Para ser sincera, eu não sou nada fã de e-books, pois prefiro o livro físico. Mas ainda bem que comecei a ler essa obra em um dia de folga, porque simplesmente não consegui parar de lê-la! Fiquei literalmente assustada: quando leio algo biográfico fico procurando onde as ideias da pessoa batem com aquilo que acredito.
Ao ir conhecendo todas as ramificações do trabalho do Ciberpajé (a.k.a. Edgar Franco), comecei anotando algumas coisas que batiam para poder comentar (porque minha memória é péssima) mas logo parei. Era mais fácil anotar as ideias que não batiam com as minhas. E não anotei nada, daí o espanto! Claro que não é possível conhecer todas as dimensões de uma pessoa por meio de um livro, mas foi no mínimo interessante ver a sintonia dos pensamentos.
Também me espantei com o tamanho da rede de projetos artísticos do Ciberpajé que surgem espontaneamente, parece que ele tem uma ligação direta com a fonte universal de inspiração! Que trabalho rico e diversificado! Levarei anos para conhecê-lo todo, como se deve. Será preciso intercalá-lo com outros trabalhos artísticos, senão vira uma overdose! (risos).
Como amo mitologia, aqui vai uma impressão: senti que o conceito de “Selvagem” do Ciberpajé lembra muito Enkidu, da Suméria. A ligação dele com o que é natural, instintivo é de onde vem toda a sua força. Ainda nesse contexto mitológico, adorei a referência a Fenrir, afinal amo lobos e este pra mim é tudo de bom. A parte que trata dos conceitos envolvidos nos ensaios fotográficos da "Sereia e do Lobo" trouxe-me a exata imagem de como personifiquei a Sereia em um dos contos que escrevi, muito interessante perceber o mesmo significado, uma vez que este ser mitológico traz múltiplas facetas do feminino!
O sentido da única transformação possível do humano ser a individual é exatamente no que acredito! E meu trabalho é sobre isso, sempre. Transforma-se primeiro individualmente para depois isso refletir-se no coletivo. Outro ponto que achei interessante foi abordar a dificuldade de vivermos o "agora" e a importância que o instante presente tem para que estejamos despertos, conscientes das nossas ações e do nosso papel no mundo, este é outro dos meus temas preferidos!
Na parte em que o Ciberpajé trata sobre tatuar os seus desenhos foi muito sagaz sua resposta sobre a mutabilidade humana. Eu também jamais fiz uma tatuagem porque acredito que ou tenho espaço no corpo para todos os símbolos do universo ou para nenhum, já que em mim, a mutação é constante!
A parte biográfica que trata sobre a origem do Ciberpajé também é muito interessante. Gurdjieff escreveu sua biografia por meio do “Encontros com homens notáveis” e falar dos nossos pais, avós e antepassados revela muito do que nós somos. Além disso, deu para sentir o amor por eles emanando das palavras!
Para finalizar, falando em amor, que dedicação e amor tem a IV Sacerdotisa Danielle Barros pelo trabalho do Ciberpajé, ela é a coautora do livro e realizadora de todas as entrevistas! E que integração! Impressionante mesmo! Realmente existem pessoas capazes de trazer o melhor de nós, de sintetizar aquilo tudo que produzimos de uma forma coesa e organizada e nesta obra os dois conseguiram isso.
*Larissa Dias é Mitóloga e Psicoterapeuta em São Paulo.
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Edgar Franco & Danielle Barros
Paraíba: Marca de Fantasia, 2019. 275p.
ISBN 978-65-5053-014-3
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