por IV Sacerdotisa Danielle Barros *
É sempre desafiador mergulhar na arte de
Edgar Franco e é impossível fazê-lo sem me perder (embora não faça nenhum
esforço de fincar meus pés no chão). A Artlectos e Pós-Humanos 8 é um número
especial. O 8 é associado ao símbolo do infinito, representa movimento,
renovação, energia cíclica, simbiose. E é bem isso que vemos em toda edição que
traz a proposta de parcerias e métodos inusitados, com pessoas queridas, e com
criaturas e seres não-humanos!
Essa capacidade incomum de se reinventar em suas expressões artísticas é
que faz com que a revista continue viva por todos esses anos, e seu criador
sempre nos surpreende.
Fui uma das convidadas a participar deste número, e em breve publicarei um texto com minhas impressões sobre como foi participar desta edição tão especial!
Fui uma das convidadas a participar deste número, e em breve publicarei um texto com minhas impressões sobre como foi participar desta edição tão especial!
SEIVA (Edgar Franco, Jorge Del Bianco e Gazy Andraus)
Uma HQ que exala amizade fraterna. Criação entre
grandes amigos e artistas: Ciberpajé, Gazy Andraus e Jorge Del Bianco! O
processo criativo foi muito interessante, uma espécie de transe criativo em que,
em apenas 2 horas, os amigos geraram uma história em conjunto: Franco desenhou
e escreveu a primeira página; na sequência, a segunda página foi feita por Del
Bianco; Gazy Andraus fez a terceira e Franco fechou a HQ com arte e texto da
página final.
Embora cada um dos artistas tenha um traço e estilo próprio
de escrita, a HQ teve um fio condutor coeso e fluido. O argumento traz o dilema
existencial do vazio, da culpa, e da busca de si. O nada como o fim e o começo.
A desintegração para o renascimento do verdadeiro eu, o desejo seminal de tornar-se
quem se é a despeito de toda formatação cultural, expectativas sociais,
determinismos e amarras. Ser Flor de dentro para fora, vivenciar o desejo
primal.
Ciberpajé, Jorge Del Bianco e Gazy Andraus na oca do Ciberpajé no dia do processo conjunto da HQ Seiva da Artlectos e Pós-Humanos 8
HQ (E) ternura (de Edgar Franco e
Moravecchio)
Foto da apresentação do Ciberpajé sobre o processo criativo de (E) ternura durante Seminário acadêmico na UFG, Goiânia (junho/2012)
Foto Danielle Barros
Uma HQ com o processo incrível de criação, ela foi desenhada de forma conjunta COM UM ROBÔ (da série Draw Droids 2.0 desenvolvido por Flávio Oliveira).
O robô de nome "Moravecchio" desenhou (através de sensores de luz) os primeiros traços dos desenhos e Edgar Franco finalizou a arte! Franco apresentou trabalho sobre o processo criativo desta HQ no VII Seminário Nacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais (FAV/UFG) em Goiânia, no GT de Narrativas Visuais e pode ser conferida neste LINK.
A HQ traz a mensagem simples e complexa de que um gesto de ternura pode ressoar eternamente.
Um conhecimento ancestral que tem em seu bojo a
mensagem de que, mesmo nas incertezas que a vida traz em sua imanência, quem
cultiva sementes do bem colhe flores e ternura, que floresce no tempo devido
nas raízes da alma.
Vale a pena conferir!
Vale a pena conferir!
Gnosce Te Ipsum” (Edgar Franco e Elydio Santos Neto)
A edição 8 é dedicada ao irmão Elydio dos
Santos Neto, um grande amigo que transmigrou recentemente e com quem Franco fez
parceria de criação espontânea de uma HQ. Prof.Elydio selecionou os
desenhos/arte de Edgar Franco e escreveu um roteiro poético.
Com o título “Gnosce Te Ipsum” a história
já começa trazendo à tona o dilema existencial vivenciado por um ser (num
“agora futuro”) que paradoxalmente acredita que cada nova tecnologia implantada
estaria “libertando-o” do “mundo natural” – um mundo colocado em xeque quando
se questiona “o que é um mundo natural?”.
Porém, o que se apreende é que mesmo em um
universo biotecnológico tão distinto do que vivemos agora, (2014, planeta
Terra), o drama vivenciado é bastante atual, pois reflete a busca pelo “Eu Sou/
Quem Sou?” que, na perspectiva da Aurora Pós-humana traz implicações.
Ao não saber-se quem é, e, portanto, não
ser protagonista de si, o Ser torna-se alienável e manipulável pelas culturas
antagônicas desse universo, mas se pensarmos em nossos dias atuais, poderíamos traçar
paralelo com os indivíduos que fogem de sua busca essencial e de enfrentar a si
mesmo, se tornando alvos fáceis e massa de manobra de cultos religiosos,
partidos políticos, indústria, publicidade, mídias hegemônicas, entre outros.
Ao dar conta e questionar-se “Todos me
querem! O que eu quero? Quem eu sou?” soa como um despertar retumbante,
doloroso, mas essencial, irretornável.
A HQ demonstra que o Ser pode ser capaz
de lidar com inúmeras situações, pessoas, tecnologias, mas quando diante de si,
da batalha de ser, na luta entre o coração e o ego – se vê na contradição de
seus paradoxos, e muitas vezes na falta de fé em si mesmo.
A fêmea aparece como memórias, histórias e
musas que forjaram a persona que somos hoje. A fêmea criadora, mas também pandórica,
uterinizante, maternal, venenosa, visceral. A porta da transcendência. A luz e
o nigredo. A meretriz, dona da sabedoria humana, Pós-Humana, sagrada e sexual.
E a partir dela, seu oposto complementar,
ele consegue descobrir o caminho do autoconhecimento e permite emergir em si
seu verdadeiro eu. Ancestral. Serenidade, equilíbrio, o xamã pós-Humano. Salve
Elydio!!!
Emocionante! Ainda mais quando vejo essas
fotos de momentos tão ímpares, de pura “criação e vida”!
Ciberpajé e Elydio Santos Neto na oca do Ciberpajé em Goiânia, durante processo criativo da HQ "Gnosce Te Ipsum"
Foto Rose Franco
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Sim, a arte nos torna eternos, mas não a
crença ingênua de acreditarmos que nossos bits e papéis ficarão eternos, ou que
nossos desenhos e poesias serão lidos daqui a algumas décadas, não é isso.
A obra de arte eterniza seu criador dentro daqueles
que são tocados por ela, pois é através da arte que conhecemos o criador
desnudado. E é por isso que prof. Elydio e Edgar Franco estarão eternos e vivos
dentro de mim, pois através da arte deles pude conhecer uma fração da essência
de cada um, e conhecer a mim mesma. Essa arte me emocionou, me fez e faz viva,
essa arte e seres eternos que habitam em mim.
* poetisa,
desenhista e fanzineira, Doutoranda em Ensino de Biociências e Saúde
(IOC-FIOCRUZ) (bolsista CAPES/Plano Brasil sem Miséria) e Mestre em Ciências
(ICICT/FIOCRUZ). Bióloga formada em Licenciatura Plena na Universidade do
Estado da Bahia (UNEB).
Peça a sua Artlectos e Pós-Humanos 8 no site http://www.marcadefantasia.com/revistas/artlectos/artlectos-08/artlectos-08.html
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