SOBRE O EVENTO
Bem, para quem não sabe, o 1º Encontro Lady’s
Comics: Transgredindo a representação feminina nos quadrinhos” é o primeiro
evento do Brasil sobre o tema mulheres e quadrinhos e por isso, já é histórico.
A realização deste evento tão bem organizado,
realizado no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte (MG), em 25 de Outubro
de 2014. Fruto de muita dedicação da equipe da comissão organizadora do
Lady´s Comics, viabilizado pelo financiamento coletivo do projeto no Catarse.
Centro Universitário UNA recebe o I Lady´s Comics |
Auditório sempre cheio durante as apresentações do evento |
O evento surgiu de uma antiga demanda e desejo de um espaço para que as
questões referentes aos complexo (s) e múltiplo (s) universo (s) do feminino
nos quadrinhos (isso inclui a subjetividade de suas quadrinistas, roteiristas,
ilustradoras, etc.) pudesse ter um espaço privilegiado para discussões
pertinentes sobre as temáticas que interessam às mulheres nesse louco e
fascinante mundo das HQs!
Mesa “Mídias transgressoras contra mercados uniformes”. |
Além disso, aconteceu uma programação paralela
permanente, com espaços para interação, como “Intervenção:
Você protagonista da sua história” onde os/as participantes poderiam gravar um
relato em vídeo sobre uma situação ou experiência engraçada como leitor ou
quadrinhista (os vídeos serão editados e postados posteriormente no youtube); a
“Exposição” um varal em que as pessoas poderiam criar e pendurar suas obras,
cartuns, tirinhas, ilustrações, frases, etc.; e “Roteirizando” onde cada pessoa
poderia escrever percepções e impressões sobre o evento, sugestões, poemas, ou
qualquer manifestação-registro para compor a memória deste dia.
Intervenção "Você Protagonista de sua História" |
Exposição de desenhos de participantes |
Espaço "Roteirizando" |
Nas “Mesas e vendinhas andantes”, era possível adquirir produtos como
HQs, zines, bottons, livros, imãs, etc... diretamente de seus autores
(independentes) e de editoras.
Mesa de exposição de fanzines e quadrinhos durante o Lady´s Comics: Sibilante, Fêmea Cósmica, Uivo com Aforismos do Ciberpajé, Coletânea de Resenhas sobre Sibilante, QICO 1 e 2, entre outras |
O evento contou com convidadas e
convidados, grandes feras como: Afonso Andrade, Ana Luiza Khoeler, Anna Mancini, Beatriz
Lopes, Bianca Pinheiro, Chiquinha, Cynthia Bonacossa, Gabriela Borges, Gabriela
Masso, Lu Cafaggi, Lucas Ed., Natânia Nogueira, Ricardo
Tokumoto (Ryot), Sirlanney e Thaïs Gualberto.
Minha “Ladys Comic Experience”!
Cheguei pouco depois da hora do almoço, infelizmente perdi as mesas e
palestras na parte da manhã, estava vindo de uma sequência de viagens de
congressos, Rio de Janeiro, João Pessoa, Vitória e então Belo Horizonte!
Mas estar neste primeiro encontro de mulheres quadrinistas, roteiristas,
ilustradoras, enfim, mulheres no mundo dos quadrinhos foi um esforço
recompensador!
Tive uma comunicação aceita para o painel de troca de experiências e
saberes. Minha proposta foi apresentar sobre minha trajetória nos quadrinhos e
fanzines, enfocando o processo criativo de Sibilante e outras obras.
Cátia Ana Baldoino, Danielle Barros e Heluiza Bragança na mesa para venda e exposição de publicações |
SOBRE O PAINEL
Havia imaginado que a apresentação seria em tom informal, em uma sala de
faculdade, tudo muito simples, mas qual não foi minha surpresa, quando vi que a
apresentação seria em um auditório lotado!
Mas tudo flui quando se fala de algo que se ama, a apresentação foi
tranquila, me diverti nela, e para mim teve um impacto profundo ver algumas
páginas de meus desenhos de Sibilante projetadas em uma tela tão grande, para
tantas pessoas! Foi uma honra estar falando da minha arte, inspirações,
conceitos, ideias, expondo um pouco meu universo feminino e criativo para
aqueles homens e mulheres!
Quando falei sobre ser Sacerdotisa durante a apresentação, pude perceber
alguns olhares surpresos e sobrancelhas suspensas, risos e muita curiosidade ao
final.
