Está no ar o vídeo oficial "The Strange Sadomasochist Hermaphrodite Droid", confira neste link, da faixa de mesmo nome do álbum musical "CyBorgasmOrgy" do POSTHUMAN WORM. Este é o segundo videoclipe oficial do álbum dirigido e criado pelo lendário artista transmídia Amante da Heresia (aka Léo Pimentel), doutor em artes pela UFG e criador iconoclasta de universos ficcionais e obras transmidiáticas que já realizou múltiplas parcerias com o Ciberpajé (aka Edgar Franco) e desta vez ele divide a direção e criação com a artista multimídia Orphiria Dulcifferis (aka Maiara Martins), mestranda em artes pela UnB. O vídeo D.I.Y. foi criado com influências que vão de Cronenberg, passando por Shinya Tsukamoto e chegando a Petter Baiestorf. Nas palavras de Orphiria:
Espaço criado para divulgação da obra do artista transmídia Edgar Franco, o Ciberpajé.
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
[Lançamento - assista agora!] "The Strange Sadomasochist Hermaphrodite Droid": novo videoclipe do POSTHUMAN WORM tem criação e direção de Amante da Heresia e Orphiria Dulcifferis
"A critura tenta dizer, fisicamente, o que significa existir em um estado pós-humano, onde o corpo, agora representado por uma lesma sadomasoquista, feita de miolo de pão, tinta vermelha e Eno, se funde à tecnologia. Neste cenário, as funções erógenas não são apenas corrompidas, mas eliminadas ou recriadas artificialmente, tornando-se uma transformação não apenas física, mas também conceitual, dissolvem-se as barreiras definidas para que emerja o entre (dor e prazer/orgânico e inorgânico). O que antes era carne torna-se matéria híbrida, onde a interação entre o desejo e o sofrimento é intensificada pela estética grotesca, remetendo a Cronenberg, Junji Ito e Giger, criando uma paisagem de horror e erotismo. Aqui, o "corpo" — ou o que resta dele — não é um simples receptáculo de prazer ou dor, mas uma entidade em constante mutação, reconfigurada por forças (maquínicas?) externas. A lesma pós-humana, em sua jornada de prazer extremo e tortura, é moldada pelo "algozítmo" ou algoz algoritmo ou ritmo algoz que (des)acompanha o som pós-humano de "The Strange Sadomasochist Hermaphrodite Droid" música do POSTHUMAN WORM, de Ciberpajé. Uma lesma-minhoca sadomasoquista tenta se fundir, transar e, principalmente, se cindir com crueldade e prazer ao inorgânico desejando a aniquilação de todas as vontades para torna-se a um só tempo tortura e desejo num ciclo de interminável prazer e dor."
Além da música, o Ciberpajé colaborou com um pequeno trecho animado que aparece no início do vídeo. Depois de 19 anos o POSTHUMAN WORM retorna com um novo álbum tão impactante e singular como o seu primeiro, trazendo "contos sonoros" de ficção científica ambientados no universo ficcional da Aurora Pós-Humana e tratando do erotismo de criaturas pós-humanas na busca da transcendência.
A faixa musical que inspirou a criação do vídeo integra o álbum "CybOrgasmOrgy" do POSTHUMAN WORM, um lançamento da gravadora "Terceiro Mundo Chaos Discos", de Curitiba, Brasil. Ouça-o na íntegra neste link. Adquira o CD do álbum neste link.
terça-feira, 22 de outubro de 2024
[resenha criativa] flUctUArE in kOsmOs – vislumbres do livro Aforismos do Ciberpajé, por Amante da Heresia
FLUCTUARE IN KOSMOS
– VISLUMBRES DO LIVRO AFORISMOS DO CIBERPAJÉ –
AmAntE da hErEsiA* – lÉo pIMENTEl (130 pix3ls – sOUl tO)
primavera, cerrado, 2024
para pensar sobre um texto é de extrema importância o tipo de leitura que se faz. essa relação é crucial. caso contrário, tudo o que se lê não passa de uma mesmidade informacional. ler deve ser um permanente colocar-se em experimento. já que aquilo que será lido, é a realidade virtual em que, quem escreve, se coloca a viver. nesse tipo de experienciar-se há, a um só tempo, o vislumbre dessa RV escrita e seu chocar-se com a RV leitura. colocar-se a ler, é seguir para dentro de uma colisão de galáxias. um movimento de choque profundo e intenso, onde dali, jamais se poderá sair a mesma pessoa que lê. não acontecendo esse choque, é o império do mesmo que ali se reitera.
