terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

[Resenha] Fantástico e profundo é o novo EP “Hino ao Nada que Fui e Serei" do Ciberpajé, por Fredé CF

Fredé CF com a capa do EP ao fundo

Com uma capa impactante e uma sonzeira feita por músicos admiráveis que são parceiros também de outras produções potentes do projeto deste artista transmídia criador de mundos, o EP "Hino ao Nada que Fui e Serei" - ouça-o aqui - convida a uma viagem por tempos e espaços transdimensionais. 

Groove, psicodelia, força, transformação e, sobretudo, consciência cósmica da importância da subjetividade de cada um no universo, bem como da ínfima relevância disso, desfacelando o ego humano que insiste em elevar futilidades ao nível do fundamental. 

Os aforismos existencialistas e libertadores me tocam reflexões sobre a importância de se reconectar com o animal único e essencial que reside em nós mesmos e promove um soco no estômago do narcisismo recorrente e excludente no mundo atual. 

O EP, dividido em três atos magickos intitulados “I- A Fotossíntese Degoladora”, II- O Martelo do Esquecimento” e “III- A Morte Caudalosa”, é como uma opereta progressiva que me remete muito a certas ambientações, riffs e timbragens pinkfloydianas, como no início do ato III, por exemplo. 

Ouvindo com fones em estéreo e de olhos fechados, como proposto, me gerou imagens distópicas de um mundo apagado pela ganância e pelo poder ilusórios. Um mundo que ressurge em uma alvorada de renovação, como que sacudindo e lançando pra fora os parasitas que o definhavam para seguir sua transformação. Uma ode ao planeta.

Os conceitos humanos de tempo e espaço são questionados e escancarados quanto a sua ilusão ao ouvir o EP. A fugacidade dos instantes projetada ao infinito do cosmos que reside interiormente em cada um dos seres é exaltada. Espaços e tempos desfragmentados pelo caos que insistimos em ordenar de maneira egóica. Lá, aqui, tudo, nada, passado, futuro. A obra, ambientada no universo da Aurora Pós-Humana, trata de maneira projetada poeticamente, sobre determinações que temos de apego e desejo no sistema neoliberal que nos rege. Tal condição padronizante por vezes nos alheia do que realmente existe: o agora a ser vivido como um presente que logo se esvai. 

A resistência reside talvez em sair da ilha pra ver a ilha, como diria Saramago. Sair dos próprios dogmas e certezas pra ver a beleza cósmica de ser quem se é, exaltando a dúvida e se abraçando no que se é/está. Uma incursão visceral nas nuances e complexidades das zonas cinzas que transcendem o binarismo anti cósmico recorrente. 

Parabéns e muito obrigado aos artistas por esse presente!


*Fredé CF é artista transmídia, doutor em Arte e Cultura Visual pela UFG e criador do universo ficcional MekHanTropia. Integra o Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER (FAV/UFG)

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