segunda-feira, 15 de agosto de 2022

[Resenha] Álbum em quadrinhos LICANARQUIA: olhares latentes que adentram a alma e as entranhas com força descomunal! Por Raquel Alves de Freitas Nunes

Fazer resenhas quadrinhísticas é pra mim ainda um grande desafio. Inicio essa experiência com o intuito de romper essa barreira. Confesso que foi algo surpreendente, proporcionado pela análise do álbum em quadrinhos Licanarquia, com roteiro de Ciberpajé e arte de Toninho Lima, uma edição da Atomic Editora que teve financiamento coletivo pelo Catarse. Busquei entender um pouco do universo ficcional da "Aurora Pós-Humana" que engendra a obra e do mito do lobisomem. 

No livro percebe-se que o lobo e suas expressões se confundem com instintos humanísticos. Um  contexto fantasioso e futurístico onde a hegemonia é desfeita e abre-se espaço para a heterogênese através da evolução tecnológica das espécies. Aqui , natureza, humanos e outros seres cósmicos se unem em resposta à necessidade de transformação constante. 

Todo em preto e branco, as imagens que poderiam ser abstratas, se concretizam a partir da interpretação de onde a narrativa pode de fato nos conduzir. Enxergar as sombras e as mazelas. Revelar as futuras possibilidades. Os 04 capítulos intitulados com os seguintes temas:  a fome, a sede, o medo e o tudo, formam uma sequência instigante de necessidades e sensações. Luzes e sombras se apresentam aqui em perfeita simetria. Preferi aqui separar a descrição desses capítulos para melhor entendimento:

A FOME:  Neste capítulo percebe-se a procura pelo que alimenta a sua alma. Os olhos perseguem um cenário fantástico compostos por troncos secos, retorcidos, cactos e muita aridez. Tudo em preto em branco reforçando ainda mais o nosso poder de concentração nos detalhes dessa disputa pela sobrevivência das espécies. O lobo e o lobisomen  aqui buscam  sua presa de forma voraz. Começa aqui um desafio entre essas espécies.

A SEDE: É a realização dos seus instintos humanísticos. É a disputa pelo poder  mediante a conquista do objeto de  desejo e ao encontrá-la, protegê-la  dos perigos mundanos. Desperta-se aqui o aspecto mais humano através da bravura e da generosidade impulsionada pela amorosidade contemplativa.

O MEDO : O medo pode paralisar? Pode! Mas  também pode revelar a nobreza de espírito. A vontade de se transformar. Transfigurar. A tecnogenética como peça fundamental nesse processo. A ficção como aliada exponencial da transmutação do ser humano. Ser homem?Ser bicho?Tornar-se fera! O imaginário sai do ficcional e acaba sendo real. Rompe barreiras. Conceitos. Preceitos. Respeita a liberdade por parte de quem teme sua presença.

TUDO: O uivo da fera se apresenta aqui em sua máxima expressividade. O alcance do topo. Dono de mundo. Do universo. Do cosmos. O renascimento acontece a partir da libertação dessas espécies. A metamorfose da expansão da consciência é consolidada através de uma sequência de olhares latentes que adentram a alma e as entranhas  com força descomunal composta por uma belíssima e fascinante narrativa visual. 

Raquel Alves de Freitas Nunes - É apaixonada por arte e cultura e ativista cultural em Goiânia 

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