A parceria entre Ciberpajé e Gorium, mentor do Death Cult Devotion, já é conhecida e quando surge uma obra nova já fico muito instigada! O primeiro aforismo já começa trazendo a realidade, como um tapa em nossa cara. É algo que sempre notei, uma mania que humanos têm em pedir pela vinda de um "meteoro", por invocar apocalipses, como se não suportassem suas próprias vidas. Pois bem, o apocalipse chegou, e como dito no aforismo, agora não adianta súplicas. O que vivemos hoje é fruto da ganância humana, da devastação do planeta e das espécies. É consequência direta das políticas capitalistas, do consumismo exacerbado, da falta de solidariedade, do egoísmo, da opressão e da profunda desigualdade. Não há sistema que se sustente assim.
No segundo aforismo, mergulhamos no esgoto da política brasileira, na podridão do "myto" que intensificou para pior a experiência da pandemia no país. A representação do falso messias, o 666, o mal que ganhou o poder do Brasil, e as moscas sobrevoando toda podridão que vivemos, sobre os corpos dos mortos pela covid-necropolítica.
No último aforismo, o mergulho mais fundo, na sombra total (dá até uma tontura), traz um entendimento sóbrio de que nada é por acaso e que alguma lição deve-se tirar de tudo. A COVID é uma pandemia que veio avassalando todo o planeta, mas estamos nesse estado de anormalidade e doença há séculos. A realidade do planeta Terra com a humanidade degradando tudo é uma realidade insustentável.
Precisamos do novo, e para que o novo venha é preciso aceitar o fim. O EP termina magistralmente com o som da máquina (UTI) apitando esse fim. Uma obra necessária para refletirmos nosso papel no mundo, nossa responsabilidade no todo, pensarmos em como podemos nos transformar e resistir a essa tempestade e podridão, e assim testemunharmos e construirmos o surgimento de uma nova era. Parabéns aos criadores de COVID 666!
As artes do EP estão lindíssimas, simbólicas, com cores vivas e eloquentes. As ramificações presentes nas texturas das artes, representam perfeitamente que estamos todos conectados. Essa visão é fundamental, pois só superaremos o mal da humanidade, se a humanidade (individualmente falando) olhar para dentro de si com uma visão de unidade e não de separação. A selvageria do lobo, a lua negra e o código numérico que nomeia o EP são traços e sigilos ocultistas que compõe o conceito e a magia da obra.
*A IV Sacerdotisa da Aurora Pós-humana é Danielle Barros, arte-cientista, pesquisadora e professora doutora na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em Teixeira de Freitas.
Ouça o EP COVID-666, parceria do Ciberpajé com o Death Cult Devotion, clicando na arte de capa abaixo:
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