pois bem, o experimento de leitura e, consequentemente, o modo que me coloquei a pensar sobre o que li, em “Aforismos do Ciberpajé”, seguiu duas coordenadas experimentais para acesso e colisão com tal realidade virtual ciberpajeana: a primeira foi, “tendo o escrito, a forma de aforismos, como seria se minha leitura também fosse aforismática?”; e a segunda coordenada, foi “como ter, em imagens, o sentido do todo cósmico a partir de tantos fragmentos moleculares?”. em outras palavras: ler fractalmente construindo cosmos imageticamente. para tal aventura errante, nomeei minhas reflexões aqui de “fluctuare in kosmos”. “fluctuare” do latim, que significa “agitar”, “ondular” no “kosmos”, do grego, que é “ordenar”, “harmonizar” diferentes contextos.
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capitulo i
aqui não há atalhos de sentido. muito menos há encurtamentos da linguagem. há sim uma profunda intimidade entre estranhos. como aquele princípio biológico evolutivo, cuja dinâmica entre estranhos, é a condição básica da sobrevivência. indivíduos não relacionados que mostram que é a cooperação, e não a competição, que melhor propiciam a seleção natural. desde esse poderoso princípio evolutivo, os estranhos “lobo” e “ciberpajé” passam a se relacionar intimamente. ora ciberpajé coleta o néctar do lobo. ora o lobo vem viver entre os tentáculos do ciberpajé. ora é a simbiogenia que os une. ora o ciberpajé se associa ao lobo, para ambos, conseguirem melhor absorver os nutrientes vitais do cosmos. ora o lobo se aproxima do ciberpajé para lhe comer seus carrapatos e parasitas, para que sua transmutação se realize na mais alta potência magikca.
curiosamente dá para ver uma espécie de “atmosfera microlobuna” no corpo pós-humano ciberpajeano. bactérias, fungos e vírus licantrópicos que se desprendem no ar e permanecem em torno dele. isso lhe propicia uma certa assinatura microlicantrópica viva. um corpo de fera cuja pós-humanidade é se aproximar de ser um corpo cósmico composto, somente, de microlobos vivos. um tipo de lobisomem jamais visto até então. um tipo pós-espécie que acontece desde seus micro-organismos mais básicos. de sistema imunológico fortalecido e voraz contra toda mediocridade, e contra qualquer que seja a progressão geométrica da mesmisse. interessante notar que tudo isso se dá em flutuação. parece não haver terra, nem raízes, a não ser as aéreas. também não há arquitetura, muito menos urbanismo – seria alguma cicatriz? como na maioria dos desenhos do próprio ciberpajé: assim como em sua RV, tudo acontece no cosmos interior de cada uma de nós. onde temos asas poderosíssimas, biomecânicas, em que, a medida em que a batemos, o cosmos, organicamente, se expande com seus movimentos. ou melhor, onde temos patas, peludas, fortes e com garras afiadas, cibergeneticamente transmutadas, em que, a medida que corremos por sobre nossos abismos interiores, o cosmos se expande dentro da singularidade de cada uma de nossas pegadas.
capítulo ii
se anteriormente a intimidade era entre os estranhos, lobo e ciberpajé, que se complementam em flutuação e pegadas cósmicas, aqui, a intimidade se dá entre os familiares, em nome do pai, do filho e da mãe, numa geografia mineiro-goiana. aqui o pós-animal é outro. está ora aterrado, ora deixando vestígios de sua passagem. é uma espécie de tardígrado de tamanho família de papo reto e franco. ou melhor, essa relação terrosa não seria mais bem descrita como a grande família franco-tardígrado? pois, pelos aforismos, desta segunda ponta, que é esse capítulo do referido livro-tridente, há uma extrema resiliência expressa amorosamente. as condições são as mais extremas, letais para organismos fracos, não francos. amor filial que resiste à radiação extrema que degenera a própria temporalidade de suas vidas. amor filial que resiste às temperaturas baixíssimas, onde uma recente necropolítica nos conduziu ao quase zero absoluto, e ao ódio cujas temperaturas altíssimas nos fritava acima dos 150ºC. filiação resistente a pressões, milhares de vezes maior que a atmosfera, de parentes que pensavam estar fazendo o melhor. por fim, o amor dessa intimidade familiar ajuda a sobreviverem no vácuo do espaço criado por idiotas que insistem em ter esse vazio como casa.