Depois de apresentar-me no painel, me surpreendi com a repercussão,
tinha levado 25 zines para dar de cortesia a todos que estivessem na suposta
“salinha de apresentação”, porém o público do auditório era grande, então
pensei em trocar , dar, vender alguns zines e todos esgotaram.
Foto Renegados Cast |
Depois da apresentação fui procurada por várias mulheres interessadas
pela mensagem, seja pela proposta do sagrado feminino, pela busca por transcendência
enquanto ser cósmico, ou pelos desenhos, fiquei tão feliz em ver o real
interesse das pessoas por Sibilante! Nas conversas, algumas me disseram terem
se sentido motivadas a fazer zines e realizar oficinas criativas com seus
alunos depois de ouvir minha apresentação. Foi muito gratificante, pois sempre
quis poder falar sobre o conceito de Sibilante, os meandros do processo
criativo, minhas inspirações criativas e neste evento as pessoas vinham me
perguntar com interesse.
Uma surpresa curiosa foi conhecer uma baiana de Itabuna-BA, minha terra
natal, Ticiane, ela mora em São Paulo e é parte de um movimento feminista. Ela
gostou do fanzine, comprou 2 e veio conversar comigo! Dei até autógrafos! Rs
Ticiane e IV Sacerdotisa |
Muitas pessoas ficaram curiosas e surpresas, como a Camila de
São Paulo, sobre como consegui incluir os zines e HQs de forma tão forte em
meus trabalhos e grupos de pesquisas, já que sou parte dos grupos
"Novas Tecnologias, Cultura e Práticas Interativas e Inovação em
Saúde", (Next-Fiocruz); "Criação e Ciberarte" (FAV/UFG)
coordenado pelo prof. Dr. Edgar Franco; e no Laboratório de Inovações em
Terapias, Ensino e Bioprodutos/LITEB (IOC/Fiocruz). Minha dica é: primeiro
crie, deixe aflorar sua arte, a verdade que emerge de você e sua essência,
aquilo que você quer dizer ao mundo, permita-se externar. Depois que a obra
estiver pronta, divulgue e tudo fluirá: pesquisas, carreira, realizações.
A sinceridade da arte genuína é
contagiante.
Interagindo com as mulheres leitoras e criadoras de quadrinhos no Lady´s Comics (Camila ao centro) |
TEMAS EM DEBATE
"Transgredindo a representação feminina nos quadrinhos” com Ana
Luiza Khoeler, Chiquinha, Cynthia Bonacossa, mediação de Mariamma Fonseca.
Embora não seja estudiosa e militante ativa dos movimentos feministas,
sei que não existe um único movimento e visão feminista, e sim que coexistem
diversas abordagens, mas todas baseada na luta em diversas áreas: política,
filosófica, social e cultural pelos direitos da mulher. Assim como é ingênuo
dizer que existe um “universo feminino” unívoco e homogêneo sem considerar as
complexidades e diversidade de cada ser, seria inocência afirmar que existe
apenas um modo de posicionar-se em prol das mulheres. No Lady´s Comics, a
discussão embora contextualizada no âmbito dos quadrinhos, extrapola esse
limite, uma vez que a arte se mistura com o mundo e a vida.
Durante a Mesa Transgredindo a representação feminina nos quadrinhos |
Foi enriquecedor ouvir opiniões das artistas, autoras e pesquisadoras
sobre o tema, conhecer a diversidade de universos e de publicações. Algumas
das reflexões que emergiram em mim durante esse debate e que foram destacadas
por algumas convidadas foi em relação à liberdade de criação em relação às
temáticas abordadas por mulheres, que não deve se limitar as questões de
gênero: “Não é apenas por ser mulher que vou querer fazer obras feministas,
posso criar arte independente de minha condição de gênero, ou dos estereótipos
feministas, uma arte amalgamada a mim, visceral. A inspiração flui de minha
essência cósmica e depois me debruço sobre sua criação” - pensei. Obviamente
a arte está inserida em uma dada cultura e ela pode e DEVE ser politizada, mas
que esse fator não seja limitante no ato criativo, que deve ser sempre livre.
Se por um lado, o feminino sempre esteve representado sob uma visão
machista e naturalizada em que a mulher é concebida como um objeto, como uma
mulher do lar, ou uma mera realizadora de desejos sexuais masculinos, por
outro, esse movimento pela luta pelos direitos da mulher vai muito além de
votar, trabalhar em boas condições e salários igualitários, de participar
ativamente da vida pública, entre outras conquistas. Contempla também estar
devidamente representada nas diversas formas de arte, seja na TV, filmes ou
quadrinhos, livre dos estereótipos de “Amélia”. Porém, como procuro não ser
presa a “dogmas”, fiquei viajando em meus devaneios e conclui que SAI DO DEBATE COM MAIS PERGUNTAS DO QUE RESPOSTAS! O que prova a qualidade da discussão, aquela que não traz
respostas e sim nos instigar a pensar!
