada, mas ela quer a doença, pois doença gera lucro.

02) - Alguns estudiosos acreditam e até propõe uma abordagem do corpo humano como um hardware que está ficando obsoleto. Qual a sua opinião sobre isso?

É uma visão muito afinada com o mercantilismo hipercapitalista, a ideia de um corpo como hardware em processo de obsolescência. O futurólogo e engenheiro norte americano Ray Kurzweil é um dos signatários mais notórios dessa teoria, e espera migrar para um novo corpo hipertecnológico dentro dos próximos 25 anos. A controversa artista norte americana Natasha Vita-More até criou uma obra conceitual chamada "Primo Posthuman", na qual propõe a compra de um novo corpo para transferirmo-nos para ele, o novo corpo hipertecnológico nos é apresentado na obra como se fosse um novo modelo de carro, com todas as vantagens extras em relação ao anterior e com "acessórios" que podem ser acoplados a ele caso você tenha dinheiro para incrementá-lo. Outro artista de respaldo global, o grego Stelarc, tem como base de seu ideário o aforismo "O corpo humano está obsoleto", e toda a sua obra é construída através de possibilidades de expansão fisiológica e cognitiva do corpo. Stelarc ganhou um dos prêmios mais importantes de arte tecnologia do mundo, o "Ars Electrônica" (2010 - Áustria), com sua provocativa obra "The Third Ear", na qual implantou em seu braço esquerdo uma terceira orelha, desenvolvida pela empresa de biotecnologia australiana Symbiotica. Essa objetificação do corpo parte do princípio de que já o conhecemos completamente, de que já dominamos sua complexidade e que podemos abandoná-lo por algo superior a ele. É uma falácia, o nosso conhecimento real sobre o corpo ainda é muito limitado. Como explicar casos de pessoas que perdem quase a metade da massa encefálica e algum tempo depois voltam a realizar quase que plenamente todas as suas atividades, inclusive mantendo todas as suas lembranças? Como explicar o fato de transplantados que começam a desenvolver comportamentos idênticos ao de doadores de órgãos que nunca conheceram? E algumas pesquisas recentes que mostram que o coração realmente tem funções de ordem emocional e afetiva? Todos os dias vemos pesquisas inovadoras em múltiplas áreas da medicina e psicologia, mostrando aspectos novos e inimagináveis relacionados ao nosso corpo. Ele ainda é uma fronteira a ser desvendada, ele não é utilizado em sua plenitude de possibilidades, então como posso declarar que algo é obsoleto se ainda desconheço suas possibilidades completas? Por outro lado, a ideia de amplificação do corpo, essa sim, me parece extremamente instigante, e ela já está em curso desde o surgimento do que chamamos de cultura. Desde os primórdios estamos criando "extensões", como tão bem esclareceu o saudoso teórico da comunicação canadense Marshall McLuhan. Um exemplo recente é o armazenamento de informações em bancos de dados de acessibilidade remota através de computação ubíqua (como celulares, tablets, notebooks), ele já está reconfigurando o cérebro, pois essa nova extensão permite com que a nossa memória não necessite mais armazenar certos dados ao nosso alcance com um toque no google. A inclusão de chips conectados a células já é uma realidade. Em experimentos recentes homens cegos e sem globos oculares já estão conseguindo enxergar, e seus olhos em breve poderão vir com ampliados zooms, acoplamentos positivos que expandem possibilidades e podem até nos ajudar no futuro a desvendar os mistérios de nossos corpos maravilhosos e ainda tão desconhecidos. 


Ray Kurzweil 
Foto: Huffington Post.

Orelha no braço de Stelarc
Foto: N. Sellars
03) - Pesquisando sobre o tema, li um artigo seu bastante interessante sobre a relação entre ciberarte e o pós-humano. Pode comentar essa abordagem, ou seja, como a arte de certa forma influencia e prevê esse futuro?