e como será o ciberbajé no espaço exterior de sua amada grande família franco-tardígrado? ele nos dá pistas de como, em individuação, se parece com uma medusa imortal. nos dá pistas de sua capacidade de reverter seu ciclo de vida. de como, em sua maturidade, volta a ser menino, jovem e logo mostra-se como ancião. vive indefinidamente, já que o agora é seu todo presente e presença. assim torna-se, poeticamente, imortal. mesmo estando vulnerável à predação mesquinha dos burocratas de plantão. mesmo estando vulnerável a outras ameaças ambientais que podem matá-lo, como a economia criativa e o deserto do mundo hiperconectado. ciberpajé nos brinda com a alegria de que um outro caos é possível. um maravilhoso caos de matizes cinza pós-caos preto no branco.
capítulo iii
e formando o tridente, esta ponta é a mais afiada. é a da intimidade com o dissenso. em seu amor para com a humanidade, que podemos nomear como pós-humanismo, ciberpajé traça suas rotas e expõe suas estratégias contra o humano, demasiadamente humano, que se coloca contra si e contra todas as outras formas de vida. isso inclui seu próprio planeta. para seu mais íntimo bem viver, a humanidade tem que se deixar morrer enquanto tal, para florescer como pós-impacto-devastador que és. tornar-se pós-algo para além de sua expansão por meio da agricultura, urbanização e mineração. tornar-se pós-poluição; pós-mudanças-climáticas; pós-espécie invasora; pós-caça-e-pesca; pós-superpredador. ser vírus de si mesmo. vírus-humano, pós-humano. patógeno de si para sua própria boa saúde. todo bem viver propiciado pelo contágio de um si-mesmo inspirador, e não pela auto-aniquilação já em curso. aqui nenhum evangélio a trazer. por suas palavras nenhum convencimento a fazer. apenas ser insPiração informacional. antítese iconoclasta da nossa coletividade atual. desta onde há um toró de mensagens, em que nelas, raríssimas vezes, há alguma informações. eis seu dissenso: estamos demasiados ocupados com nossas mesmidades. abrimos mão da informação em prol do mero envio de banalidades.
num mundo cínico do realismo político, ao menos uma pessoa deve sonhar. como no filme “corrida silenciosa” de 1972. ciberpajé não é um herói, muito menos é um anti-herói. é ambos e nenhum ao mesmo tempo. é erros, tropeços, fagilidades. é acertos, pisadas firmes, elegantes e antifragilidade. é carne, osso e virtualidade. virtude de todas as possibilidades. todas! e não uma! mas única. autêntica. combatente pelo si-mesmo livre de todas as demais. fractal, pleno. aforismo-ser, ente-tratado. frio como uma lâmina, quente como um tridente. sofrência, sorridente de caninos à mostra. distopia autorreflexiva, paraUtópico. ciberpajé, nunca foi e jamais será. ciberpajé, é.
adenddum
xxxforismo(s) – des|a|hq: se quiseres. desde teu céu noturno, desenha-te, com traços de luz, e faça-te carta celestial própria. seus objetos astronômicos são os micro-organismos que compõem seu corpo. sua matéria tem infinitos tons de cinza. use seus próprios dedos para desenhar esses astrorgânicos sobre sua própria lama. para tal, esqueça o que fazes diante das telas. importa-te com o que deixas de fazer enquanto estás diante delas.
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FRANCO, Edgar. Os Aforismos do Ciberpajé. São Paulo: Editora Sinete, 2024.
Adquira seu exemplar neste link.
Resenha originalmente publicada no blog AMANTE DA HERESIA, neste link.
*Amante da Heresia (aka Léo Pimentel Souto) é zineasta, muzinista, doutor e pós-doutor em Arte e Cultura Visual pela UFG.
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