ESSE DEBATE PROVOCOU-ME MUITOS QUESTIONAMENTOS, COMPARTILHO COM VOCÊS:
ü Se ao analisar obras constatamos que a representação
feminina nas HQs tem viés machista dominante (inseridas em uma dada cultura e
contexto histórico), será que a busca em “transgredir” essa representação como
uma reação diametralmente oposta, não seria repetir a imposição de uma verdade
dominante de uma cultura (só que desta vez) feminista, nesta época
contemporânea?
ü Se por um lado, ao analisar minha obra perceber
preconceitos, machismos, e outras características e traços que possam estar
arraigados em mim, impostos através da cultura ao longo da minha vida em
virtude das ideologias dominantes de uma época (como a visão patriarcal); por
outro lado, será que ao censurar-me e me rebelar-me criando algo “em resposta”
ao machismo, baseada em uma nova ordem feminista, não estaria eu mais uma vez
atuando “acorrentada” a estes movimentos culturais vigentes? É possível criar livre
dessas influências?
ü Será que não estaríamos pautando nossa criação a partir de
uma “resposta” ao machismo? Será que a produção feminina deveria privilegiar
necessariamente a abordagem sobre questões de gênero?
ü Não estaríamos nos apropriando do que há de negativo na
atuação da opressão do masculino sobre o feminino e agora atuando como tal? Em
outras palavras, em uma realidade tão complexa onde coexistem feminismos e
machismos e tantas outras coisas, querer sobrepor a visão feminista como mais “adequada”,
não seria repetir a atitude autoritária do machismo? - pensando na perspectiva
do educador Paulo Freire, - O oprimido atuando como opressor?
Essas são apenas indagações, longe de serem certezas, apresento-as aqui
somente como problematizações de uma questionadora mulher nos quadrinhos,
sempre aberta a ideias e discussões edificantes.
Foi uma honra participar deste, que acredito ser um encontro histórico,
o primeiro de muitos, representando a Aurora Pós Humana como IV Sacerdotisa,
expandindo nosso universo ficcional e ideário transcendente. Encontrei colegas,
estabeleci laços, divulguei minha arte, conheci gente interessante, aprendi com
as palestras, estou feliz!
Quem quiser conferir como foi minha apresentação no Painel Troca de
Experiências e Saberes, clique neste LINK
Abaixo algumas fotos de momentos especiais durante o evento, confiram!
Natânia Nogueira, Valéria Bari, eu e Cátia Baldoino - representando a ASPAS (Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial) |
Lu Cafaggi e IV Sacerdotisa |
Sempre protagonista da minha história! |
A jornalista Amanda Turano assiste à mesa e o fanzine Sibilante dela repousando na cadeira! |
Início da apresentação durante o Painel [1] |
Apresentando minha trajetória no mundo dos zines e HQs e a inserção destes na pesquisa de doutorado em Ensino de Biociências e Saúde na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) [2] |
Explanação sobre processo criativo de Sibilante durante o Painel [3] |
Finalização da apresentação durante o Painel [4] |
Trocando ideias e mostrando Sibilante a Chiquinha e Cyntia Bonacossa |
Com as artistas Chiquinha e Cyntia Bonacossa |
Interagindo com as meninas interessadas por Sibilante e outras obras |
Valéria Bari, Natânia Nogueira e IV Sacerdotisa |
Mesa com publicações nossas Sibilante, Fêmea Cósmica, Uivo com Aforismos do Ciberpajé, Coletânea de Resenhas sobre Sibilante, QICO 1 e 2, entre outras |
Fanzine Saideira e Maiz Zuma,, da Ely Sena; ilustração da Maíra Damásio e fanzine Manzanna da Anna Mancini |
Agradeço à comissão organizadora do Lady´s Comics, todas muito atenciosas, educadas e competentes, realizaram um belo evento, a estrutura do local excelente, a localização ótima, espero poder estar nos próximos, e estarei!
Texto de Danielle Barros - IV Sacerdotisa
Menina, isso sim é uma resenha porreta! Amei!!! O encontro foi realmente memorável e abre caminho para outras iniciativas nesse sentido.
ResponderExcluirNatania, é verdade, conto com esses novos caminhos e iniciativas! Podemos pensar em algo inclusive na ASPAS, algum fórum ou encontro sobre este tema. Beijos!
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