Existem perspectivas pós-humanas na ciberarte, artistas como eu interessados em refletir poeticamente sobre esse tema e seus desdobramentos. A arte, infelizmente, ainda tem um papel considerado quase supérfluo no contexto de uma cultura pragmática e monetarista. Em países como o Brasil é uma área que conta com parcos recursos de pesquisa, e para os artistas de nosso país não é fácil trabalhar com tecnologias de ponta, mas nada nos impede de utilizarmos os meios que temos para criarmos obras ainda assim impactantes nesse contexto. Os artistas podem criar conexões improváveis e impossíveis entre campos inimagináveis, podem, por exemplo, unir física quântica com devastação do cerrado e folclore indígena. Existe um holismo natural na arte que não pode ser encontrado em outros campos do conhecimento, muito engessados. Por isso, parafraseando MacLuhan, os artistas muitas vezes conseguem “antecipar as consequências antes das causas”. Infelizmente certa burocratização e emburrecimento da arte contemporânea, tornou esse potencial holístico mais restrito. Mas é possível encontrarmos obras instigantes e antecipatórias, que se não previram, ao menos influenciaram o surgimento de múltiplas tecnologias. Sobre as hipertecnologias telemáticas, no topo da lista de artistas visionários está o já citado escritor de FC Phillip K.Dick, William Gibson também é muito lembrado. Na arte tecnologia recente destaco a obra controversa e emblemática do brasileiro radicado nos EUA Eduardo Kac. Seu trabalho mais polêmico foi “GFP Bunny”, no qual criou uma coelha híbrida incluindo o gene “GFP (green fluorecent protein)” de uma alga marinha na sequência genética do animal, fazendo com que ele brilhe no escuro quando exposto à luz ultravioleta. A obra, do ano 2000, recebeu críticas veementes em grandes jornais do mundo todo, mas apenas 2 anos depois uma empresa de Taiwan, a “Taikong Corporation” (http://www.tkfish.com.tw/en/about) colocou no mercado peixes ornamentais que brilhavam no escuro utilizando o mesmo gene GFP. No caso da Taikong os peixes são patenteados e estéreis, e não vi nenhuma controvérsia instaurada, ou mobilização contra seus “produtos”. Assim como existe a Allerca, empresa de biotecnologia dos EUA que cria PETS transgênicos para comercialização, como o “Ashera Cat”, híbrido de gato e leopardo. A obra de Kac antecipou essas quimeras e mostrou como o patenteamento da vida é encarado como algo muito mais aceitável do que a criação poética. Eu também tenho criado trabalhos em múltiplas mídias e suportes inspirados na relação entre aceleração tecnológica e algo que chamo de tecnognose, para isso tenho um universo ficcional transmídia chamado de “Aurora Pós-humana”, nele realizo um deslocamento conceitual situando o planeta Terra 300 anos no futuro, amplificando avanços tecnológicos, mas objetivando refletir sobre o agora. Nessa minha FC, imaginei um futuro em que a transferência da consciência humana para chips de computador seja algo possível e cotidiano, quando milhares de pessoas abandonaram seus corpos orgânicos por novas interfaces robóticas. Imaginei também que neste futuro hipotético a bioengenharia tenha avançado tanto que permite a hibridização genética entre humanos, animais e vegetais, gerando infinitas possibilidades de mixagem antropomórfica, seres que em suas características físicas remetem-nos imediatamente às quimeras mitológicas. Nesse contexto ficcional as duas "espécies pós-humanas” tornaram-se culturas antagônicas e hegemônicas disputando o poder em cidades-estado ao redor do globo, enquanto uma pequena parcela da população - uma casta oprimida e em vias de extinção -, insiste em preservar as características humanas, resistindo às mudanças. No contexto desse universo ficcional, desde o ano 2000, tenho desenvolvido obras diversas como histórias em quadrinhos, HQtrônicas, web arte, ilustração, game arte, vídeo arte, videoclipes, animações, instalações interativas, música e performances cíbridas com minha banda Posthuman Tantra. Um dos trabalhos recentes foi o álbum em quadrinhos “BioCyberDrama Saga”, parceria com Mozart Couto, lançado pela Editora UFG. A obra que discute sobre as escolhas de um jovem em um futuro hipertecnológico, concorreu ao HQmix 2014, o “oscar” dos quadrinhos brasileiros e teve a sua primeira edição esgotada. O papel da ciberarte, mais do que prever o futuro, é colocar-nos diante de questões perturbadoras sobre o nosso presente.

