Renovaceno, nova obra do Ciberpajé (Edgar Franco), é o primeiro álbum de HQ publicado pela editora Merda na Mão, nova iniciativa underground que tem como lema "publicando os impublicáveis". A mensagem de apresentação é escrita pelo Ciberpajé, e temos ainda um prefácio de Octávio Aragão e posfácios escritos por Danielle Barros e Gazy Andraus. Ao todo o álbum possui 68 páginas divididas em introito e três tomos. Renovaceno é uma obra que deve ser experienciada com tempo e concentração, confesso que li, reli, reli novamente e percebi novas mensagens, simbolismos e provocações. Renovaceno traz em si riqueza estética, narrativa e simbólica expressa através da ficção científica.
Conta com histórias que fruem no universo Ciberpajeano, não há como dissociar o autor de sua criação poética. O traço tão característico do artista é mais do que sua identidade visual, é a expressão do pós-futuro no presente. O contexto que circunda Renovaceno o torna tão especial e necessário, o cenário atual devido à crise pandêmica remete a uma total desesperança, a renovação é primordial, mas a transmutação é interna.
Sua história Transbinários é um mergulho nas formas e no caos, o ser abandona sua casca, dissolve seu ego, a terra o absorve e o transforma, há conexões que nunca mais nos deixam ser os mesmos. Enquanto reconhecemos os gestos, as expressões, faces e pessoa, nosso olhar se perde no caos, percebemos mais rostos, mais círculos, mais formas e relações. O caótico equilíbrio harmônico é de extrema beleza e nos tira do conforto. A mensagem binária conflui a sistematização em seu cerne com a fluidez orgânica da história e os requadros lineares não conseguem mais limitar a expressividade das formas.
Seus 3 tomos: transbiológicos; transdigitais e transcendentes tratam de temas como a solidão, a existência, a perpetuação, a esperança e a fé. Em todas as histórias percebe-se algo em comum: a paixão em criar quadrinhos, cada requadro, cada detalhe, demonstra a pulsão criativa, o carinho de se trabalhar em narrativas, sem moldes, sem tradicionalismos e, mesmo assim, as mensagens passadas soam tão contemporâneas que fruindo a obra eu me sentia dentro desse universo. Inserida nas perturbações e incertezas dos seres, suas falas são como minhas falas.
Renovaceno soa como uma sirene contínua que não nos deixa anestesiar nos tempos sombrios que estamos afundados, escancarando nossas inquietações. Renovaceno é experienciação, fruição e transformação!
*Rachel Cosme Silva dos Santos é quadrinhista, bacharel em artes visuais e mestranda em arte e cultura visual da UFG
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