POSTHUMAN TANTRA -
Transhuman Baphomet’s Cult: Um convite à reconexão com seus instintos, e à quebra dos automatismos impostos pela cultura ocidental
Por Fausto Ramos*
Vivemos em uma cultura essencialmente visual. Vivemos no Império do representativo - onde a forma tem mais valor do que a essência. Romper com este padrão é um ato de rebeldia e subversão. É justamente neste movimento que identifico a obra musical de Ciberpajé (Edgar Franco) e de seu Posthuman Tantra. A maior parte da produção musical contemporânea é regida por regras visuais - a partitura, os movimentos do maestro, as harmonias matematicamente calculadas. São músicas feitas para serem lidas ao invés de escutadas. Para subverter esta estrutura é necessário buscar recursos de linguagem musical que remontam a um período muito anterior ao domínio da visão e da razão. O single Transhuman Baphomet’s Cult, do Posthuman Tantra, parece beber de gêneros musicais como o Noize, o Avant-Garde e o Ambient, ainda que transcenda a todas as convenções destes rótulos. Esta faixa vai se construindo, crescendo, abrindo caminho para uma atmosfera que sintetiza o universo da Aurora Pós-Humana: cibernético, com os sons do sintetizador; orgânico, com os vocais guturais; e por último, espiritual, com os padrões rítmicos e hipnóticos.
É inclusive bem subversivo, pois parece deliberadamente desrespeitar as regras de harmonia melódica, transpondo os limites da musicalidade matematicamente convencionada. A música nos conduz novamente à roda em torno da fogueira indígena, onde um pajé conduz ritos ao som de tambores e ecos vocais. Este resgate cultural a um tempo onde profundas mensagens e ensinamentos eram transmitidos por meio da música e da dança, surte efeito implacável em toda e qualquer pessoa que se disponha a escutar a música com sincera atenção e disposição. Pois seus elementos de composição - a batida rítmica e hipnótica, os efeitos distorcidos com o sintetizador, os vocais guturais - evocam forças imanentes em nossa psiquê. Conecta-se diretamente com arquétipos arraigados em nosso inconsciente, puxando nutrientes do solo de nossos afetos e eletrificando a mensagem da música. E que mensagem a música transmite? Não com esta música em singular, mas por meio de toda sua obra artística, o Ciberpajé convida as pessoas a se reconectarem com seus instintos, quebrando com os automatismos impostos pela cultura ocidental. Esta proposta de ruptura de convenções se apresenta em Transhuman Baphomet’s Cult dentro da subversão de seu formato e apresentação.
*Fausto Ramos é artista multimídia, magista e mentor do canal Caosofia
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