Capa de BiocyberDrama Saga. Arte Mozart Couto, Roteiro Edgar Franco
04) - Áreas como Biologia, Neurociência e Biomecatrônica têm estudos interessantes sobre como os avanços recentes podem mudar nossos corpos no futuro próximo. Vários deles se relacionam com a cura de alguma doença ou acessibilidade, mas você acredita que, no futuro, uma pessoa poderá trocar seus membros de forma voluntária para ter um “braço melhor”, memória expandida ou algo do tipo?

Claro que sim. Mas o motivo principal que levará isso a acontecer muito em breve não é um desejo real de expandir o potencial do corpo e da mente, é um desejo escuso baseado na competição. Toda a nossa cultura é extremamente competitiva e as pessoas concordam com qualquer coisa para tornarem-se mais competitivas e “vitoriosas”. Veja, por exemplo, os esportes profissionais têm como suporte um discurso de que “promovem a saúde e a harmonia”, pura falácia midiática, são arenas de hipercompetição acirrada. Todos os dias vemos atletas se disporem a tomar substâncias desconhecidas e ainda experimentais para melhorarem seu desempenho. Inúmeros atletas olímpicos já foram pegos em exames de dopping, e muitos morreram jovens em consequência das sequelas causadas pelas substâncias ilícitas. Ou seja, concordaram em colocar suas vidas em risco para ganharem de seus adversários. Então essas modificações corporais estão muito próximas. Inclusive já entramos na era das olimpíadas pós-humanas. Em 2012 o corredor paraplégico sul africano Oscar Pistorius ganhou na justiça o direito de correr entre os atletas normais nas olimpíadas, já que tinha alcançado a marca necessária. O fato é que Pistorius usava próteses de titânio de alta tecnologia para correr e, em um exame detalhado feito pela Universidade de Colônia na Alemanha, suas próteses lhe davam a vantagem de 25% de menos gasto de energia durante as provas, o que seria uma vantagem tecnológica para o atleta. Mas mesmo com esse laudo provando sua vantagem ele conseguiu o direito de correr no maior evento esportivo global, inaugurando o que podemos chamar de “Olimpíadas pós-humanas”. Uma hipótese muito plausível é a de que outros atletas buscando melhores marcas se submetam a cirurgias de amputação para a inserção de próteses de melhor desempenho. E essa corrida competitiva pela vitória não se restringe aos esportes, permeia o cerne de toda sociedade.

05) - Existem algumas comunidades que divulgam e facilitam o acesso a sensores para que as pessoas implantem tags NFC, chips de temperatura e outros nos corpos. Podemos dizer que esse seria o começo de uma mudança pós-humana ou ela estaria mais ligada à quantidade de eletrônicos que usamos todos os dias e já viraram praticamente extensões dos nossos corpos?

Em 1985 a bióloga feminista estadunidense Donna Haraway escreveu seu notório “Manifesto Ciborgue”, no qual destacava a ciborguização da civilização ocidental a partir de suas novas relações com as tecnologias. Penso que mesmo antes da penetração iminente de dispositivos tecnológicos em nosso corpo - a evidente conexão biotecnológica entre chip seco e célula úmida - já somos seres transumanos. Criamos uma dependência grande de nossos dispositivos comunicacionais, utilizamos drogas químicas legais para expandir nosso potencial, como o viagra e o cialis. O aparelho celular tornou-se uma prótese quase onipresente, eu sou um dos poucos que ainda resisto a ele. Além disso, os celulares têm modificado a ideia de realidade, fazendo com que coexista a conhecida realidade ordinária, com uma realidade virtualizada. 

06) - Em vários dos seus projetos, você aborda o pós-humanismo de maneira crítica e já comentou em entrevistas que busca estar em contato com sua essência cósmica. Pode comentar um pouco da filosofia por trás do Ciberpajé?

