Mais uma obra magnífica de exposição absurdista! A condição humana, tão aleatória mas sempre atrelada à natureza, consegue ao mesmo tempo louvar e abnegar sua existência bem como o meio que a concebeu - numa trajetória tipicamente Camusiana de se representar. O Ciberpajé trabalha isso com tanta maestria, meus amigos. Existe um louvar à vida sempre permanente em suas produções, mas ao mesmo tempo uma dúvida existencial, que assombra e busca permanecer ali como um fantasma à espreita (tal qual é nossa condição de seres conscientes de si, tão errantes e intermitentes nas crenças e percepções).
Tal dúvida não é apenas uma condição natural pertinente à nossa condição de existir de compreensão limitada, mas uma "não-forma" de permitir a criação no vácuo daquilo que desconhecemos, de modo que, na sua arte, o Ciberpajé bebe dessa arte naturalista e xamânica. Atento ainda à etimologia deste termo (e título ou consagração) "xamã", do manchu-tungus, sendo "aquele que enxerga no escuro", ou seja, enxergar no escuro remete sempre àquele que vê o que os outros não vêem. No entanto, esta visão pode ser qualquer coisa, desde uma fenomenologia dos sentidos até uma mitologia construída pela linguagem, esta fruto da consciência decodificadora humana. Enfim, não importa, pois o que reside é a mensagem e o efeito e é disto que se trata a transformação e a dimensão para os acontecimentos futuros.
*Gabriel Pinheiro é escritor, ensaísta e educador.
Ouça VULVALÁXIA, parceria do Ciberpajé com o pioneiro do cybergrind S.M.E.S., clicando na capa do EP abaixo:
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