O conceito de “pós-humanismo” é motivo de controvérsias, existem muitas definições possíveis. Particularmente gosto da ideia de pós-humanismo como um momento de transcendência em que o humano deixará sua prepotência secular de lado, deixará de sentir-se como a criatura mais importante do planeta, o “ser eleito” para dominar e destruir as outras espécies vivas, animais e vegetais. O meu pós-humanismo é uma utopia clara de reconexão do humano com a natureza e o cosmos, um entendimento não mais em voga de que somos parte da natureza e nossa existência só é possível a partir de uma simbiose com todos os outros seres vivos que formam Gaia. Gosto da visão do biólogo inglês James Lovelock, essa visão simbiótica das espécies, que se contrapõe em certa medida à ideia de um “gene egoísta” de outro biólogo inglês, Richard Dawkins. Como humano, sou um ser em evolução, na busca pela transcendência, pela reconexão com minha essência cósmica. A mistura estranha de um menino cheio de pureza e admiração diante da vida, com um Lobo Selvagem ancestral que já enfrentou milênios de tempestade, dor, e lambeu suas feridas até torná-las belas cicatrizes de batalha. Um ser nascido no umbigo do mundo, o Cerrado Brasileiro, área primeva mais antiga do planeta, onde a vida primeiro floresceu. Desde o início dessa minha nova jornada no Século XXI escolhi a arte como minha forma de magia e transmutação da realidade, e as narrativas visuais são meus rituais de mutação e transubstanciação, a arte é uma ferramenta para minha autocura. Para respaldar minha existência material nessa jornada foi necessário escolher um caminho pragmático que permitisse a continuidade de meus rituais artísticos de transmutação e escolhi a chamada “carreira acadêmica”, tornando-me um pesquisador e professor das artes visuais. Em 2011 declarei-me Ciberpajé, esse é o meu novo nome de ser renascido, um título auto declarado. Eu criei o processo ritualístico de transmutação que me tornou Ciberpajé durante uma profunda crise existencial que vivi no ano de 2011. Ela foi deflagrada inicialmente por uma impactante experiência com o enteógeno Psilocybe Cubensis que causou uma revisão de muitos dos valores pessoais que ainda regiam minha vida naquele momento. A crise levou-me à ampliação da minha percepção. As máscaras do mundo esfacelaram-se diante de mim e vi tudo muito claramente, com uma limpidez absoluta. Toda a imundície em sua forma mais obtusa e ao mesmo tempo toda a infinita beleza de nossa espécie. Percebi não existir nenhum paradoxo entre esses extremos. A dicotomia do mundo, os maniqueísmos da cultura, os dogmatismos, que já eram por mim repudiados, tornaram-se percepções abjetas, mas que também são minhas constituintes como a imagem holográfica de minha espécie e do cosmos que sou. Vislumbrei o infinito da existência e criei o ritual de transmutação desenvolvido em 10 passos, e 10 chaves. 10 dias de meditação e criação artística em que defini os valores que me guiariam a partir do meu renascimento. O décimo dia foi meu aniversário de 40 anos de idade nessa existência, e fechei o ritual gravando em único take a música ‘Ciberpajé’, minha declaração de ser renascido. O Ciberpajé não é um guru, ou criador de seita, a única cura que procuro é a minha cura. A busca dessa cura que consiste na completa aceitação do que sou, na conquista de minha integralidade. Sou um artista magista criador de mundos ficcionais que utiliza essas criações para a modificação de minha realidade. Sou o Ciberpajé.


Edgar Franco é o Ciberpajé, artista transmídia, pós-doutor em arte e tecnociência pela UnB, doutor em artes pela USP, mestre em multimeios pela Unicamp. Atualmente é professor permanente no Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da FAV-UFG – Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. http://ciberpaje.blogspot.com.br/

Print do site ComCiência

Confira a matéria escrita por Tiago Alcântara e publicada na ComCiência: AQUI

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O Ciberpajé Edgar Franco no "Festival de Angoulême".

Essa foi a arte de capa da publicação "Top!Top!" # 25, dedicada à obra do Ciberpajé Edgar Franco e editada pela Marca de Fantasia. 


Arte do Ciberpajé Edgar Franco
A edição foi selecionada para concorrer ao prêmio de publicações independentes do "Festival de Angoulême", na França, em 2010. A notícia foi destaque na época em veículos importantes da área:


no Blog dos Quadrinhos, de Paulo Ramos
No site Bigorna.net especializado em quadrinhos e cultura geek


No blog da Michelle Ramos do Canal Zine Brasil
O "Festival de Angoulême" é um dos maiores festivais da área de quadrinhos do mundo que esse ano premiou um brasileiro, Marcello Quintanilha. A revista TOP! TOP! # 25 dedicada à obra de Edgar Franco pode ser adquirida no LINK.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Atuação do Ciberpajé na área dos Quadrinhos é tema de matéria no Jornal Diário da Manhã, confira!

Na comemoração do Dia do Quadrinho Nacional, além de participar na rádio CBN de Goiânia, a arte do Ciberpajé e sua atuação na área de quadrinhos também foi notícia no Jornal Diário da Manhã.

Captura de tela do Jornal Diário da Manhã

Na matéria intitulada "UFG é referência no estudo das Histórias em Quadrinhos como expressão artística: O artista e professor Edgar Franco, da Faculdade de Artes Visuais, tem atraído alunos" escrita por Tatiana Barbosa, publicada dia 29 de janeiro, o quadrinho nacional, as criações e os estudos desenvolvidos na Universidade Federal de Goiás capitaneados por Edgar Franco foram abordados no texto:

"Dia 30 de janeiro é comemorado o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos. Graças ao trabalho do professor e pesquisador Edgar Franco, a Universidade Federal de Goiás (UFG) é referencia nacional quando se trata de estudos das Histórias em Quadrinhos como expressão artística. Um dos principais objetivos do pesquisador é acabar com a ideia de que quadrinhos são coisa de criança.
Sua pesquisa é voltada para os quadrinhos autorais, pois utilizam HQ`s como linguagem para expressão artística, o que difere dos comerciais que visam suprir as demandas do mercado de entretenimento. Outro tema de pesquisa de Edgar Franco e de seus orientandos é o chamado de poético-filosófico. Trata-se de um gênero de quadrinhos genuinamente brasileiro.  “Eu defendo os quadrinhos como uma genuína e poderosa forma narrativa de expressão artística”, explica.
HQtrônicas: do suporte papel à rede Internet
Desde 1996, o professor investiga sobre o assunto, o que desenvolveu para uma pesquisa pioneira no mundo. Tantos anos de dedicação resultaram em um livro “HQtrônicas: do suporte papel à rede Internet”, que é referência nacional tanto para pesquisa de trabalhos de conclusão de curso quanto para doutorado.
Em seu livro, Franco criou o termo ‘HQtrônicas’ para se referir aos quadrinhos que possuem novos elementos como sons, trechos animados e narrativa multilinear. Em parceria com Danielle Barros (Fiocruz/RJ), criou também o neologismo ‘HQforismo’ que denomina uma nova forma narrativa que une elementos dos quadrinhos às sentenças aforísticas.
Troféu HQmix 2014
Edgar Franco foi único goiano indicado ao Troféu HQmix 2014, “Oscar dos Quadrinhos”, com a obra BioCyberDrama Saga, publicado pela Editora UFG, em 2013. Conforme o pesquisador, nunca uma editora de universidade federal havia publicado uma história em quadrinhos nesse formato.
Num universo ficcional transmídia, criado por Franco, a história apresenta cerca de cem personagens e discute as interações do humano com as novas tecnologias. Além disso, discorre  sobre as futuras possibilidades da biotecnologia, robótica e nanotecnologia. O álbum inclui também 50 páginas de introdução sobre os 13 anos de pesquisa que resultaram na criação da obra."
A reportagem foi veiculada no jornal impresso e na versão on line do Diário da Manhã e você pode acessar AQUI.